quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Livros "O filho da mãe".


Brasilia, 13 de fevereiro de 2013.

Caros amigos Rogério e Waldemir,

O autor, Bernardo Carvalho, é novidade para mim:  nasceu no Rio de Janeiro em 1960, é escritor requintado, jornalista e tradutor.  Alguns livros de sua autoria:  Nove noites,  que recebeu o Prêmio Portugal Telecom;  Mongólia (prêmio Jabuti) e O sol se põe em São Paulo.  O texto de O Filho da Mãe (Editora Companhia das Letras, 2009, 199 páginas ) é trabalhoso e complexo, tendo como pano de fundo a segunda guerra da  Tchetchênia, em 2003.



 O foco é variado: o ponto central é a figura da mãe, no ambiente de guerra e orfandade (“As mães têm mais a ver com a guerra do que imaginam”);  tudo se passa em torno do acontecimento marcante da celebração do terceiro centenário de São Petersburgo -  epicentro  de toda a tragédia (mães culpadas, filhos extraviados, pais autoritários e tirânicos, pais ausentes. Em todo o contexto de desencontros e atritos, surge com força a figura exdrúxula e monstruosa da quimera, aberração rejeitada por todos, homem e natureza,  como uma exceção e um ente de mau agouro.  A trama se desenvolve amplamente, variando no tempo e no espaço  -  a ação se alternando do Oiapoque ao Nieva, ao mar do Japão, a região do Grózni,  com uma multiplicidade de vozes  e visões, muitas vezes exigindo do leitor forte poder de concentração:  “todos os personagens parecem, em alguma medida,  estar fora de lugar, em famílias e países alheios  -  daí a força que adquire, no contexto, a figura estranha da quimera”:  um animal que era dois sem ser nenhum, um potro no qual estavam misturados dois embriões, portador de mau agouro, pondo a reprodução num impasse, fazendo da reprodução uma monstruosidade.  O relato do autor -  “uma literatura inquieta e surpreendente  -  traz forte carga emocional ao tratar de”mulheres ocupadas em salvar os filhos, salvar o que lhes dava vida”.   O autor opera uma complexa construção narrativa.   “Não pode haver guerra sem mães. Mais do que ninguém, as mães têm horror a perder ...  Todo mundo tem mãe. Até o pior canalha, o pior carrasco.  Não deixa de ser uma espécie de fanatismo”.  A narrativa tem início e final com a descrição do reencontro, cerca de quarenta anos, das duas mulheres, Iúlia Stépanova e Marina Bóndareva, que foram colegas na escola,   num café da rua Rubinshtein, após se reverem no Comitê das Mães dos Soldados de São Petersburgol.  O reeencontro se dá em abril de 2003, véspera dos trezentos anos da cidade:  “Se quero salvar um rapaz que não é meu filho, deve ser para que alguém se lembre de mim.   A gente só entende quando começa a lutar pelos filhos dos outros”.

Abraço afetuoso,
Antonio A. Veloso.


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