quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Barba ensopada de sangue - Daniel Galera


Brasilia, 8 de janeiro de 2013.

Waldemir e Rogério,
Acabo de ler um romance forte, eletrizante:  “Barba ensopada de sangue”, de Daniel Galera, Editora Cia. Das Letras, 2012, 422 páginas.  O autor nasceu em São Paulo em 1979, mas viveu em Porto Alegre.  

Li dele:
“Mãos de cavalo” (2006) e “Até o dia em que o cão morreu” (2003).  Estilo arrojado, direto.  “Barba ensopada de sangue“ é um texto agressivo, incisivo, demolidor:  criatividade fulgurante, com diálogos precisos, devastadores. Dá gosto entrar no ritmo dinâmico da história e se deixar envolver pelos acontecimentos e pelo suspense.  Trata-se de uma poderosa intriga familiar. O protagonista, cativante professor de educação física, apaixonado por natação, decide partir de Porto Alegre e se recolher numa aparente pacata cidadezinha do litoral de Santa Catarina,  a fim de digerir: a)  a recente morte do pai, que se suicidou e deixou-lhe por herança a cadelinha Beta, de quinze anos;  b) o afastamento conturbado do irmão Dante, que terminou se envolvendo com sua namorada Viviane e passou a morar com ela em São Paulo;  c) o intrincado mistério da morte do avô, o briguento Gaudério, supostamente assassinado a facadas no salão de festas,  às escuras, do balneário Garopaba.  O texto é sedutor e “repleto de violência e ternura ...  um mergulho em nossas pulsões mais primitivas e uma investigação sobre a origem insuspeita dos mitos da vida comum, alicerçados em amores perdidos, conflitos de família, segredos inconfessos e nas dificuldades que enfrentamos para entender os outros”.  Uma característica especial marca o professor de natação: por uma condição neurológica de nascimento, ele não consegue guardar a fisionomia das pessoas, tendo dificuldade de reconhecê-las no encontro seguinte.  Isso lhe causa sérios constrangimentos no dia a dia, obrigando-o a um esforço para memorizar sinais especiais que facilitem o reconhecimento.  No curso da história, a cachorrinha Beta é atropelada e assume posição marcante, revelando toda a dedicação do protagonista, que vive o drama de ter descumprido a promessa ao pai de sacrificá-la em seguida à sua morte.   A busca incessante do  avô é outra tarefa tenaz e dramática.   Enfim, o livro nos envolve intensamente e a “imagem aterrorizante do título é apenas moldura para um romance lírico e sentimental”.  Pareceu-me oportuno e feliz o comentário do escritor Gonçalo M. Tavares;  “Barba ensopada de sangue é um livro muito forte e Daniel Galera, um  escritor admirável -  sério, robusto, tranqüilo. E este é também um livro assim, desde a primeira página. Como alguém que sai de casa sabendo exatamente para onde quer ir. Vai firme, mas não apressa o passo.”


Com afeto,
Antonio A. Veloso.

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