segunda-feira, 5 de junho de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
4º Encontro: 05/06/2006, 2.ª feira (16h12 às 17h57)
1. Após um profundo e consciente exercício de respiração, foram rezados o Pai Nosso e a Ave Maria.
2. Foi explicado que, na litrurgia, o Pai Nosso não se encerra com o amém logo após a expressão “mas livrai-nos do mal”. Acrescenta-se a isso: “vosso é o reino, o poder e a glória para sempre”, seguida do amém.
3. Foi dito ainda que o Pai Nosso ecumênico é colocado na segunda pessoa, mantida a forma “perdoai-nos aos nossas ofensas” e feito o acréscimo final indicado (“vosso é o reino, o poder e a glória para sempre, amém”).
4. O Prof. Paulo Ueti voltou a enfatizar que, na liturgia, o ofertório ocorre no momento da própria doxologia, quando se dá a oferta do próprio Cristo: é Ele que se oferece livremente para todos nós. O ofertório, após a consagração, está dentro do rito eucarístico.
5. Neste início de encontro, será visto o quarto pedido do Pai Nosso, que é o mais importante: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.
6. Por que é importante? É que a figura do pão como comida tem grande importância para todos nós. Na nossa vida, tem que ter pão, como meio para saciar a fome. Cerca de 80% da população do mundo passa pela situação de fome.
7. Toda religião tem a ver com a ordem do mundo, com o sentido de poder ajudar as pessoas a viver, ou seja, com comida e saúde do povo. O restante vem por acréscimo. Jesus usou o símbolo do pão, que alimenta fisicamente. Trata-se de comida de verdade, comida material, física. E isso é para ser dado hoje, e não amanhã (“o pão nosso de cada dia...”). É certo que não é somente a fome física, mas também a espiritual (“não só de pão vive o homem”). De toda maneira, é essencial saciar a nossa fome e das outras pessoas. Como, pois, colaboramos objetivamente para que as pessoas tenham comida, tenham possibilidade de viver? Como enfrentar a fome, fome real e objetiva? Como ajudar na solução do problema da gente pobre, necessitada, que precisa viver, saciar a fome?
8. O mundo não vive de abstrações. Jesus fez isso: curou a saúde das pessoas doentes, deu comida. Símbolo do Reino: banquete, com comida e bebidas. É preciso, pois, rever os nossos conceitos de saúde e de doença, sendo realistas e efetivos. Não podemos ser utópicos, imaginando que as pessoas sejam plenamente felizes ou plenamente infelizes. Está tudo ligado, embricado. É preciso colocar as coisas no contexto real e certo.
9. Só Deus é absoluto! Mais de 80% da prática médica não têm explicação estritamente científica. Nem tudo é tão absolutamente absoluto, certo ou errado. É preciso ver o contexto, avaliar, utilizar o bom senso. Na religião, é também fundamental usar o bom senso.
10. Anamnese: a expressão veio da saúde, significando fazer a memória da pessoa com quem se está lidando. Na religião, é relevante fazer as perguntas: quem é, de onde veio, como é a sua vida? É preciso perguntar pelo motivo das coisas; perceber a realidade das pessoas, qual é a fome das pessoas. É preciso relacionar-se com as pessoas e vê-las no contexto da sua efetiva realidade.
11. O quarto pedido do Pai Nosso, nessas condições, é a pergunta pela fome das pessoas, agora, hoje. Jesus não está preocupado diretamente com a religião, mas com a vida das pessoas. Jesus curou no sábado: não há dia para a doença e para o exercício da misericórdia.
12. A vida de Jesus tem a ver com o corpo das pessoas. Não cabe espiritualizar demais o quarto pedido do Pai Nosso: não se trata de hóstia ou outro simbolismo, mas de assegurar o pão material. Tem que dar o pão cotidiano, e dar para todos. Na última ceia, foi para Judas que Jesus deu o primeiro pedaço de pão. Não é só para os amigos, mas para todos, para todo o mundo.
13. Foi lembrado que Jesus, ao definir a missão, chamou os seus discípulos e os enviou para bem longe dele.
14. Houve, a propósito da vida de Jesus e de seus ensinamentos, ampla reflexão do Prof. Paulo Ueti e dos participantes sobre o importante diálogo entre Jesus e a mulher cananéia, conforme relatado por Mateus (15, 21-28):
“Jesus partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidônia. E eis que uma mulher cananéia, daquela região, veio gritando: “Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente endemoninhada”. Ele, porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se chegaram a ele e pediram-lhe: “Despede-a, porque vem gritando atrás de nós”. Jesus respondeu: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.”
Mas ela, aproximando-se prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: “Senhor, socorre-me!” Ele tornou a responder: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos.” Ela insistiu: “Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!” Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande é tua fé! Seja feito como queres! E a partir daquele momento sua filha ficou curada.”
15. Vê-se a profundidade do ora reproduzido diálogo: inicialmente, Jesus não se dispõe a dar o pão, ou seja, não se mobiliza para o apelo de atender à filha endemoninhada, sob o frio argumento: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Diante da insistência da mulher estrangeira, explica: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-los aos cachorrinhos”. A mulher não desiste e, corajosamente, insiste: é verdade, Jesus, mas você não tem controle sobre o pão a ser dado a todos, de modo que as migalhas sobram e os cachorrinhos comem os restos.
16. Observa-se que o jeito de Jesus atraiu a atenção da estrangeira: ela se prostrou diante de Jesus e fez o apelo. Os discípulos não colaboraram e , ao contrário, sugeriram que Jesus despedisse a mulher. O próprio Jesus se esquivou, como que querendo dizer que não veio para todos, mas apenas para o povo de Israel. Mais adiante, a ficha de Jesus caiu, pois a mulher revelou grande fé e estava pedindo pela saúde de sua filha (demônio é doença física e psíquica). A mulher, mesmo como estrangeira, estava querendo participar do processo de graça que Jesus estava propiciando. Por isso, a sua reação foi forte e muito tocante e Jesus reconheceu: “Mulher, grande é tua fé! Seja feito como queres!”
17. O Prof. Paulo Ueti assinalou que, na Igreja, somos diluídos e distorcidos, não oferecendo segurança psicológica e espiritual para as pessoas.
18. Voltando ao tema, enfatizou que o pão de que se trata é físico e relacional: é indispensável a convivência. Daí a beleza da interação que Jesus faz.
19. É importante indagar se o Pão Nosso de cada dia, que é também a eucaristia, ajuda a gente a sair de dentro de nós e conviver com os outros. É preciso nos movermos e nos comovermos com as pessoas.
20. Cada um de nós tem uma vocação diferente. O fundamental é ter em conta que o contato com as pessoas muda o nosso jeito e ensina a olhar diferente para as pessoas, para os pobres, para os necessitados. É preciso se envolver, diretamente ou apoiando quem dá conta de enfrentar o quadro de miséria e de necessidades do mundo. Isso ajuda a rever a nossa espiritualidade.
Intervalo: 17h17 às 17h36
21. Dando seguimento: “perdoai as nossas dívidas (ofensas), como nós perdoamos nossos devedores (quem nos ofendeu)”.
22. Perdoar: capacidade de exercer a misericórdia. O Pai Nosso assume que temos essa capacidade de perdoar, de exercer o perdão. Do jeito que perdoamos, pedimos a Deus que nos perdoe.
23. A pergunta é: “nós, de fato, aprendemos a perdoar?” O importante é saber que o perdão é via de mão dupla: primeiramente, o perdão é para mim; depois é que vai para o outro (o que está dentro sai para fora). Jesus: o que traz impureza, o que impurifica é o que sai de dentro.
24. A nossa capacidade de perdão (que reconcilia) existe? O perdão tem que ser explícito: tenho que pedir desculpa ou dizer que não fiquei satisfeito. O perdão é, assim, fundamental e problemático. Vai depender fortemente do processo de auto-conhecimento, que significa percorrer um caminho difícil e profundo, na busca de saber para onde estamos indo. O processo de reconciliação exigirá que eu examine por que fiquei chateado. Exercício de auto-conhecimento. Isso tudo precisa ser verbalizado. É preciso buscar a base da reconciliação. O perdão vai ser um caminho de mão dupla.
25. O problema somos nós: “como nós perdoamos os nossos devedores?” É falácia ou verdade? Eu tenho que dizer que perdôo, eu tenho que me mudar.
26. Encerrando o encontro, o Prof. Paulo Ueti recomendou a leitura de livro de autoria do monge beneditino, Anselm Grün, sobre os ritos da purificação, relacionados com a questão do perdão.
Brasília, 05/06/2006

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
3º Encontro: 29/05/2006, 2.ª feira (16h10 às 18h)
1. O encontro foi iniciado com a leitura do Salmo 131 (130):
“Javé, meu coração não se eleva,
nem meus olhos se alteiam;
não ando atrás de grandezas,
nem de maravilhas que me ultrapassam.
Não! Fiz calar e repousar meus desejos,
como criança desmamada no colo de sua mãe,
como criança desmamada estão em mim meus desejos.
Israel, põe tua esperança em Javé,
desde agora e para sempre.”
2. O Salmo 131 é o salmo da peregrinação, rezado nas romarias, na subida a Jerusalém. Mostra a necessidade de que cada um de nós seja como uma criança. É preciso assumir o espírito de criança que clama pelo Pai, à semelhança do que se faz na oração do Pai Nosso, oração comunitária, em que toda a humanidade se dirige ao Deus Pai.
3. O primeiro passo no nosso caminho espiritual é saber a quem se dirige o pedido. Quem é o Deus a quem estou me dirigindo? “Eu sou o Deus que te tirou do deserto, da escravidão do Egito”.
4. A oração do Pai Nosso mostra que não cabe privatizar Deus, aprisioná-lo, determinar as coisas em relação a Deus. É fundamental descobrir quem é Deus e saber que Deus é Pai, é de todos, mesmo daquele que não quer.
5. “Pai Nosso que estás nos céus”. Deus não está só aqui na terra, mas em todo lugar. Ninguém é capaz de dizer o que são realmente os céus. Quando se está zangado, bravo com o filho, por exemplo, a reação é chamá-lo pelo nome, de tal modo que a pessoa fica controlada, presta atenção em você. O judeu não chama o nome de Deus em vão: “Eu sou”. Jesus: “Eu sou salva”. Quando a gente é “eu sou salva”, está integrado, está controlado. Não se pode, pois, dizer o nome de Deus em vão, pois seria mentir para si mesmo.
6. Temos, assim, uma pergunta que é eterna para nós: “quem sou eu?” Jesus chama Deus de Pai, paizinho. Quer dizer: ternura, amor, proteção. Em aramaico, melhor seria dizer que Deus é mãe. Na nossa sociedade, pai é normalmente uma figura opressora. De qualquer forma, é preciso ter em conta que Deus é o Pai. O nosso Pai, o Pai de todos nós.
7. O primeiro pedido explicitado na oração do Pai Nosso é: “santificado seja o teu nome”. Deus é santo. A súplica é para que Ele seja glorificado (manifestado). Para que o nome de Deus seja manifesto, presente no mundo.
8. Como foi dito antes, o Pai Nosso é oração comunitária, não privada. O primeiro pedido tem a ver com “não dizer o santo nome de Deus em vão”. Ou seja: não colocar o nome de Deus naquilo que Ele não gosta. Não usar Deus, por exemplo, como instrumento de castigo. Por outras palavras, é não fazer de Deus o que Ele não é. Devemos ser mais fiéis à essência do que Deus é.
9. O pedido do Pai Nosso, pois, é para que o nome de Deus seja manifesto. O sentimento que caracteriza Deus é a misericórdia, o amor. Glorificá-lo é reconhecer essa condição. É preciso que a misericórdia de Deus seja manifestada.
10. Quem é responsável pela misericórdia de Deus? Nós, através do nosso testemunho. Temos que testemunhar o amor de Deus. Onde as pessoas encontram Deus? Onde são bem acolhidas. A questão central é, pois, a hospitalidade. Isso depende de nós, do nosso corpo, do nosso movimento, da nossa atitude.
11. O segundo pedido do Pai Nosso é: “venha a nós o teu Reino”. Pedido destinado a todos, para o mundo. Trata-se de novo mundo, nova ordem. Outro ponto fundamental: o teu Reino, o Reino de Deus – o Reino que é novo, que precisa ser ajudado a construir por nós. Isso tem a ver com o jeito de viver a sua vida: o Reino de Deus acontece quando a minha vida se parece com a vida de Jesus. Para isso, eu preciso conhecer Jesus. Fazer o encontro pessoal com Jesus, o que pode ser feito através da Bíblia, da Igreja, da comunidade. É preciso fazer o pedido para que o Reino venha todos os dias. E ele vem quando me disponho a fazer as coisas acontecerem. Deus quis assim: depender de nós para a construção do Reino.
12. É preciso não confundir o Reino com a salvação final. A nossa salvação começa aqui com o Reino, que precisa da nossa ação, precisa ser construído por nós. Recorde-se que no capítulo das bem-aventuranças é dito que o Reino está no meio de nós. No fim, vamos ter a plenitude da salvação, que depende de Deus.
13. O terceiro pedido do Pai Nosso diz: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Quanto à primeira parte, é difícil saber qual é a vontade de Deus. Eu preciso me comprometer com ela. Toda a oração do Pai Nosso desenvolve um compromisso comunitário.
14. Quem me ajuda a saber o que é certo, o que é a vontade de Deus? É a comunidade! Fazer tudo junto, em comunhão: esse é o caminho do discernimento. É preciso discernir.
15. O desejo de Deus sempre nos leva para o equilíbrio, que não é pacífico, é conflituoso. O equilíbrio dói, é difícil, não é tranqüilo. O deserto nos ajuda a manter o equilíbrio.
16. Foi lembrada a passagem da angústia de Jesus: “Pai, afasta de mim esse cálice, mas não seja feita a minha vontade e sim a tua vontade”. Escutar e fazer (obediência), mesmo que isso signifique perdas para nós. Foi também recordado o episódio do deserto com o diálogo entre Deus e Moisés: Deus manda Moisés falar com o Faraó e Moisés resiste, querendo a garantia de saber que tudo vai ser cumprido. E Deus responde a Moisés: “quando todos tiverem saído do Egito e estiverem fora, bem longe do Egito, vocês vão saber que eu estava do lado de vocês”. É preciso fazer para saber. O caminho é contruído no dia-a-dia, nas ações e atitudes:
“Caminheiro, você sabe: não existe caminho; passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz”.
17. A tarefa é árdua. É cansativo. É preciso refletir, avaliar. É conflitivo. Isso se chama método, caminho. É preciso aprender com o método.
18. Fazer a vontade de Deus exige de nós perguntar, ouvir, saber qual é a vontade de Deus. É preciso viver a crise e discernir.
19. O Prof. Paulo Ueti assinalou, para os fins de evangelização, que falta na Igreja a prática do Ministério da Escuta. Escutar com fé, com liberdade, o que as pessoas têm a dizer para nós.
Intervalo: 17h15 às 17h35
20. Continuando a reflexão sobre o terceiro pedido do Pai Nosso, foram desenvolvidos alguns comentários sobre a parte final: “assim na terra, como no céu.” Está por trás o fato de que o Reino de Deus, que está no céu, precisa acontecer aqui na terra. O jeito que a gente vive aqui na terra precisa ser cada vez mais parecido com o jeito do céu. A terra tem que ser igual ao céu: o céu se incorpora à terra.
21. O céu começa aqui, entre nós, conforme diz Anselm Grün. A glória de Deus começa no céu e se espalha na terra. As coisas se misturam. Na descrição do Apocalipse, o céu e a terra se juntaram. Está tudo junto. A terra tem que ser espelho do céu. Quando acontecer a plenitude em tudo, a fé não será mais necessária. Até lá, a fé é essencial. Por enquanto, precisamos da fé e da militância.
22. O céu é o lugar onde Deus habita. Deus se encarnou. A imagem que eu tenho é que Deus quer a minha participação para viver na terra um pedaço do céu, tornando o céu uma realidade.
23. Diferentemente de generosidade, que é um gesto isolado, a caridade exige que a pessoa se envolva, se comprometa. Precisamos ser cada vez mais caridade, que exige comprometimento e conversão. Nós fazemos muitas vezes coisas erradas. É preciso encontrar caminhos coletivos.
24. Na vida eclesial, a busca dos caminhos é mais difícil, mais tormentosa do que em nossa casa. São vividas crises e mais crises, difíceis de administrar. Nós não conseguimos ser irmãos, fraternos.
25. A vontade de Deus precisa encher a terra, ser objetiva, voltada para o dia-a-dia. Tudo isso exige freqüentar o deserto e encontrar Deus, ver os nossos limites, as nossas fraquezas. É preciso chegar até o deserto, lugar onde nos dispomos a silenciar e encontrar Deus. É preciso fazer o encontro e ouvir. Chegar ao discernimento.
26. O Prof. Paulo Ueti referiu-se à passagem em que Elias foge para o deserto para pedir ajuda a Deus e se esconde em uma gruta. A cada tormenta – furacão, terremoto, fogo – Elias aparecia e procurava Deus e Ele não estava ali. Passou uma leve brisa e Elias não percebeu que ali estava Deus. (1 Reis, 19).
27. O ponto focal de tudo é que temos um problema com a imagem que se tem de Deus. Onde encontramos Deus ou onde não o encontramos? É só lembrar a parábola das virgens para perceber que não se pode dormir. Lerdeza no Reino de Deus não funciona. O Reino de Deus é daqueles que estão antenados, ligados, vigilantes. É preciso velar, vigiar, estar sempre atento. Não deixar as oportunidades passarem. Em síntese: estar atentos para as oportunidades e fazer o nome de Deus estar presente.
Brasília, 29/05/2006.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso” 1º Encontro

Curso: Estudo do “Pai-Nosso” 1º Encontro

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)

Notas Avulsas


1º Encontro: 08/05/2006, 2ª feira (16h17 às 18h)

1. O Prof. Paulo Ueti manifestou o desejo de começar o curso rezando, o que foi feito com a participação de todos na leitura do Salmo 27 (26):

“Javé é minha luz e minha salvação: de quem terei medo?
Javé é a fortaleza de minha vida: frente a quem tremerei?
Quando os malfeitores avançam contra mim para devorar minha carne, são eles, meus adversários e meus inimigos, que tropeçam e caem.
Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não temerá;
Ainda que uma guerra estoure contra mim, mesmo assim estarei confiante.
Uma coisa peço a Javé, a coisa que procuro: é habitar na casa de Javé todos os dias de minha vida, para gozar a doçura de Javé e meditar no seu templo. Pois ele me oculta na sua cabana no dia da infelicidade; ele me esconde no segredo de sua tenda, e me eleva sobre uma rocha.
Agora minha cabeça se ergue sobre os inimigos que me cercam; sacrificarei em sua tenda sacrifícios de aclamação.
Cantarei, tocarei em honra de Javé!
Ouve, Javé, meu grito de apelo, e tem piedade de mim, e responde-me!
Meu coração diz a teu respeito: “Procura sua face!”
É tua face, Javé, que eu procuro, não me escondas a tua face.
Não afastes teu servo com ira, tu és o meu socorro!
Não me deixes, não me abandones, meu Deus salvador!
Meu pai e minha mãe me abandonaram, mas Javé me acolhe!
Ensina-me o teu caminho, Javé!
Guia-me por vereda plana por causa daqueles que me espreitam;
Não me entregues à vontade dos meus adversários, pois contra mim se levantaram falsas testemunhas, respirando violência.
Eu creio que verei a bondade de Javé na terra dos vivos.
Espera em Javé, sê firme!
Fortalece teu coração e espera em Javé!”


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2. O Salmo 27 é texto tipicamente pascal e nos transmite o ensinamento de que Deus é a nossa luz, a nossa salvação. Não devemos ter medo de ninguém e de nada. “Não tenhais medo!” Não é para ter medo e nem colocar medo em ninguém: o Senhor é a rocha, o Senhor é a salvação, o Senhor é o abrigo, o Senhor é a fortaleza, o Senhor é a luz. São Paulo: “Nada pode nos separar do amor de Cristo.” É importante, também, não separarmos ninguém do amor de Cristo. Não devemos cometer o erro de imaginar que o Cristo é só nosso, nos pertence. Foi lembrado o episódio de Maria Madalena com o Cristo ressuscitado, em que Jesus disse: “Não me retenha, não me agarre.”

3. Não é possível apropriar-nos de Deus. Ele não é minha propriedade. No máximo, estará a nosso alcance fazer alguém reconhecer Jesus.

4. Lucas (11,1): “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”. Há dois textos do Pai Nosso, um de S. Lucas, mais breve e com cinco pedidos, e outro de S. Mateus, em versão mais ampla, com sete pedidos. A idéia do curso é examinar os dois textos, refletir sobre eles e avaliar as diferenças.

5. O Prof. Paulo Ueti indicou, a propósito, as seguintes leituras:

a) “Pai-Nosso - Oração da Utopia”, de Evaristo Martin Nieto (Ed. Paulinas);
b) “Bem-Aventuranças e Pai Nosso”, de Jean Ives Leloup (Ed. Vozes).

6. Durante o curso, haverá um retorno ao ambiente de oração, no caso uma oração específica, o Pai Nosso, ensinada pelo próprio Jesus.

7. O ponto central é o de examinar como olhar para a vida, para a nossa história, de uma maneira toda especial, de uma maneira orante. É preciso ter em conta que a oração pode ser muita coisa. É preciso saber distinguir, por exemplo, entre cristão e crístico. Nós somos cristãos, vivemos uma realidade cristã. Em nossa caminhada, queremos ser cada vez mais crísticos: parecer mais e mais com Cristo. Diferentemente, Ghandi não era cristão, não quis ser cristão, mas tinha a vivência de uma realidade crística.

8. A nossa vida precisa ser orante. Oração: tem a ver com falar, verbalizar. Na nossa tradição religiosa, porém, é mais do que isso, é mais que a palavra, que já é algo poderoso (a palavra cria a realidade). A oração vai além e tem a ver com diálogo (dia: diversos sentidos, querendo dizer através; logos: palavra). Diálogo: através da palavra, por meio dela e para além dela.

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9. Diálogo não é, pois, apenas troca de códigos. Precisa do silêncio, para também escutar e deixar falar. Oração é, necessariamente, um encontro, em que se vai além da nossa palavra. Trata-se de encontro na relação: é possível gerar conversão, mudança. O diálogo é vivificador, transforma, muda, é conversão. O diálogo pressupõe disposição e desapego, para que haja a transformação.

10. Oração não é, assim, uma simples lista de pedidos. O diálogo representa um encontro, sempre vai ser uma educação, um processo de discernimento, que tira de você para fora. Através das palavras, a pessoa precisa botar para fora, abrir-se, dizer, expor-se.

11. Todo encontro é uma experiência de meditação, de contemplação. A sua realização muda a nossa teoria. Dialogar (até o fim) é uma tarefa muito difícil. A oração nunca é a mesma palavra, no mesmo lugar, no mesmo ritmo.

12. Num dado momento, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar. O Pai Nosso não é repetição daquelas mesmas palavras: é um encontro com Deus. Como se faz esse encontro? Como se faz o meu acesso a Deus?

13. Isso só ocorre quando a gente realiza o encontro consigo mesmo, com os irmãos e com Deus. É preciso entrar no processo do mistério: é comunhão. A oração é sempre comunicativa, relação comunitária, comunhão. Através da palavra, encontro Deus.

14. Muita gente acha que a Igreja é o mesmo que supermercado, local de negócios, balcão de consumo. Somos bons negociadores, mas nem sempre conseguimos fazer encontros verdadeiros, em que nos apresentamos tal como realmente somos, com as faltas e virtudes, retiradas as nossas máscaras.

15. A oração é fundamental: tem que ser algo que seja estruturante da nossa vida. É mais do que apenas fazer ritos. O rito é importante, mas é preciso ir além para realizar o verdadeiro encontro, atendendo a requisitos essenciais:

a) realizando o encontro comigo mesmo, descobrindo e revelando quem eu sou, com os meus limites e qualidades;

b) fazendo esse encontro também com o outro, que vai me ajudar a me descobrir, a me conhecer melhor.


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16. É preciso saber distinguir claramente: quem são os amantes e entes queridos; os amigos; os cúmplices. Na Igreja, precisamos viver relações de conspiração, respirar o mesmo ar e ter os mesmos objetivos. É questão de cumplicidade: ter a mesma disposição de caminhar juntos, mesmo que não haja relação de amizade, de amor, de paixão.


Intervalo: 17h15 às 17h33.


17. Foi dito, no retorno, que na convivência de uma comunidade nem todas as pessoas são amigas. É preciso, nesse contexto, estabelecer certo nível de cumplicidade, de conspiração, a fim de dar curso e, juntos, seguir o caminho.

18. Respondendo a indagação feita, o Prof. Paulo Ueti enfatizou que encontro não é só fala, louvor. Referiu-se ao livro do monge beneditino Beda Griffits, intitulado “Retorno ao Centro”, para dizer que viemos de Deus e para Deus somos vocacionados. É indispensável que eu me dê conta disso: a partir daí, ninguém me separa de Deus.

19. De fato, são vários os estágios que devo percorrer, na economia da salvação. Entre eles, há o processo da catarse (dizer, dizer, dizer), mas até aí não se trata de encontro completo e verdadeiro. É preciso ir adiante, saber escutar, dar-se conta de si mesmo. Voltar ao centro: movimento de escutar a si mesmo. Silenciar e escutar. Tomar pé da situação. É no silêncio que me encontro comigo mesmo, por isso não posso ter medo do silêncio, da escuridão, da noite. No "retorno ao centro", por meio do encontro comigo mesmo, encontro a Deus.

20. Deus não interfere diretamente na vida das pessoas. Ele quis que nós nos envolvêssemos. Quando nos envolvemos, escutamos Deus.

21. Precisamos de tempo especial, precisamos de atender à liturgia. Exemplos: celebrar aniversário, cuidar de alguém doente. Ou seja, precisamos desse momento especial a ser observado.

22. Encerrando o encontro, foi mencionado que da próxima vez serão vistos os textos do Pai Nosso.


Brasília, 09/05/2006.

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
1º Encontro: 08/05/2006, 2ª feira (16h17 às 18h)
1. O Prof. Paulo Ueti manifestou o desejo de começar o curso rezando, o que foi feito com a participação de todos na leitura do Salmo 27 (26):
“Javé é minha luz e minha salvação: de quem terei medo?
Javé é a fortaleza de minha vida: frente a quem tremerei?
Quando os malfeitores avançam contra mim para devorar minha carne, são eles, meus adversários e meus inimigos, que tropeçam e caem.
Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não temerá;
Ainda que uma guerra estoure contra mim, mesmo assim estarei confiante.
Uma coisa peço a Javé, a coisa que procuro: é habitar na casa de Javé todos os dias de minha vida, para gozar a doçura de Javé e meditar no seu templo. Pois ele me oculta na sua cabana no dia da infelicidade; ele me esconde no segredo de sua tenda, e me eleva sobre uma rocha.
Agora minha cabeça se ergue sobre os inimigos que me cercam; sacrificarei em sua tenda sacrifícios de aclamação.
Cantarei, tocarei em honra de Javé!
Ouve, Javé, meu grito de apelo, e tem piedade de mim, e responde-me!
Meu coração diz a teu respeito: “Procura sua face!”
É tua face, Javé, que eu procuro, não me escondas a tua face.
Não afastes teu servo com ira, tu és o meu socorro!
Não me deixes, não me abandones, meu Deus salvador!
Meu pai e minha mãe me abandonaram, mas Javé me acolhe!
Ensina-me o teu caminho, Javé!
Guia-me por vereda plana por causa daqueles que me espreitam;
Não me entregues à vontade dos meus adversários, pois contra mim se levantaram falsas testemunhas, respirando violência.
Eu creio que verei a bondade de Javé na terra dos vivos.
Espera em Javé, sê firme!
Fortalece teu coração e espera em Javé!”
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2. O Salmo 27 é texto tipicamente pascal e nos transmite o ensinamento de que Deus é a nossa luz, a nossa salvação. Não devemos ter medo de ninguém e de nada. “Não tenhais medo!” Não é para ter medo e nem colocar medo em ninguém: o Senhor é a rocha, o Senhor é a salvação, o Senhor é o abrigo, o Senhor é a fortaleza, o Senhor é a luz. São Paulo: “Nada pode nos separar do amor de Cristo.” É importante, também, não separarmos ninguém do amor de Cristo. Não devemos cometer o erro de imaginar que o Cristo é só nosso, nos pertence. Foi lembrado o episódio de Maria Madalena com o Cristo ressuscitado, em que Jesus disse: “Não me retenha, não me agarre.”
3. Não é possível apropriar-nos de Deus. Ele não é minha propriedade. No máximo, estará a nosso alcance fazer alguém reconhecer Jesus.
4. Lucas (11,1): “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”. Há dois textos do Pai Nosso, um de S. Lucas, mais breve e com cinco pedidos, e outro de S. Mateus, em versão mais ampla, com sete pedidos. A idéia do curso é examinar os dois textos, refletir sobre eles e avaliar as diferenças.
5. O Prof. Paulo Ueti indicou, a propósito, as seguintes leituras:
a) “Pai-Nosso - Oração da Utopia”, de Evaristo Martin Nieto (Ed. Paulinas);
b) “Bem-Aventuranças e Pai Nosso”, de Jean Ives Leloup (Ed. Vozes).
6. Durante o curso, haverá um retorno ao ambiente de oração, no caso uma oração específica, o Pai Nosso, ensinada pelo próprio Jesus.
7. O ponto central é o de examinar como olhar para a vida, para a nossa história, de uma maneira toda especial, de uma maneira orante. É preciso ter em conta que a oração pode ser muita coisa. É preciso saber distinguir, por exemplo, entre cristão e crístico. Nós somos cristãos, vivemos uma realidade cristã. Em nossa caminhada, queremos ser cada vez mais crísticos: parecer mais e mais com Cristo. Diferentemente, Ghandi não era cristão, não quis ser cristão, mas tinha a vivência de uma realidade crística.
8. A nossa vida precisa ser orante. Oração: tem a ver com falar, verbalizar. Na nossa tradição religiosa, porém, é mais do que isso, é mais que a palavra, que já é algo poderoso (a palavra cria a realidade). A oração vai além e tem a ver com diálogo (dia: diversos sentidos, querendo dizer através; logos: palavra). Diálogo: através da palavra, por meio dela e para além dela.
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9. Diálogo não é, pois, apenas troca de códigos. Precisa do silêncio, para também escutar e deixar falar. Oração é, necessariamente, um encontro, em que se vai além da nossa palavra. Trata-se de encontro na relação: é possível gerar conversão, mudança. O diálogo é vivificador, transforma, muda, é conversão. O diálogo pressupõe disposição e desapego, para que haja a transformação.
10. Oração não é, assim, uma simples lista de pedidos. O diálogo representa um encontro, sempre vai ser uma educação, um processo de discernimento, que tira de você para fora. Através das palavras, a pessoa precisa botar para fora, abrir-se, dizer, expor-se.
11. Todo encontro é uma experiência de meditação, de contemplação. A sua realização muda a nossa teoria. Dialogar (até o fim) é uma tarefa muito difícil. A oração nunca é a mesma palavra, no mesmo lugar, no mesmo ritmo.
12. Num dado momento, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar. O Pai Nosso não é repetição daquelas mesmas palavras: é um encontro com Deus. Como se faz esse encontro? Como se faz o meu acesso a Deus?
13. Isso só ocorre quando a gente realiza o encontro consigo mesmo, com os irmãos e com Deus. É preciso entrar no processo do mistério: é comunhão. A oração é sempre comunicativa, relação comunitária, comunhão. Através da palavra, encontro Deus.
14. Muita gente acha que a Igreja é o mesmo que supermercado, local de negócios, balcão de consumo. Somos bons negociadores, mas nem sempre conseguimos fazer encontros verdadeiros, em que nos apresentamos tal como realmente somos, com as faltas e virtudes, retiradas as nossas máscaras.
15. A oração é fundamental: tem que ser algo que seja estruturante da nossa vida. É mais do que apenas fazer ritos. O rito é importante, mas é preciso ir além para realizar o verdadeiro encontro, atendendo a requisitos essenciais:
a) realizando o encontro comigo mesmo, descobrindo e revelando quem eu sou, com os meus limites e qualidades;
b) fazendo esse encontro também com o outro, que vai me ajudar a me descobrir, a me conhecer melhor.
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16. É preciso saber distinguir claramente: quem são os amantes e entes queridos; os amigos; os cúmplices. Na Igreja, precisamos viver relações de conspiração, respirar o mesmo ar e ter os mesmos objetivos. É questão de cumplicidade: ter a mesma disposição de caminhar juntos, mesmo que não haja relação de amizade, de amor, de paixão.
Intervalo: 17h15 às 17h33.
17. Foi dito, no retorno, que na convivência de uma comunidade nem todas as pessoas são amigas. É preciso, nesse contexto, estabelecer certo nível de cumplicidade, de conspiração, a fim de dar curso e, juntos, seguir o caminho.
18. Respondendo a indagação feita, o Prof. Paulo Ueti enfatizou que encontro não é só fala, louvor. Referiu-se ao livro do monge beneditino Beda Griffits, intitulado “Retorno ao Centro”, para dizer que viemos de Deus e para Deus somos vocacionados. É indispensável que eu me dê conta disso: a partir daí, ninguém me separa de Deus.
19. De fato, são vários os estágios que devo percorrer, na economia da salvação. Entre eles, há o processo da catarse (dizer, dizer, dizer), mas até aí não se trata de encontro completo e verdadeiro. É preciso ir adiante, saber escutar, dar-se conta de si mesmo. Voltar ao centro: movimento de escutar a si mesmo. Silenciar e escutar. Tomar pé da situação. É no silêncio que me encontro comigo mesmo, por isso não posso ter medo do silêncio, da escuridão, da noite. No "retorno ao centro", por meio do encontro comigo mesmo, encontro a Deus.
20. Deus não interfere diretamente na vida das pessoas. Ele quis que nós nos envolvêssemos. Quando nos envolvemos, escutamos Deus.
21. Precisamos de tempo especial, precisamos de atender à liturgia. Exemplos: celebrar aniversário, cuidar de alguém doente. Ou seja, precisamos desse momento especial a ser observado.
22. Encerrando o encontro, foi mencionado que da próxima vez serão vistos os textos do Pai Nosso.
Brasília, 09/05/2006.

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 05

Estudo do “Credo Apostólico” 05

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO

Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti (5 encontros)
Notas Avulsas

5º Encontro(final): 10/04/2006, 2ª feira (16h10 às 18h)
1. Estamos num momento propício, no início da semana santa, para fazer a reflexão sobre o último capítulo do Credo. Segundo o texto do símbolo niceno-constantinopolitano, temos:
“Creio no Espírito Santo,
Senhor que dá a vida
e procede do Pai e do Filho,
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele que falou pelos profetas.”
2. Crer em Deus significa crer e lutar pela vida das pessoas, que muitas vezes estão em situação pior do que nós, em mais graves dificuldades.
3. Somos santos? É bom ver o exemplo de Santo Agostinho, que teve vida desregrada e desarrumada. Mesmo assim, seguiu o caminho da santidade. O que nos torna santo é o batismo. Santo quer dizer consagrado. Com o batismo, todos nós entramos no caminho da santidade. É seguir a recomendação do Levítico: “sede santo, como só Deus é santo.” O batismo, pela ação do Espírito Santo, nos coloca nesse caminho, nessa rota da santidade. Todos nós, pois, podemos nos considerar santos, percorrendo o caminho da santidade.
4. Isso não quer dizer que fiquemos parados, estáticos. Devemos estar em movimento, em aperfeiçoamento. O Espírito Santo habita nos santos. O nosso corpo é templo do Espírito Santo, como diz São Paulo. É preciso acreditar na comunhão dos santos, não só dos santos que já foram e que estão na glória, mas também dos que estão aqui na comunidade, membros da Igreja.
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5. São João: fala-se com Deus através dos irmãos, na comunidade. É a confirmação de que o amor a Deus passa pela comunhão dos irmãos.
6. Retomar a história do bom samaritano: o próximo foi aquele que tocou no necessitado, cuidou dele, assistiu-o na sua carência e dificuldade, atendeu-o inclusive com dinheiro, nos gastos indispensáveis.
7. A semana santa é, pois, momento apropriado para repensar como estamos no curso da nossa espiritualidade.
8. Foi colocada a pergunta: quem fundou a Igreja? O Espírito Santo fundou a Igreja, por ocasião do Pentecostes. Ele continua na Igreja, atuando, agindo. Ele é o mantenedor da comunhão: reza-se ao Pai, reza-se ao Filho, na comunhão do Espírito Santo. Ele fala através da nossa materialidade, na convivência das pessoas e com o ambiente, com a natureza.
9. Foi lembrado que, mesmo depois que se morre, temos que ter corpo. Jesus Cristo, depois que ressuscitou, aparece com o corpo.
10. Prosseguindo:
“Creio na Igreja,
una, santa, católica e apostólica.”
* Una: unida nas diferenças, nos projetos, nos sentimentos. O Espírito Santo suscita diferentes carismas. A Igreja deve ser unida nas coisas que são essenciais. Em relação aos protestantes, essa união aparece na crença em Jesus, na Trindade, na comunhão dos santos, na Bíblia. As diferenças são relativamente poucas e ocorrem nitidamente quanto aos sacramentos e no que se refere aos santos. O importante é ter em conta o fundamental: a Igreja, a comunhão, a missão, a liturgia, a diversidade nos sacramentos. O batismo nos insere na comunhão da Igreja;
* Santa: a Igreja é santa. Permanecer na comunhão ajuda no caminho da santidade. Leonardo Boff: “é melhor errar com a Igreja do que errar sozinho”;
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* Católica: a Igreja é universal. Presente para o mundo e está presente em todo o mundo. As sementes do Verbo, do Espírito. Não se leva Deus para lugar nenhum: Ele já está! Nós aceitamos Jesus, mas não o levamos. A Igreja é católica, universal, para todos. Ela é holística: é para todo o mundo, todos têm espaço. Por tradição, somos muito abertos na religião católica;
* Apostólica: a Igreja é missionária. A missão não é a de encher os bancos e as cadeiras, nem a de construir mais templos. A missão é aquela ensinada e mostrada por Jesus: curar os doentes, incluir os excluídos, exercer a misericórdia no mundo. Quem estiver fora, excluído, deve ser ajudado a se integrar.
* A unidade e a santidade são qualidades internas, para dentro da Igreja. Todos nós devemos procurar ter ações internas e também para fora da Igreja. Não é preciso saber falar, se expressar bem: mesmo de boca fechada, a gente pode ajudar. De modo geral, os católicos têm pouca presença nos hospitais e nas cadeias. É preciso desenvolver o apostolado.
11. Dando continuidade ao Credo:
“Professo um só batismo
para a remissão dos pecados.”
12. O pecado não tem poder sobre a graça. A graça é maior que o pecado, é mais forte. O batismo redime os pecados, que perdem poder sobre o nosso corpo, sobre o nosso espírito.
13. Indagado sobre o batismo de Jesus, explicou o Prof. Paulo Ueti que se tratava de um rito de passagem, uma iniciação. Jesus precisava participar do grupo de João Batista, que pertencia ao grupo dos profetas. Já o batismo do Espírito Santo é a própria cruz de Jesus. É mais fundamental.
14. Quanto à questão relacionada com a obrigação de pagar pelas faltas, pelos pecados, e que é frequentemente colocada pelas pessoas, disse o Prof. Paulo Ueti que não faz sentido pautar a nossa religião por negociações e manipulações. O fato essencial é que ganhamos a graça de Deus como presente. Na verdade, nós temos responsabilidade pela graça que recebemos e que temos de distribuir com os outros. Cabe a nós passar adiante o amor que nos é dado de graça por Deus.
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15. Quanto às indulgências, é questão que vem pela tradição, pela Patrística. Trata-se de assunto complexo, que tem a ver com a história da Igreja e que deve ser aprofundado por cada um de nós.
16. A tradição religiosa da nossa Igreja compreende, pois, a unidade, a santidade, a catolicidade, o apostolado. Nós somos responsáveis por esse conjunto, mas isso não deve ser condicionamento. Não dá para ficar de braços cruzados, sendo necessário distribuir o amor, a graça que recebemos de presente. É preciso acreditar que efetivamente os pecados vão ser redimidos.
17. Final do Credo:
“E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.”
18. São, de fato, dois momentos que se juntam. Ninguém fica lá: Jesus foi ressuscitado e subiu para junto de Deus, na comunhão plena, na vida eterna.
19. Eu já experimento, aqui, a vida eterna, através dos sacramentos, que são “sinais sensíveis e eficazes da graça de Deus.” Essa é a vida eterna que começa agora.
20. Na comunidade, fazemos a experiência da partilha. Podemos viver o ambiente da alegria de todos, pela comunhão. Precisamos nos descontaminar, com apoio na oração; fazer as coisas juntos; conviver; suportar-nos uns aos outros. Isso é o sacramento do Reino, assumindo a preocupação pelos outros.
Intervalo: 17h05 às 17h25
21. Retomando o curso e, para encerrá-lo, o Prof. Paulo Ueti colocou-se à disposição para perguntas e esclarecimentos.
22. Entre outras questões, esclareceu e informou:
a) quanto ao batismo do Espírito Santo de Jesus, afirmou que existe apenas um batismo – único e de uma vez por todas. O batismo unifica a gente. Quando se é batizado, a gente se prega na cruz com Jesus;
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b) sobre o sofrimento, disse que nascer já é um evento traumatizante: trauma da separação umbilical, separação da proteção do útero. A primeira grande separação é, pois, a decorrente do corte umbilical. A segunda separação traumática é o desmamar. Os homens, em particular, vão sofrer mais, na medida em que, na adolescência, perdem o contato com o pai. Os homens são mais brutalizados, mais introspectivos. Uma questão relevante é examinar como ajudar homens e mulheres a serem menos traumatizados e mais humanizados;
c) nesse contexto, um problema sério da religião é o da separação. Só que ela não precisa ser traumática. A Igreja precisa ser uma família para poder integrar e para que não se perca essa integração;
d) a comunidade religiosa é, às vezes, um peso. As pessoas precisam ser ajudadas a entender, e até mesmo a sair, de modo a encontrar o seu caminho;
e) no tocante à indagação sobre como entender “ter vida e vida em abundância” num contexto de cruz, o Prof. Paulo Ueti iniciou explicando que o correto, quando se fala do crucifixo, é ter em conta que o símbolo é a cruz (sem o corpo de Jesus). A expressão “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” mostra que Jesus se sentiu abandonado. A cruz é o lugar do abandono, do cúmulo do sofrimento. A cruz é também o lugar da ressurreição: ela se dá na cruz e através da cruz. Jesus disse: nós viemos para ter vida e vida em abundância. É preciso que haja o atrito, o choque. Não podemos ficar à deriva da morte, como ocorre com os pobres da favela, que não têm direito à vida (a eles é negado esse direito). Precisamos nos dar conta de que muitas pessoas na sociedade têm mais vida e oportunidades do que outras. O sofrimento existe para todos. Na plenitude dos tempos, ou seja, na glória, no final dos tempos, tudo será mais perfeito. Mas não podemos fugir da realidade do mundo, pois é aqui que Deus se revela. A cruz de Jesus está no centro da nossa vida. Na ressurreição, Jesus está fora da cruz.
Brasília, 10/04/2006
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segunda-feira, 3 de abril de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 04

Estudo do “Credo Apostólico” 04

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
4º Encontro: 03/04/2006, 2ª feira (16h10 às 18h02)
1. A partir do século IV é que começa o movimento de rever a vida de Jesus e estabelecer o rito dos dogmas: o dogma de Maria, mãe de Deus, e do nascimento e vida de Jesus, com o mistério da encarnação. A tradição da Igreja já reconhecia na vida de Jesus as verdades depois estabelecidas como dogmas, através dos Concílios, com a preocupação de não deixar prevalecer falsas definições. (senso da Igreja e senso da fé).
2. Até pouco tempo, por exemplo, o “coroinha’ não podia ser mulher: só recentemente foi determinada pelo Vaticano essa prática. A norma vem depois, como fruto do costume. A necessidade real cria a norma, como se vê pelas Ministras da Eucaristia, hoje existentes na prática de diversas paróquias.
3. Retomando o curso, foi colocada a segunda parte do 2º capítulo do Credo, de acordo com o texto do símbolo niceno-constantinapolitano:
“ E por nós, homens, e para nossa salvação, ...” Ou seja, Deus se encarnou por causa da humanidade e para nos salvar. E vê-se que Jesus veio para a salvação de todos, de toda humanidade, e não somente dos católicos.
4. Prosseguindo: “...desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem...” Não somos, pois, autorizados a desumanizar Jesus. Ele é humanamente divino e divinamente homem. Plenamente homem e plenamente Deus. Não podemos perder a humanidade de Deus. Ele precisou de mulher para nascer. Deus precisa da gente. Na nossa religião, Deus não se basta: Deus precisou de uma mulher para o seu filho nascer. Ele quis precisar da humanidade. Ele virou gente como nós – precisou de uma humanização (encarnação).
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5. Antes de Jesus, com base na cultura greco-romana, o corpo não valia nada. Só tinha valor estético, ligado à beleza. O corpo era tido como pecaminoso. A alma é que valia. Fazia-se a separação de corpo e alma.
6. Diferentemente, toda a nossa fé tem a ver com o corpo (ressurreição). O corpo é fundamental para a nossa religião. Não existe a separação entre corpo e alma. Não adianta só cuidar da alma e abandonar o corpo. Não faz sentido só rezar para o pobre que está morrendo de fome. São Paulo: o nosso corpo é templo de Deus. São João: temos que amar o irmão para amar a Deus.
7. Vemos, na celebração da missa, que Deus se encarnou. A ressurreição é da carne, é do corpo. É tudo junto: corpo e alma!
8. Temos que ver a essência, aprender o critério. Deus desceu dos céus, desceu e se encarnou, quis precisar do nosso corpo.
9. Vivemos pela fé e acreditamos na ressurreição, promessa de Jesus.
10. Foi mencionada a questão do estudo da escatologia, tendo sido indicados dois livros de especulação sobre o fim (“Escatologia da pessoa” e “Escatologia sobre o mundo”). São diferentes considerações sobre o tema: já estamos vivendo a vida eterna; o que é a vida eterna? Quando se tem vida eterna no mundo? Todos continuam morrendo e continuam vivendo. Se se tem fé, a vida continuará. Tudo continua.
11. Jesus é o exemplo para nós: ele vive, morre e ressuscita. Não se sabe como ocorrerá a ressurreição, mas não devemos sofrer por isso. A questão fundamental é: eu vivo pela fé! A ressurreição é dada por Deus. Eu preciso alimentar a minha fé, ter solidez e firmeza. Deus me ama. Ele me ama sempre, em qualquer circunstância. Deus me ama!
12. É preciso “mastigar” a encarnação de Deus.
13. Em prosseguimento: “Também por nós foi crucificado, sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai.”
Aqui está o centro da nossa fé: nós somos cristãos por causa da cruz de Cristo. Eu creio na vida, no sofrimento, na morte e na ressurreição de Cristo. Não existe cristianismo sem cruz, sem sofrimento, sem conflito.
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A cruz é o símbolo da morte, mas é também o símbolo da ressurreição.
A cruz é fundamental e não pode ser esquecida ou jogada fora. Jesus, por causa da sua vida, foi perseguido e agiu conflituosamente.
14. Mas não se pode esquecer: Deus é amor e misericórdia. Diferentemente do que diz a letra da música (“Deus enviou o seu filho amado para morrer no meu lugar”), Deus amou tanto o mundo que enviou o seu filho para nos salvar, para nos redimir. No processo da salvação, Jesus enfrentou dificuldade, sofreu, foi crucificado e morreu na cruz. E ressuscitou!
15. A vida cristã não é um discurso. É uma prática. Os conflitos e o sofrimento fazem parte da vida. O conflito aparece quando ocorre a decisão.
16. Foi lembrado o fato marcante do encontro de Jesus com João Batista, que era profeta e perturbador da ordem. Foi o momento de decisão, particularmente quando João Batista é preso. Verdadeira perturbação da ordem política constituída. Deu-se o processo conflitivo, causando sofrimento. Kerygma (pronuncia-se kérygma): anúncio primordial (é a cruz de Jesus). São Paulo: Jesus é o crucificado ressuscitado.
17. A nossa religião não é analgésica, ou terapia de grupo. Ela é religião completa de cruz. Só que, com Jesus, ela muda e é cruz que não é só sofrimento, mas caminho da ressurreição.
18. Com base na relação, o efeito em nós muda e passamos a olhar o mundo de forma diferente. Muitas das nossas crises de depressão decorrem do fato de que não conseguimos olhar o mundo a partir da fé, a partir do Cristo. A cruz não é mais sofrimento, que para muitos é a ausência de Deus. No sofrimento, eu encontro Deus.
Intervalo : 17h10 às 17h22
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19. Após o intervalo, a Luzimar Augusto informou sobre o próximo curso com o Prof. Paulo Ueti, sobre a oração do Pai-Nosso, também em cinco encontros, a partir de 8/5/2006 (às 2ª feiras).
20. Kerygma: Cristo viveu, foi crucificado e ressuscitou. O símbolo é a cruz (sem Jesus): não é o crucifixo. Isso significa que cada um de nós tem sua cruz e, para nossa felicidade, ela deve ser assumida conforme Jesus assumiu a dele. A cruz de Jesus é o símbolo da nossa salvação porque Jesus, ao enfrentar seu sofrimento com dignidade e confiança no Pai, nos ensinou a fazer o mesmo. É aí que está a nossa salvação! Ao imitarmos Jesus, na administração do nosso sofrimento (a nossa cruz) e da nossa morte, com dignidade e confiança no Pai, estamos salvos, isto é, daremos sentido ao nosso sofrer e morrer – passagem para a vida eterna feliz. A nossa religião é marcada pelo conflito, mas também assinalada pela graça, dom de Deus.
21. Como foi anunciado, o próximo curso será sobre o Pai-Nosso, em que se vêem 7 petições, na versão de Mateus, e 5 petições segundo o texto de Lucas. O importante é não centralizar a relação com Deus na petição, no pedido. É preciso fugir do processo de negociação, de barganha com Deus. Cabe mudar a relação com o divino, fugindo da barganha, pois isso é ruim, revelando um tipo de espiritualidade longe do contexto adequado, que é o ambiente da graça, do dom de Deus. Pedir, na Bíblia, não significa só fazer lista de requerimentos, sem querer botar força. Pedir é ir atrás.
22. Finalmente, o último trecho do 2º capítulo do Credo:
“Desceu aos infernos e ressuscitou ao terceiro dia”.
Na tradição espiritual, a expressão “desceu aos infernos” é ir ao lugar onde vivem os mortos, casa de quem morre. É a afirmação de que Jesus viveu sua experiência de morte, como qualquer ser humano vive a sua. A morte é inexorável e existe para todos – até para o Filho de Deus. A diferença é que ele venceu a morte. Ressuscitou, abrindo caminho para cada um de nós. A humanidade inteira, por causa da cruz de Jesus, ganhou acesso à ressurreição.
23. Uma novidade importante da nossa religião consiste em saber que nós não ficamos lá, nos infernos. Nós ressuscitaremos ao terceiro dia (número simbólico, que aparece muitas vezes na Bíblia).
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24. Para São João, no seu evangelho, tudo se dá na mesma hora, no mesmo momento. A salvação de Deus é imediata: não existem mediações para a salvação. Fomos salvos quando Deus se encarnou no mundo.
25. Não se diz mais que o inferno é o destino do mal. Deus é misericórdia. Foi indicada a leitura do capítulo 8 da epístola de São Paulo aos Romanos: “nada pode impedir o amor de Deus”.
26. O Prof. Paulo Ueti recomendou vários livros sobre a questão do mal:
a) “Convivendo com o mal”: Anselm Grün;
b) “Proteção do Sagrado”: Anselm Grün (Ed. Vozes);
c) “A Sombra do Mal” (Ed. Paulus).
d) Textos do seminário sobre o mal, coordenado pelo Prof. Paulo Ueti
(e-mail: pauloueti@uol.com.br)
27. A seu ver, diz o Prof. Paulo Ueti, não cabe dar muita trela ao demônio. Sobre o inferno, não se trata de lugar para ter medo. A nossa religião não é do medo. João, no seu evangelho, diz seguidas vezes:
“Não tenham medo”. A casa dos mortos é o lugar para onde todos irão: todos vão morrer! Não adianta ter medo da morte. É melhor preocupar-se com outras coisas. Jesus: “a cada dia basta o seu problema”. Teologia: a morte nos iguala a todos . Morrer é igual para todos. Para São Francisco e os místicos: “ a morte não pode ser minha inimiga.”
28. É preciso desapegar-se, sentir menos falta das coisas. Eucaristia: celebração da presença e da ausência de Jesus. É preciso sentir falta para não perder o senso da vida e entender o valor fundamental das ausências nas relações. Perceber dois pontos essenciais nas relações: a) eu amo as pessoas ; b) eu não vou poder estar com elas o tempo todo.
29. Foi lembrado o problema de Pedro no Monte Tabor, qual seja o de querer prender Jesus. É preciso descer do monte e desapegar-se. Eu preciso aprender a não ter Jesus fisicamente do meu lado. As mulheres entenderam isso na Bíblia. Os homens vão ter que aprender isso com as mulheres. Jesus vive, sofre, morre, vai ao inferno e ao terceiro dia ressuscita. Os protestantes dizem que o sangue de Jesus tem poder (venceu a morte). A morte tem outro significado com a ressurreição.
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30. Não podemos negar ou impedir a morte. A novidade para nós é que, após Jesus, a morte não é mais o fim.
31. A morte é traumatizante porque perdemos o senso da Igreja, que é o senso do consolo comunitário, do consolo dos irmãos. Sozinhos, não damos conta do evento da morte. É necessário restabelecer o sentido da comunidade física. Recompor a aliança, dizer que somos de Jesus. Compartilhar. A comunidade precisa ser o bálsamo! Morrer é que nem a páscoa: passagem, para não ter medo do inferno ou do céu.
32. A Igreja é pastora: não tem ninguém perdido na Igreja. Perdidos são aqueles que estão fora da Igreja e precisam ser recolhidos.
Brasília, 3/4/2006

terça-feira, 28 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 03

Estudo do “Credo Apostólico” 03

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
3º Encontro: 27/03/2006, 2ª feira (16h10 às 18h06).
O Prof. Paulo Ueti fez as seguintes indicações de textos:
“O Nascimento dos Dogmas Cristãos”: Bernard Meunier
(Edições Loyola).
b) “Teologia da Revelação” – 4 Tomos.
1º Tomo: “ O Deus da Salvação” (Edições Loyola)
c) Carta Encíclica do Papa Bento XVI: “Deus Caritas Est”.
Foi feita referência à oportunidade do lançamento da Encíclica do
Papa Bento XVI, sobre o amor cristão: “Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). A questão do “eros” e do “agape”. O amor “êxtase”.
As descrições de Ozéias e Ezequiel sobre a paixão de Deus pelo
seu povo, com arrojadas imagens eróticas. O Prof. Paulo Ueti falou
da importância do erotismo como fonte do desejo, fazendo a gente
ir para a frente. O cuidado para não perder o desejo.
Foi referido à teologia anterior do batismo, já superada, e que atribuía o pecado original à difundida história do pecado contra a castidade, entre Adão e Eva. Todo mundo nasce na verdade em pecado. A base está na desobediência. Deus cria o mundo. Já o pecado faz parte da natureza humana, do nosso descompasso. Faz parte da vida, da nossa existência. Negar o pecado seria desumanizar-se.
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São Paulo (Romanos 6):
“Que diremos, então? Que devemos permanecer no pecado a fim de que a graça se multiplique? De modo algum! Nós, que morremos para o pecado, como haveríamos de viver ainda nele? Ou não sabeis, que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova. Porque se nos tornamos uma coisa só com ele por morte semelhante à sua, seremos umas coisa só com ele também por ressurreição semelhante à sua, sabendo que nosso velho homem foi crucificado com ele para que fosse destruído esse corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado. Com efeito, quem morreu, ficou livre do pecado. Mas se morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com ele, sabendo que Cristo, uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte não tem mais domínio sobre ele. Porque, morrendo, ele morreu para o pecado uma vez por todas; vivendo, ele vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal, sujeitando-vos às suas paixões; nem entregueis vossos membros, como armas de injustiça, ao pecado; pelo contrário, oferecei-vos a Deus como vivos provindos dos mortos e oferecei vossos membros como armas de justiça a serviço de Deus. E o pecado não vos dominará, porque não estais debaixo da Lei, mas sob a graça. E daí? Pecamos, porque não estamos debaixo da Lei, mas sob a graça? De modo algum! Não sabeis que, oferecendo-vos a alguém como escravos para obedecer, vos tornais escravos daquele a quem obedeceis, seja do pecado que leva à morte, seja da obediência que conduz à justiça? Mas, graças a Deus, vós, outrora escravos do pecado, vos submetestes de coração à forma de doutrina à qual fostes entregues e, assim, livres do pecado, vos tornastes servos da justiça. Emprego uma linguagem humana, em consideração de vossa fragilidade. Como outrora entregastes vossos membros à escravidão da impureza e da desordem para viver desregradamente, assim entregai agora vossos membros a serviço da justiça para a santificação. Quando éreis escravos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. E que fruto colhestes então daquelas coisas de que agora vos envergonhais? Pois seu desfecho é a morte. Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de Deus, tendes vosso fruto para a santificação e, como desfecho, a vida eterna. Porque o salário do pecado e a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.”
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Em vez de nos preocuparmos em falar sobre o pecado ou sobre o
demônio, o melhor é deixá-los de lado e falar sobre a graça de Deus. Não faz sentido perder tempo com as coisas que já passaram e que já não têm mais poder sobre a gente. Precisamos libertar-nos dessas manipulações.
7. O Prof. Paulo Ueti convidou a todos os participantes para a leitura e reflexão, passo a passo, dos capítulos e artigos dos dois Credos – o Credo Apostólico e o Credo Niceno-Constantinapolitano (nº 184 do Catecismo da Igreja Católica)
8. Conforme relembrou, já foi feito anteriormente o comentário sobre o primeiro artigo: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.”
9. Artigo 2º: “E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos.”
10. Foi sublinhada a diferença com o texto do símbolo niceno, em que se explicita: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim.”
11. Nos comentários, foi observado que o Credo faz a identificação de Jesus como o Messias. Cabe a nós ver claramente qual é esse Messias. (v. Isaías) – O Messias de que falamos é o Jesus de Nazaré, que é o Cristo. É aquele que precisa da nossa adesão. Na nossa religião, Jesus vai vocacionar a gente, vai chamar a gente.
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12. Na nossa fé cristã, Deus se identifica tanto e tanto conosco, com a nossa realidade humana, que vira gente e necessita de nós. Veja-se o diálogo de Jesus com a samaritana, cheio de equidade. Jesus inicia a conversa fazendo o pedido: “Tenho sêde”. Ou seja: eu necessito de água.
13. Em hebraico, garganta quer significar alma. Sêde: necessidade vital do ser humano. A água que vai ser dada a Jesus pela samaritana é efêmera. Mas a água anunciada por Jesus é plena, é de vida eterna.
14. Outro evento lembrado foi o de que Jesus não realizou milagre em Nazaré, por falta de adesão do povo. Temos, pois, o Messias dentro da teologia da necessidade.
15. Em grego, a palavra Senhor é kyrios e significava o título do imperador. Após haver ressuscitado, eram feitas referências a Jesus como sendo Senhor. Diferentemente do imperador, o senhorio de Jesus é o serviço e não a dominação. Dominar, obrigar, oprimir, nada disso combina com o senhorio de Jesus.
16. Lucas: “que vocês não sejam como as nações, que dominam os povos, escravizam os pobres e humildes”.
17. Jesus não se parece, em nada, com o imperador do Império.
18. O Prof. Paulo Ueti mencionou a parábola do bom pastor, dizendo que é mania nossa imaginar que o bom pastor corresponde ao padre e que as ovelhas perdidas somos nós. É bom ter em conta que nos aproximamos da família cristã pelo batismo. Na verdade, a nossa Igreja é a pastora do mundo. A Igreja se perdeu. Abandonamos o senhorio do império para assumir o senhorio do serviço de Jesus. Vamos em busca da ovelha para trazê-la de volta.
19. Quem é o Senhor da Vida da gente? Veja-se o caso da violência doméstica. É crime, mas não a tratamos como pecado. Não esquecer que Jesus é o senhorio e que nenhuma violência deve ser permitida.
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20. Foi indicada a leitura do capítulo 8 da carta de São Paulo aos Romanos, de modo a considerar sob qual espírito estou vivendo: pelo espírito de Deus? “Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte.”
21. Jesus, aquele que ressuscitou, Ele é o caminho da minha vida! A disposição de entrega a Deus é muito boa e própria. Mas é preciso nos mobilizarmos.
22. Foi mencionado outro trecho relevante do Credo par avaliar: o problema da divindade e da humanidade de Jesus. Os dois Credos recusam a heresia que dividiu Jesus – pedaço homem e pedaço divino. A mesma postura em relação à heresia de que Jesus era Deus disfarçado, uma aparência de humano.
23. Ocorrreu no século III a difusão da heresia da negação da humanidade de Jesus. A propósito, por exemplo, do episódio dos discípulos de Emaús, fala-se de que Jesus fez que passou e não queria de fato passar, mas estaria apenas testando os discípulos. Jesus na verdade não procurou testar ninguém: quem testa é o demônio. Deus não faz teste com as pessoas.
24. Há, também, o tema da aprendizagem de Jesus: nega-se o desenvolvimento humano de Jesus. Lucas: “Jesus crescia em graça, em estatura e sabedoria, diante de Deus e dos homens”.
25. Se não fosse assim, Deus estaria em contraposição com a humanidade. Seria o mesmo que dizer que como gente não se chega a Deus. Alma separada do corpo.
26. Tecnicamente, deve-se falar em economia da salvação, querendo significar que não se trata de algo isolado. É um processo, representando várias situações. Exemplo: o Antigo Testamento é uma pré-história de Jesus. A sua vinda dá a plenitude e continua. Outra indicação: a anunciação do anjo a Maria. Ela deu o sim, mas poderia ter dado o não. Deus chamou e ela aceitou, embora não tenha sido uma decisão fácil e tranqüila. Maria não era uma figura passiva, tendo participado de um processo de diálogo. Deus não mandou ou determinou: apenas perguntou. 5
No curso da sua vida, Jesus foi crescendo e se desenvolvendo e,
a prestação, passo a passo, foi se reconhecendo filho de Deus.
27. A nossa tradição vai reconhecer na economia da fé a posição especial de Maria. Ela tem o seu lugar na economia da salvação.
28. Dois dogmas dos primeiros períodos do cristianismo:
a) Jesus, gerado não criado, consubstancial ao Pai: ele é da mesma natureza de Deus (está em plena comunhão com Ele). Deus é o salvador, Jesus é o redentor e o Espírito Santo é o santificador. Ou seja: comunhão na Trindade. São distintos, em plena comunhão. O dogma é: Jesus é plenamente da condição divina e é plenamente humano, encarnado;
b) outro dogma (Éfeso): Maria é mãe de Deus e mãe de Jesus. Ao mesmo tempo, ela é mãe de Deus e de Jesus.
29. A idéia de que Jesus é 100% Deus e 100% homem deve ser ruminada na nossa espiritualidade.
30. Batismo: quer dizer mergulho. Jesus fazia parte do grupo de João Batista, que era profeta. Jesus pertence ao grupo profético.
31. Batismo no Espírito Santo: é toda a vida de Jesus, até a morte de cruz. Juntou-se a divindade e a humanidade de Jesus. Marcos 1,8: “Eu vos batizei com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo”. Megulhar na vida, morte e ressurreição de Jesus.
Intervalo: 17h18 às 17h33
32. Foi feita a leitura do Credo niceno, com alguns comentários. Deus quer salvar toda a humanidade e não somente alguns privilegiados. A misericórdia de Deus é para todos, para toda a humanidade. A eleição de cada um é uma missão e não um privilégio. Com a missão, teremos mais serviço, maior compromisso. Na história dos talentos, vê-se que quem multiplicou o que recebeu vai ter mais. Nós assumimos o compromisso e vamos ser mais cobrados por isso: mais serviço, mais compromisso. 6
33. O desejo de Deus é salvar-nos. Toda a Bíblia, a Patrística e a tradição falam de que a salvação é um desejo de Deus.
34. Para nós, um critério básico é fazer a vontade do Pai. Tudo será dado por Deus como verdadeiro presente, de graça. Deus é graça e misericórdia! Aí está o sentido da gratuidade de Deus.
35. Concílio Vaticano II: a liturgia é a celebração do desejo de Deus que quer salvar toda a humanidade (v. Sacrossantum Concílio nº 5, sobre liturgia).
36. O desejo é primeiramente de Deus. Em seguida, o desejo é também meu, nosso. Não existe qualquer condicionamento da parte de Deus: é de graça!
37. O Prof. Paulo Ueti recomendou que se leia a Bíblia no contexto do Novo Testamento. Firmar em nós o entendimento de que não existem condicionamentos na teologia da salvação. Deus é graça pura! É fundamental ler a Bíblia (NT) como se fosse fruta nova; associar a isso a prática de comprar e ter à mão textos sérios de espiritualidade, com base em bibliografia recomendada.
Brasília, 28/3/2006

terça-feira, 21 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 02

Estudo do “Credo Apostólico” 02

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
2º Encontro: 20/3/2006, 2ª feira (16h10 às 18h06)
O expositor, Prof. Paulo Ueti, mencionou que utilizaria inicialmente a Bíblia (Deuteronômio 6,4) e o Catecismo da Igreja Católica (pg. 70, nº 228):
Deuteronômio 6,4: “Ouve, ó Israel: Javé nosso Deus é o único Javé”;
Catecismo pg. 70, nº 228: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor...”
2. Foi entoado, suavemente, o canto:
Shmá Israel
Adonai Elohenu
Adonai ehad
Escuta Israel
O Senhor é nosso Deus
Um é o Senhor
3. Em seguida, houve menção ao primeiro artigo do credo apostólico: “Creio em Deus pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.” Vê-se que o texto do credo niceno-constantinapolitano é semelhante, apenas sublinhando “creio em um só Deus” e acrescentando “de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
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4. O credo niceno é uma explicitação melhor do credo apostólico, e os dois credos – o símbolo apostólico e o símbolo niceno – são aceitos por todas as igrejas cristãs. O Credo e o Pai Nosso são comuns às igrejas cristãs.
5. A primeira questão que se coloca para nós é que o Credo é também uma oração. Assumimos uma atitude orante no sentido de escutar o Senhor Nosso Deus. Atendemos à bem-aventurança: “Bendito o que escuta a minha palavra e a põe em prática”.
6. O termo felicidade, em hebraico e em grego, quer dizer marcha, marchar. Pessoas felizes: estão em marcha. Infelizes: pessoas congeladas. Ou seja, felicidade tem a ver com movimento. Por outro lado, as regras monásticas têm a ver com escutar e prática. Prática: seguimento do Credo, profissão de fé. Não se diz: “nós cremos” e sim “eu creio”. É pessoal, individual.
7. A afirmação “creio” é resultado desse espírito: Deus falou e eu me disponho a escutar. Maria também escutou. O resultado de escutar é a gravidez: quem escuta, engravida. Mas não basta engravidar: tem que deixar nascer, parir. Essa associação é fundamental, pois é preciso não cair na armadilha de imaginar que crer é apenas um estado psicológico. O resultado sempre é crer. E crer é fazer: Deus fala, eu escuto, ocorre uma gravidez e uma parição (ato de parir). É um verdadeiro efeito-dominó e tudo requer opção. Eu escuto e opto por parir ou não. O encontro de Deus depende também de mim, através da opção (o amor de Deus permanece, mas eu preciso optar e querer).
8. Vê-se, pois, o efeito-dominó da primeira afirmação de Credo (“Creio”). A morte do Messias estava prevista e Jesus assumiu isso de bom coração, assumiu a cruz. É bom ter em conta que uma coisa é o Jesus de Nazaré; outra coisa é o Jesus da Fé (pobre, humilde, reformador, revolucionário, que morreu na cruz).
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9. Observe-se que Jesus foi, a prestação, passo a passo, assumindo a vida, aprendendo. Como ser humano e bom judeu foi aprendendo a rever os seus conceitos sobre a religião. Ele teve que se dar conta de que o povo não era normalmente feliz.
10. Deus é tão Deus que se fez ser humano, vivendo o mistério da encarnação. Aceitou o limite humano sem perder a essência divina. Deus humilhou-se e virou gente. Ser gente não é ruim.
11. O credo apostólico foi difícil de sair como saiu. O problema sério foi justamente a humanidade de Jesus, envolvendo os primeiros séculos, o que foi objeto do Concílio de Trento e do Concílio Vaticano II. Anteriormente, foi considerado heresia o fato de não reconhecer a humanidade de Cristo. Está na Bíblia que Jesus não queria morrer. Precisamos crer nesse Deus humano e divino e não só naquele Deus distante, que está no céu.
12. Deus está no meio de nós. A nossa saudação habitual na missa é, mais do que isso, uma saudação litúrgica. Ele está realmente no meio de nós.
13. O que foi dito até aqui é o aspecto fundamental da primeira vertente (“Eu creio”). O Prof. Paulo Ueti referiu-se ao capítulo 10 de Lucas e, especificamente, à acolhida de Maria e Marta a Jesus e da saudação a Maria, “que escolheu a melhor parte”, escutando a palavra de Jesus. Foi também mencionado o capítulo 11 de Lucas, com a oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus. O centro do Pai-Nosso é “venha o teu Reino”, “seja feita a tua vontade”.
14. A mesma prática que Deus tem com você, cabe a você ter com o próximo, com a comunidade: bem-aventurança da misericórdia. Deus perdoou você primeiro.
15. O credo apostólico vem de que Deus acreditou em mim primeiro. Quanto mais eu creio, a minha crença junta-se com o credo do outro e daí nasce uma crença, o credo da Igreja.
Tem-se aí a crença pessoal e a crença eclesial (comunitária). Isso tudo se dá para que a comunidade seja melhor.
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16. O verbete do Credo diz: “Creio em Deus Pai”. Ou seja: eu não creio em qualquer Deus, mas naquele que é Pai. Em hebraico, pai quer dizer casa, morada. Abbá: paizinho. Duas vezes casa, morada. Deus (paizinho) não é uma casa qualquer, mas uma morada por excelência. Deus não precisa de exército, de imposto, de um séqüito: Ele é a figura da casa, da morada. O acesso a Ele é livre, público, cotidiano. Não há necessidade de pedir audiência.
17. Na espiritualidade e na fé, é preciso prestar atenção em que Deus eu acredito. O credo niceno diz: “Creio em um só Deus”, que é Pai. Ele é responsável por você, pelo seu provimento.
18. É bom que se tenha consciência da imagem bonita desse pai, desse paizinho: Deus não é homem, do sexo masculino (não confundir a nossa natureza com a natureza de Deus). Ele é mãe, Deus é misericórdia. Tem entranhas de mulher, útero materno. Foram lembrados trechos de Isaías (capítulo 49) e de Oséias:
“Ó céus, dai gritos de alegria, ó terra, regozija-te,
os montes, rompam em alegres cantos,
pois Javé consolou o seu povo,
ele se compadece dos seus aflitos.
Sião dizia: Javé me abandonou;
o Senhor se esqueceu de mim.
Por acaso uma mulher se esquecerá de sua criancinha de peito?
Não se compadecerá ela do filho do seu ventre?
Ainda que as mulheres se esquecessem
eu não me esqueceria de ti.”
“Até a ingratidão inflama o amor de Deus. O amor de nosso Deus.”
19. Deus cuida de nós. Ele escuta, pega no colo, amamenta. Deus que é esse tipo de pai e mãe (misericórdia). Deus não é macho ou fêmea.
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20. Muitas pessoas nas nossas igrejas têm medo de Deus. Precisamos aproximar Deus de nós, insistindo nessas imagens de Deus mais próximo, misericordioso, paizinho. Deus: o pai!
21. Foi lembrado o ano 586, em que o templo foi destruído. Deus vivia aprisionado no templo, que virou instrumento de separação de Deus de nós, numa autêntica segregação.
22. É preciso ver que o Espírito está em todos os lugares. O sacrário, a Igreja, a capela do Santíssimo, são todos locais especiais aos quais nos dedicamos especialmente (e não exclusivamente) a louvar a Deus. São lugares e ritos destinados especialmente a louvar a Deus.
23. Indagado sobre como deveriam se vistos os milagres, o Prof. Paulo Ueti afirmou que milagres são milagres. Teologia romana: experiência da hóstia consagrada (experiência especialíssima). Presença física e real? A eucaristia é presença real do Cristo, mas não presença física. O importante é ter por base que Deus, que se revela pelo Espírito Santo em Jesus, não é localizado mais num único e específico lugar. Com a encarnação e a ressurreição não é possível mais encontrar Deus num único local.
24. Para nós, cristãos, não é necessário ter Deus isolado num determinado lugar. Eu posso encontrar Deus em todos os lugares, especialmente na eucaristia.
25. São Paulo: eu não posso aprisionar Jesus. O jeito como ele está entre nós não é mais o mesmo depois da encarnação e da ressurreição.
Intervalo: 17h15 às 17h30
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26. Outras palavras do início do credo: “todo-poderoso”. Convém ter uma idéia precisa do que significa esse poder de Deus. A Bíblia sempre vai dizer, por exemplo, que os milagres são um sinal do amor de Deus por nós, por toda a humanidade. Os milagres e as atitudes de Jesus acarretaram problemas para ele, inclusive no sentido de que planejaram matá-lo. Isaías: “O Senhor é todo-poderoso em amor”. Ele é um “pastelão derretido” e essa é a contradição que Deus quis revelar para nós. O poder de Deus aparece pelo que me envolvo nesse espírito de amor de Deus: é preciso emergir, experimentar ânimo, desfazer as nuvens que nos impedem de amar.
27. Qual a imagem de Deus que temos em nossa cabeça?
28. Deus é Rei ?! A coroa de Jesus foi de espinhos. Súditos: Jesus não teve súditos ou servos. A sua missão foi a do sacrifício de cruz.
29. Precisamos retomar a leitura dos primeiros padres da Igreja. No século VIII esqueceu-se da Bíblia. É preciso recuperar a leitura da Patrística e da Bíblia.
30. A fé católica está baseada em três pilares:
a. Bíblia;
b. Patrística; tradição;
c. Magistério (da Igreja).
31. A base são os três pilares e não um só. A Patrística corresponde aos quatro primeiros séculos, com toda a contribuição dos padres do deserto e dos primeiros padres (Santo Antão, São Jerônimo, Evagrio Pôntico, São Crisóstomo e tantos outros). Foram lembrados também, entre outras referências do acervo da fé católica: Santa Hildegarda, Santa Catarina de Sena, Santo Inácio de Loyola, São Francisco, Santa Clara.
32. Temos que recompor a expressão “todo-poderoso” para poder entender o sacrifício da cruz. Quando eu entrego, eu recebo de novo; quando eu dou, eu recebo; é preciso desapegar-se. Isso é ser todo-poderoso.
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33. Paulo: Filipenses 2: “Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, a morte sobre uma cruz”. Poder de Deus: é você não achar que pode tudo. Quando se tem vida, quando se é capaz de morrer pelo irmão.
34. Jesus não é mágico de plantão e nem está a meu serviço. Eu é que estou a serviço do Reino de Deus, que Jesus veio revelar.
35. Outros pontos do Credo: “criador do céu e da terra”, ou seja, de todas as coisas. Deus não é engenheiro. Ele é artista: sensível, aberto, apaixonado, amoroso. Ele é criador. Cria-se para as pessoas e o mundo serem melhores. Ele é também excêntrico, isto é, para fora, para os outros. Deus faz não para Ele. Deus faz para o mundo.
36. Muitas vezes, falta para nós os olhos da espiritualidade, olhos de contemplação. O espírito de Deus é vento, é língua de fogo. Quando inspira, tudo morre; quando expira, tudo volta a florir (primavera).
Salmo 104 (103):
... “Escondes tua face e eles se apavoram;
retiras sua respiração e eles expiram,
voltando ao seu pó.
Envias teu sopro e eles são criados,
e assim renovas a face da terra.” ...
37. Deus não é criador só do Céu. Ele é criador de tudo, do céu e da terra, “das coisas visíveis e invisíveis”, como incluído no símbolo niceno. É preciso, pois, ter o olhar da contemplação (voltar para a arte).
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38. A filosofia tem um método, tem uma lógica. Na música, a partitura tem uma teologia.
39. A misericórdia, para onde leva? Para a humilhação, para a humildade. Falta para nós o aprofundamento para entender que Deus não criou só algumas coisas: por exemplo, a natureza boa do ser humano. Deus é de fato o criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. Deus cria tudo! Mesmo que depois a gente estrague o que foi criado, Deus estará ali para ajudar a consertar.
40. Finalizando o encontro, o Prof. Paulo Ueti explicou que o resultado da tentação é cada um fazer uma opção. A fé é o resultado de opções. Em qualquer delas, Deus estará ali para ajudar.
Brasília, 21/3/2006

segunda-feira, 13 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 01

Estudo do “Credo Apostólico” 01

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
1º Encontro: 13/3/2006, 2ª feira (16h07 às 18h05)
O Prof. Paulo Ueti iniciou o curso com a leitura e algumas
reflexões sobre o Salmo 130 (129), “De profundis”:
Salmo 130(129)
“Das profundezas clamo a ti, Javé:
Senhor, ouve o meu grito!
Que teus ouvidos estejam atentos
ao meu pedido por graça!
Se fazes conta das culpas, Javé,
Senhor, quem poderá se manter?
Mas contigo está o perdão,
para que sejas temido.
Eu espero, Javé, eu espero com toda a minha alma,
esperando tua palavra;
minha alma aguarda o Senhor
mais que os guardas pela aurora.
Mais que os guardas pela aurora
aguarde Israel a Javé,
pois com Javé está o amor,
e redenção em abundância:
ele resgatará Israel
de suas iniqüidades todas.”
1
O Salmo lembra o Deus verdadeiro, que não é mágico,
poderoso no sentido humano, mas libertador e bondoso.O Salmo procura recuperar a imagem perdida de Deus, o Deus de Amor. É o salmo por excelência da quaresma: Salmo penitente, mas não de sofrimento e fortemente afirmativo. Mostra quem é Deus: é nele que está o perdão, o amor, a redenção em abundância. O sofrimento não é grande coisa , é só o sofrimento; cometer erros é só cometer erros; as nossas bobagens são apenas as nossas bobagens.
A conversa prevista no curso sobre o “Credo Apostólico”-
os dois credos, o credo símbolo dos apóstolos e o credo símbolo niceno-constantinopolitano – terá por base a pergunta essencial: “Quem é Deus?”
Há quem imagine que o sofrimento é obra de Deus, vem
de Deus. É preciso desfazer essa idéia equivocada e, pela nossa profissão de fé, por meio do Credo, identificar pelo menos quem não é Deus.
O Prof. Paulo Ueti relembrou o retiro de que participou
com jovens, em que um deles, indagado sobre quem é Deus, procurou explicar que Deus seria como um velhinho que tinha dois cachorros bravos e ameaçava soltá-los sobre as pessoas.O tempo da conversão seria aquele disponível até que um dos cachorros chegasse até nós. Para alguns, pois, Deus é distante, rancoroso, faz acepção de pessoas, acena com ameaças.
Quanto ao sofrimento, é bom ter em conta que ele faz parte
da vida, da humanidade: não existe o ser humano sem sofrimento. Além disso, para cada um de nós, Deus é o centro da nossa fé: Ele não nos faz sofrer. Muitas das nossas mazelas nada têm a ver com Deus. A pobreza existente no mundo, por exemplo, não vem de Deus: nós não sabemos repartir! Deus nos faz perceber que as escolhas que fazemos muitas vezes não estão de acordo com a vontade do Pai. Deus está entre nós, mas depende de nós saber percebê-lo.
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Uma questão essencial é saber se a graça de Deus muda a
minha vida, ou não. Foi relembrada a história do evangelho, envolvendo Maria e Marta: quando Jesus ia à casa delas, observa-se que Maria largava tudo o que fazia para ouvir Jesus e ficar com ele. A presença de Jesus não mudou, porém, a rotina de Marta, que continuava assoberbada com os afazeres domésticos e reclamava a falta de ajuda de Maria. Esta, ao contrário, escolheu a melhor parte: a presença de Jesus mudou a sua rotina.
A afirmação de fé tem a ver com isso: a presença de Jesus
em minha vida modifica a minha rotina? A minha profissão de fé muda minha vida?
A imagem de Deus, portanto, está em jogo. Quem é Deus?
Qual a imagem de Deus que tenho segundo a minha fé?
10. O nosso encontro com Deus deve ser marcante. É só lembrar a história do samaritano misericordioso e perceber que o amor de Deus é pleno e não impõe condições. Deus é amor primeiro. Eu amo porque Deus me ama. Eu tenho que experimentar o amor de Deus. A nossa religião, a religião católica, não é a religião do mérito individual. Deus nos ama primeiro. O critério de Deus é a sua necessidade. A graça de Deus é pública, amorosa e incondicional. Um bom exemplo é o do patrão que foi em busca de operários durante o dia, em horários diferentes, e, no final, realizou o pagamento da diária a partir do último contratado, atribuindo-lhe o mesmo valor que havia acertado com o primeiro.
11. É preciso estarmos atentos e não cair na armadilha de cumprir o rito da missa, sem atender à essência religiosa; cumprir a lei e esquecer a graça de Deus, que justifica o Credo. É preciso relativizar a norma, estabelecer prioridades. Rezar por rezar não resolve: urge viver a religião, cumprindo naturalmente as normas.
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12. As obras são conseqüência da fé. Os milagres dependem da fé. Cabe viver na fé a profissão do Credo.
13. Deus é todo-poderoso. Só que o poder de Deus não é o imaginado pelos discípulos. Deus é o Messias que vai morrer na cruz!
14. Não se trata simplesmente de cumprir o rito da fé. É preciso ter conteúdo na fé. É preciso aprofundar a nossa fé. Temos que conviver e encarar o mistério, mesmo sem definí-lo, sem saber explicá-lo. Mistério não segredo. É preciso mergulhar no mistério.
15. São Tomás de Aquino: a respeito de Deus, só podemos dizer o que Ele não é.
16. Nós podemos dizer uma palavra sobre Deus, mas não a palavra sobre Deus. Deus é amor, é misericórdia. Deus não é mentiroso, não é carrasco, não é sofrimento.
17. O Credo Apostólico é uma afirmação de fé, mas não pretende dizer quem é Deus. Crer é viver. Crer na Bíblia é fazer. Mudar de vida de acordo com Jesus. Procurar parecer com Jesus.
18. Com base no Credo, a pergunta é: a minha fé me fez parecer com Jesus e acreditar nele? É preciso, através do Credo Apostólico, me transformar e ficar parecido com Jesus. Eu leio a Bíblia para parecer com Jesus.
19. A revelação de Deus para nós cristãos, não está na Tradição, nem na Patrística, nem na Bíblia, mas sim na pessoa de Jesus Cristo – um ser humano que é para nós, cristãos, a revelação de Deus. As outras religiões monoteístas, como o Islamismo e o Judaísmo têm, como revelação de Deus, o Corão e a Torá.
20. O Credo nos ajuda a rever a nossa imagem do Deus da Bíblia.
O Credo nasceu no IV século. Até então, não havia o Credo, pois não havia necessidade, uma vez que tudo era tranqüilo e fora de dúvida. As transformações havidas levaram à necessidade de retomar a origem das coisas, considerando que os quatro primeiros séculos mudaram muito a Igreja, requerendo a necessidade do Credo.
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21. O texto de Jó é ilustrativo, na medida em que mostra que os seus amigos religiosos vão dizer que conhecem Deus e que Jó está sofrendo porque pecou. O mesmo que se vê quando uma moça é violentada e se diz que a culpa é dela, porque anda com pouca roupa, se expondo. Para os amigos de Jó, a razão é que Deus castiga os pecadores e a culpa é dele, pecador. Jó, destemidamente, nega tudo isso.
22. Deus é maior que a minha capacidade de compreendê-lo.
Intervalo: 17h15 às 17h32
23. Após o intervalo, o Prof. Paulo Ueti indicou a leitura e a reflexão sobre o texto da Epístola aos Filipenses, a partir do capítulo 2, versículo 5 e seguintes:
“Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus;
Ele, estando na forma de Deus,
não usou de seu direito de ser tratado como um deus,
mas se despojou, tomando a forma de escravo.
Tornando-se semelhante aos homens e
reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se,
tornando-se obediente até a morte,
à morte sobre uma cruz.”
24. É requerido que se tenha o mesmo sentimento que havia em Jesus. Parecer com Jesus. Não esquecer quem é Jesus.
25. Jesus tinha a condição divina e não se vangloriou disso. Foi gente como nós, plenamente. Jesus esvaziou-se de si mesmo, desapegou-se, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. Humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, a morte de cruz. Obediente significa diálogo, significa escutar (de dentro, do fundo do coração) e praticar a vontade de Deus.
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26. Temos medo da cruz. Escutar é ir para o sacrifício da cruz. Termina na cruz, mas não significa ficar na cruz.
27. Jesus foi para a cruz. Parecer com Ele é também seguir o caminho da cruz. Não vamos esquecer que o “kit Jesus” é completo: vida, sofrimento, morte, ressurreição. Tudo acaba na cruz, que vira ressurreição.
28. Jesus não pede o sofrimento, que é resultado do seu amor pela humanidade. Fazer o mundo melhor causa sofrimento. A cruz faz parte da nossa fé.
29. Cabe a cada um de nós perceber a graça de Deus misturada com o sofrimento da humanidade. Tudo está junto e misturado.
30. A vida tem que ter método. Aprende-se isso no cotidiano do exercício da vida. Praticar o sofrimento. A religião é um caminho.
Caminhar com Jesus. A cruz está no caminho.
31. O Credo é fundamental para entender que a felicidade e a tristeza podem conviver na mesma mesa. A rigor, percebe-se que elas são a mesa: vivem juntas, fazem parte da vida!
32. Onde é o lugar de Deus? Qualquer lugar. Deus está em todos os lugares.
33. Nos próximos encontros, serão vistos e detalhados os 3 artigos essenciais dos dois Credos, o Credo Apostólico e o Credo Niceno-Constantinapolitano.
Brasília, 14/3/2006

sábado, 11 de fevereiro de 2006

Retiro Espiritual: “ Vivenciar a Oração Eucarística”

Retiro Espiritual: “ Vivenciar a Oração Eucarística”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Retiro Espiritual: “ Vivenciar a Oração Eucarística”
Pregador: Padre Antonio Donizete
Data: 11/3/2006 – sábado (8h às 17h35)
Local: Auditório Totus Tuus (Brasília-DF)
1. O evento teve início com a reza conjunta do terço, entre 8h e 8h40. Seguiu-se ligeira introdução com os avisos gerais, transmitidos pela Luzimar, e a apresentação feita pelo pároco da Igreja N. S. Perpétuo Socorro, Pe. Abdon Guimarães, incentivador da Escola da Fé.
2. O pregador do retiro, Pe. Antonio Donizete, redentorista, localizado em Goiânia-GO, iniciou lembrando a todos os participantes tratar-se de tarefa custosa a missão de fazer as pessoas rezarem juntas, observando momentos de concentração e de silêncio. A comunicação da nossa fé tem um grave problema, representado pela nossa falta de capacidade de separar os ruídos do conteúdo da fé. Frequentemente, nos chegam ao coração mais os ruídos do que o essencial – a barulheira é maior que o conteúdo da fé. Cabe, pois, esforço especial no sentido de educar melhor o conteúdo.
3. Leitura indicada: Isaías (50, 4-7):
“ O Senhor deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele que me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque seu que não sairei humilhado.”
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4. Vem a propósito, em tempo da Quaresma, a leitura do livro do Profeta Isaías, proclamada no domingo de Ramos, e nos recordando que todas as manhãs o Senhor no excita os ouvidos: é deixar Deus excitar os nossos ouvidos, a fim de que possamos ouvi-lo e perceber o que Ele tem a nos dizer. Somos uma cultura do barulho e, muitas, vezes, queremos competir e não deixamos Deus nos falar. É só lembrar o Evangelho de último domingo, proclamado por Marcos (9, 2-10), em que é mostrada a transfiguração de Jesus: Pedro, interrompe a conversão de Jesus com Moisés e Elias e propõe fazer três tendas. Pedro não sabia o que dizer e a voz do próprio Deus vem e diz para Pedro escutar: “Este é o meu filho amado. Escutai o que ele diz”.
5. A oração verdadeiramente cristã depende da nossa capacidade de saber ouvir. Presenciamos hoje a predominância da cultura do convencimento, cultura do marketing, com as suas técnicas e instrumentos poderosos de cooptação. Precisamos colocar-nos na atitude de diálogo com Deus na oração. Fazer o esforço e a tentativa de ouvir primeiro o que Deus tem para nos falar, de modo que nos diga o que quer dizer.
6. O Pe. Donizete convidou a assembléia a desenvolver um exercício de mais concentração: colocar-se cada um em posição confortável de repouso para orar, olhando fixamente para a luz da vela acesa no palco; fechar em seguida os olhos e sentir o corpo, desde o dedo do pé até o mais alto da cabeça.
7. Repetindo Isaías: O Senhor me excita os ouvidos e treina a minha língua. É preciso sermos inteiros. Vivemos num mundo profundamente fragmentado. Padecemos da necessidade de uma unidade interior e de fortalecimento da unidade da Igreja.
8. Foi destacado que a Oração Eucarística tem grandes momentos a serem vivenciados por todos nós, por toda a assembléia que participa da missa. Na prática, por falta de conscientização, são momentos mais de fracasso do que de exaltação, de verdadeira apoteose! O que fazer com essa oração singular, grande desconhecida da maioria das pessoas?
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9. Observa-se, frequentemente, uma falta de sensibilidade para a importância e beleza da Oração Eucarística com um todo, muitas vezes tida como longa e cansativa. Trata-se, na verdade, de uma fala inteira da Igreja, do seu coração, dirigindo-se a Deus em nome de toda a assembléia.
10. Na missa, até chegarmos à Oração Eucarística, Deus já falou por diversas vezes a todos nós, através de toda a Liturgia da Palavra. Na Oração Eucarística é a Igreja que fala à Deus, devolvendo a Ele tudo o que fez no mundo, a criação de tudo e da vida, tudo o que Ele disse ou pediu.
11. Vê-se que é dada pouca atenção à essência e ao conjunto da Oração Eucarística, no curso das celebrações. Foi lembrada a Carta do Papa sobre a eucaristia e , proximamente, a realização do 15º Congresso Eucarístico Nacional.
12. Cabe ver a Oração Eucarística como caminho da nossa espiritualidade. A idéia é, neste encontro, examinar e aprofundar a vivência da Oração Eucarística.
13. Antes disso, algumas idéias gerais para ter em conta. Vimos recentemente, na missas de domingo, o retiro de Jesus no deserto, segundo relato de Marcos, e anteriormente o batismo de Jesus, por João Batista; que era um homem do deserto e propagador da teologia popular. No batismo de Jesus, o Céu se abre e Deus fala:
“Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem-querer.”
14. Após isso, o Espírito empurra Jesus para o deserto, com as três realidades: os demônios, as feras, os anjos. Jesus fica sabendo que o primo dele, João Batista, estava preso. É anunciado que o Reino de Deus está próximo. Restam: promover a conversão e acreditar.
15. O objetivo de hoje é examinar o capítulo 9 do Evangelho de Marcos.
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16. As multidões acorriam em busca de milagres e procurando fazer de Jesus o Rei todo-poderoso. Os capítulos 15 e 16 de Marcos veiculam grande crítica a duas coisas: aos discípulos, que não acreditam em nada, e todos aqueles que procuram Jesus em busca de milagres. Os discípulos não sabem quem é Jesus e ele proíbe a todos de dizer quem ele é. O leproso curado por Jesus também não sabe quem é Jesus e é igualmente proibido de falar. Só quem sabe quem é realmente Jesus são os demônios. A multidão que procura Jesus também não sabe de nada: todos querem eleger Jesus e fazê-lo Rei, desejosos de ver garantida a cesta básica para comer. Ver de novo a multiplicação dos pães. Presenciar os milagres.
17. O verdadeiro Milagre, para ajudar no problema de combate à fome, é tirar o que está escondido e dividir com os outros. Vimos o milagre da multiplicação dos pães: a criança tinha cinco peixes e cinco pães. O que falta é a partilha de verdade.
18. Ao final, o que se vê no Evangelho de Marcos (capítulo 15, versículos 37 a 39) é a afirmação da fé do centurião romano: “Jesus, então, dando um grande suspiro, expirou. E o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo. O centurião, que se achava bem diferente dele, vendo que havia expirado desse modo, disse: Verdadeiramente este homem era filho de Deus.”
Em síntese: o centurião se converte quando vê Jesus expirar.
19. Neste último domingo, na transfiguração, Jesus proíbe severamente Pedro de dizer o que viu no monte Tabor. De lá, podia-se ver o vale do Jordão, a terra mais fértil do mundo. A região desfruta da melhor atmosfera climática, excelente para produzir de tudo. Jesus havia feito o seu retiro no pior clima, no próprio deserto, e leva os discípulos (Pedro, João e Tiago) para o melhor, o Monte Tabor. Ou seja, para ele, o mais difícil, para nós, o melhor.
20. Vimos, na transfiguração, a fala azucrimadora de Pedro, obrigando Deus a interferir e mandar Pedro calar, a fim de ouvir Jesus. Santa Teresa: “Só Deus basta!”. A oração genuinamente cristã (católica, apostólica, romana) é aquela em que Deus consegue se mim tudo o que Ele quer.
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21. Ao contrário, para nós, o objetivo da reza é sempre conseguir de Deus o máximo que nós queremos.
22. Foi enfatizado que não dá para ficar longe ou livre do sofrimento. O sofrimento está ligado à questão da fidelidade ao Senhor.
23. O pregador, Pe. Donizete, lembrou dois testemunhos de jovens em Aparecida de Goiânia, no contexto da convivência em presídio de 500 presos:
no primeiro deles, eram dadas graças em relação ao pai violento, foi embora e deu sossego;
no segundo, o pai alcoólatra, violento, agressivo, era objeto de constantes orações da mãe, e foi sustentado na família, apesar de todas as suas deformações. (morreu de cirrose)
24. É preciso perseverar na fidelidade e na oração. Fugir da falsa paz. Jesus: a força da paz representada pela capacidade de expirar dizendo ao Pai para perdoar a todos, porque não sabem o que fazem.
25. Oração Eucarística: graça, bela graça. Evangelho: bela notícia, boa notícia. Eucaristia: graça bela. É preciso aprofundar o seu sentido, para receber a tradição da bela graça e se alegar com ela.
26. Estamos próximos da Páscoa: o ponto alto da vigília pascal é estar na comunidade, conviver com ela. “ Ó Deus como estupenda caridade: dar ao filho para a culpa dos servos resgatar. Agradecimento a Deus por Adão ter pecado.” Se não tivesse havido pecado, não experimentaríamos a graça do Redentor na cruz. Até o pecado pode ser instrumento da ação de Deus.
27. A Eucaristia é dar graças, até pela culpa do Adão. É bendição (oposto de maldição). Liturgia eucarística: bela graça, ação de graças. Ação de graças, ou seja, fazeção: é hora de a Igreja fazer graça.
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28. O Prof. Donizete, após alguns cânticos e, utilizando transparências, ampliou as explicações e reflexões, enfatizando a necessidade de fazer revisão sobre o jeito de viver e celebrar a oração eucarística, como oportunidade para a igreja fazer graça.
A oração eucarística é fruto da história de cerca de 4000 anos, desde mais de 2000 anos antes da vinda de Cristo. Nasceu nas orações do Antigo Testamento (Deuteronômio, Josué, Salmos, Magnificat, Cântico de Simeão, de Isaías.)
29. No primeiro milênio da Igreja, superadas as grandes heresias dos séculos III, IV e V, via-se que a oração eucarística era manifestada de forma diferente – ela era concebida com um todo, em sua inteireza.
30. É importante considerar a Oração Eucarística no seu conjunto, como um todo, tal como se vê na reprodução da apostila distribuída (Oração Eucarística IV).
31. Como se vê, ela é uma única oração, sem sua inteireza, compreendendo nove pontos e dirigida pela Igreja ao Pai. Não se trata, pois, de oração dirigida à assembléia, mas ao Pai. É o sacerdote se dirigindo a Deus, em nome de todos nós.
32. O Pe. Donizete mencionou o texto, também distribuído, de autoria da pesquisadora Ione Buyst, intitulado LITURGIA EUCARÍSTICA (ação ritual, teologia, espiritualidade, prática pastoral, Eucaristia, sacramento da unidade). Em seguida, foram feitas leituras do mencionado texto, item a item, a partir das raízes e mais especificamente em relação aos “elementos, estrutura e dinâmica das orações eucarísticas atuais do rito católico romano”, sendo:
Diálogo introdutório entre presidente e assembléia para suscitar a participação e pedir licença para falar em nome do todos e todas;
Prefácio: proclamação (agradecida, com o coração em Deus) da maravilhas realizadas por Deus ao longo da história da salvação, explicando os mistérios celebrados em cada tempo do ano litúrgico;
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Santo, Santo, Santo: une as duas assembléias, a celeste e a terrestre;
Pós-santo: retomando a proclamação;
Primeira epiclese (sobre o pão e o vinho): influência dos orientais no concílio Vaticano II: explicitação da atuação do Espírito Santo na liturgia;
Narrativa da última ceia (instituição): Esta narrativa está ausente de vários textos antigos. É uma espécie de “enxerto” (embolismo), recorrendo à autoridade das sagradas escrituras, reforçando a dupla epiclese, o duplo pedido para que o Pai envie o Espírito Santo para transformar os dons do pão e do vinho, assim como a comunidade, em Corpo de Cristo;
Aclamação memorial: “Eis o mistério da fé! Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus.”
Memorial + oferta
Segunda epiclese (sobre os comungantes): nas liturgias orientais há, neste momento (após a narrativa da instituição e a anomnese), uma única epiclese com os dois pedidos entrecruzados em quiasmo literário e teológico. Assim, aparece de forma clara a “interação dinâmica entre os dois corpos de Cristo”, o corpo sacramental e o corpo eclesial. Pedimos a transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo, para que, comendo e bebendo deste pão e deste vinho, sejamos nós como a Igreja, transformados (“transubstanciados”) em Corpo de Cristo. É por isso que a eucaristia é chamada de “sacramento da unidade.” Em última análise, o que faz a Igreja ser é a celebração da eucaristia: “nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima eucaristia, a partir da qual, portanto, deve começar toda a formação do espírito comunitário.
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Daí a necessidade urgentíssima de se solucionar a falta
da celebração eucarística na grande maioria das assembléias
dominicais no Brasil. Não basta a distribuição de hóstias
consagradas e muito menos a adoração e outras devoções
ao Santíssimo Sacramento;
Intercessões: ampliam o pedido da segunda epiclese (epiclese dos comungantes): “que sejam um só corpo”;
Doxologia: síntese de toda a oração eucarística. Gesto de levantar o pão e o vinho: brinde ao Pai (“A ele toda a honra e toda glória”). Amém final: o amém é mais importante que a própria oração. Santo Agostinho: amém é nossa assinatura; sem ela, o “documento” não tem valor.
33. Foi dito, em resumo, que a oração eucarística é a oração do povo, dita pelo sacerdote. É momento de completa atenção, é hora de restabelecer aliança com Deus! Ela é a mãe, o coração da celebração eucarística.
34. Houve indicação de textos relacionados com o esforço das alianças com Deus: Livro de Josué (24, 2-14), Deuteronômio (26, 5-10), Livro de Neemias (9, 6-37) e Salmo 44.
35. Oração Eucarística é fazer graça para Deus: renovar a aliança com Ele. A Ceia pascal judaica é lembrança de tudo isso: tomar o alimento de Deus, lembrando os feitos de Deus e pedindo para continuarmos na aliança.
Intervalo: 10h30 às 10h55
36. É preciso ter em conta que os conceitos são limitados. Por isso, usamos os símbolos. Na celebração eucarística, o primeiro elemento decisivo é a assembléia, a comunidade comungante, participante e batizada. Ela é o Corpo de Cristo.
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37. Jesus está presente realmente na eucaristia. Jesus é a Palavra (leituras): palavra do Senhor; evangelho: palavra da salvação). A palavra acabou de acontecer, ela aconteceu no evangelho. Vem, em seguida, a homilia, com reflexão disso. Logo depois, temos a eucaristia, como restauração da aliança. A oração eucarística deve ser recuperada por nós como o diálogo de amor. “Deus perdoe-lhe a falta e restabeleça a relação.” João Paulo II: o povo deve entender o diálogo da aliança, resgate de uma relação com Deus. É a ação de colocar as pessoas na relação com o sagrado: tocar o sagrado e se deixar tocar pelo sagrado.
38. Sacramento: é Deus que entra na gente. Precisamos curtir a presença de Cristo na Palavra e na Eucaristia: “Anunciamos, Senhor, a Vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus.”
39. Prosseguindo na leitura do texto da pesquisadora Ione Buyst, o Pe. Donizete destacou algumas observações, a saber:
Prefácio: é a proclamação agradecida, feita com o coração, pelas maravilhas realizadas por Deus;
Santo, Santo, Santo: as duas assembléias se misturam, a celeste e a terrestre.
40. O Pe. Donizete retomou o tema da nossa fragmentação, insistindo em que somos pessoas fragmentadas, membros de uma assembléia também fragmentada. Alertou para a necessidade de curar a nossa dispersão. Com todos os participantes reunidos próximos ao altar na igreja, houve concentração para recolhimento de todos até o horário do almoço, às 12h30.
Intervalo para almoço: 12h30 às 14h10
41. Retomadas as reflexões do retiro, relembrou o Pe. Donizete os elementos da estrutura da oração eucarística, como os seus diferentes ritos. Foi feita recomendação dos seguintes livros do autor italiano Cesare Giraudo:
- “Num só corpo”; - “Redescobrindo a Eucaristia”.
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42. Prosseguindo: é preciso buscar um caminho de unidade, o caminho fundante da teologia: é como o esposo, no curso do seu caminho, querendo pegar de volta a esposa infiel (caminho da páscoa). Foi feita rápida descrição do caminho percorrido desde a cena do paraíso desfeito, com Adão e Eva, os filhos (Caim e Abel), etc. Tudo lembrando a tradição e a herança da estrutura da páscoa judaica, com a experiência dentro de casa. A celebração nossa na eucaristia é fruto da relação familiar, da experiência familiar.
43. A vivência da economia salvítica do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Foi referido que para os pentecostais a Bíblia é um livro revelado. Para os católicos a Bíblia é um livro inspirado e revelado por Jesus. Muitas das passagens ali descritas ficaram superadas com a vinda de Jesus Cristo. Jesus é a Palavra Viva!
44. Segundo Giraudo, no começo do Cristianismo a fé era aprendida na experiência de cada um. No primeiro século, a fé era buscada nas celebrações dos sacramentos (batismo, crisma, etc.). Mais adiante, a fé era aprendida e buscada na sala de aula (catequese), de forma racional.
45. A fé é experimentada no dia-a-dia, na convivência familiar. É preciso recuperar essa visão. A nossa eucaristia deveria possibilitar a convivência numa realidade de envolvimento duplo. É necessário voltar a cultivar as raízes.
46. Após alguns cânticos, foi recordado pelo Pe. Donizete que, no começo do dia, foi colocada para todos a possibilidade de busca de uma inteireza maior do nosso ser. Somos chamados a fazer a liturgia de ação de graças. Graça bela. Não dá para fazer graça bela se estamos fragmentados. O objetivo é, pois, a busca da unidade perdida. Para tanto, temos como base as cartas do Papa, instrumento valioso no sentido de recuperar a oração eucarística com um todo: ter em conta o pão e o vinho consubstanciados sem esquecer de toda a oração eucarística que o sacerdote leva ao Pai, em nome da assembléia. É, na verdade, um diálogo do Padre e da assembléia com Deus. A assembléia aceita o acordo novo e confirma com o Amém, formalizando a regra da aliança.
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47. Outro ponto: recuperar o direito de cada um da comunhão do pão e do vinho, disseminando, pelo menos aos domingos, a comunhão na duas espécies. Direito da Igreja: comer e beber!
Ver o novo Missal, com as adaptações introduzidas (pão azimo e vinho).
48. Procurar fugir da esperteza habitual do brasileiro, que procura pegar apenas o que interessa da fé. Ao contrário, tomar a fé por completo.
49. Corpo social: corpo eclesial e corpo sacramental. A função completa da eucaristia:
corpo sacramental – corpo eclesial – corpo social.
O pão transubstancial transubstancia a assembléia que transubstancia a sociedade. Nós somos templo do Espírito!
50. Indagado, o Pe. Donizete teceu comentários sobre a questão: “Como superar a idéia de que Deus é rancoroso e castiga?” Trata-se de tradição errada. A teologia do castigo foi eliminada pelo sacrifício de Jesus na cruz. A idéia do castigo está muito ligada ao Antigo Testamento. A partir da vinda de Jesus, com o Novo Testamento, a visão real é de que as coisas acontecem porque acontecem. Como eu reajo diante das atribulações? A oração tem poder, mas não nos tira da realidade do mundo.
51. As religiões muitas vezes vendem ilusões. O melhor da misericórdia de Deus não é o milagre, mas a fidelidade da graça.
Quem tem fé aproveita para lavar as vestes sujas de sangue das atribulações.
52. Dentro da oração eucarística, precisaremos grudar em Jesus na Palavra, na hóstia, em tudo. É preciso consubstanciar você, sua casa, suas mágoas, suas atribulações, fugindo das ilusões.
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53. É preciso transubstanciar o mundo: Deus na Palavra, Deus no pão e no vinho, nas pessoas, nas famílias, na comunidade.
São Paulo: não desperdice a graça de Deus que existe em nós.
54. Adotar o cuidado para não ficar murmurando ou blasfemando contra Deus.
55. A Igreja deve ser o local da experiência sacramental da relação íntima e amorosa com Deus.
Intervalo: 15h30 às 15h55
56. No retorno, foram dados breves avisos pela Luzimar, que antecipou a previsão de novo encontro com o Pe. Antonio Donizete nos dias 21, 22 e 23 de agosto, durante jornada bíblica (Apocalipse).
57. O Pe. Donizete retomou a palavra e condensou uma visão geral sobre a Oração Eucarística IV, em sua estrutura e dinâmica.
Oração Eucarística: o código da aliança. Destacou: além da transubstanciação do pão e do vinho, tem-se a transubstanciação eclesial e social.
58. Foi, por fim, relembrado a todos o começo da conversa de hoje com base do profeta Isaías:
“Todas as manhãs o Senhor excita o ouvido e adestra a minha língua.”
59. Encerrando a jornada do retiro, o Pe. Donizete convidou a todos os participantes para se deslocarem até a Capela São José. Lá, entre 16h30 e 17h35, e na presença do Santíssimo, desenvolveu oportunas e profundas reflexões sobretudo sobre a administração da nossa vida e do nosso cotidiano, à luz da espiritualidade e da força da graça misericordiosa de Deus.