Brasilia, 8 de janeiro de 2013.
Waldemir e Rogério,
Acabo de ler um romance forte, eletrizante: “Barba ensopada de sangue”, de Daniel Galera, Editora Cia. Das Letras, 2012, 422 páginas. O autor nasceu em São Paulo em 1979, mas viveu em Porto Alegre.
Li dele:
“Mãos de cavalo” (2006) e “Até o dia em que o cão morreu” (2003). Estilo arrojado, direto. “Barba ensopada de sangue“ é um texto agressivo, incisivo, demolidor: criatividade fulgurante, com diálogos precisos, devastadores. Dá gosto entrar no ritmo dinâmico da história e se deixar envolver pelos acontecimentos e pelo suspense. Trata-se de uma poderosa intriga familiar. O protagonista, cativante professor de educação física, apaixonado por natação, decide partir de Porto Alegre e se recolher numa aparente pacata cidadezinha do litoral de Santa Catarina, a fim de digerir: a) a recente morte do pai, que se suicidou e deixou-lhe por herança a cadelinha Beta, de quinze anos; b) o afastamento conturbado do irmão Dante, que terminou se envolvendo com sua namorada Viviane e passou a morar com ela em São Paulo; c) o intrincado mistério da morte do avô, o briguento Gaudério, supostamente assassinado a facadas no salão de festas, às escuras, do balneário Garopaba. O texto é sedutor e “repleto de violência e ternura ... um mergulho em nossas pulsões mais primitivas e uma investigação sobre a origem insuspeita dos mitos da vida comum, alicerçados em amores perdidos, conflitos de família, segredos inconfessos e nas dificuldades que enfrentamos para entender os outros”. Uma característica especial marca o professor de natação: por uma condição neurológica de nascimento, ele não consegue guardar a fisionomia das pessoas, tendo dificuldade de reconhecê-las no encontro seguinte. Isso lhe causa sérios constrangimentos no dia a dia, obrigando-o a um esforço para memorizar sinais especiais que facilitem o reconhecimento. No curso da história, a cachorrinha Beta é atropelada e assume posição marcante, revelando toda a dedicação do protagonista, que vive o drama de ter descumprido a promessa ao pai de sacrificá-la em seguida à sua morte. A busca incessante do avô é outra tarefa tenaz e dramática. Enfim, o livro nos envolve intensamente e a “imagem aterrorizante do título é apenas moldura para um romance lírico e sentimental”. Pareceu-me oportuno e feliz o comentário do escritor Gonçalo M. Tavares; “Barba ensopada de sangue é um livro muito forte e Daniel Galera, um escritor admirável - sério, robusto, tranqüilo. E este é também um livro assim, desde a primeira página. Como alguém que sai de casa sabendo exatamente para onde quer ir. Vai firme, mas não apressa o passo.”
Com afeto,
Antonio A. Veloso.
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