Brasilia, 5 de dezembro de 2012.
Rogério e Waldemir,
Acabei de ler romance diferente daqueles que costumeiramente freqüento: “A culpa é das estrelas”, de John Green, Editora Intrínseca, 2012 , 286 páginas. Trata-se de texto irreverente, emocionante, sobre adolescentes, de autoria de um dos escritores norte-americanos mais festejados pelo público jovem. Lançado no inicio deste ano, foi sucesso de crítica e público (cerca de 150.000 exemplares vendidos no primeiro mês e superando 400.000 logo em seguida). A narrativa é ousada e atraente, com fina sensibilidade, amenizando o enredo à primeira vista deprimente, que envolve personagens jovens e com doença terminal: Hazel Grace, de dezesseis anos, com câncer de tireóide e ramificações pelo pulmão, obrigando-a a circular por toda parte com um cilindro de oxigênio; Augustus Waters, de dezessete anos, bonito e atlético, destacado jogador de basquete em sua escola, vitima de osteossarcoma e que teve uma perna amputada; Isaac, “um magrelo de olho comprido”, dezessete anos, com câncer ocular, teve um olho extraído ainda quando era pequeno e está em vias de ser novamente operado e ficar cego. Todos eles participavam, semanalmente, das reuniões do Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer e o autor do romance, com habilidade e inspiração, desenvolve uma narrativa delicada e atraente, com emoção mas sem deixar resvalar para a pieguice ou o sentimentalismo excessivo: a melancolia inicial vai aos poucos assumindo a forma de um gosto forte pela vida e o relato cresce em realçar o mistério da “alegria e da tragédia que é viver e amar”. Ironicamente, o autor fala dos “privilégios do câncer” - “pequenas coisas que as crianças com a doença recebem e as saudáveis não”. Alguns temas são enfrentados com ousadia e lucidez, alcançando momentos de extrema doçura e beleza. Exemplos: a) a descrição da primeira relação sexual de Azel e Augustus ,com o singelo constrangimento inicial de Azel ao descobrir que estava com as cores descombinadas da calcinha, rosa, com o sutiã, roxo; b) a sedução de Azel por tocar no cotoco da perna de Augustus(“Estou começando a achar que você tem um fetiche por amputados, retrucou Augustus, ainda me beijando”); c) os momentos deliciosos do pomposo jantar dos dois em Amsterdam, na Holanda, no restaurante Oranjee, tudo embalado com champagne (Dom Perignon: “venham depressa ! Estou bebendo estrelas”); d) a intensa aventura em torno do livro preferido de Azel, “Uma aflição imperial”, lido várias e seguidas vezes, e do estranho comportamento do seu autor recluso, Peter Van Houten, descontrolado e sempre bêbado. Em síntese, como assinala o The New York Times: “Um misto de melancolia, doçura, filosofia e diversão. Green nos mostra um amor verdadeiro ... muito mais romântico que qualquer pôr do sol à beira da praia.”