segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Livro - A queda - As memórias de um pai em 424 passos

 livros ("A queda" - As memórias de um pai em 424 passos).

Brasilia, 31 de agosto de 2012.

Amigos.

O texto de “A queda” – As memórias de um pai em 424 passos, de Diogo Mainard, (Editora Record, 2012, 150 páginas), é emocionante e tem início com uma frase contundente,  sem retoques: “Tito tem um paralisia cerebral”.  O autor, nascido em São Paulo em 1962, foi colunista da revista semanal  “Veja”, publicou quatro romances e reside em Veneza, onde nasceu o filho primogênito Tito, em 30 de setembro de 2000, no Hospital de Veneza, no Campo Santi Giovanni e Paolo, conhecido por seus erros médicos.  O Hospital de Veneza errou no parto de Tito, o que lhe acarretou paralisia cerebral.  Os erros cometidos pela obstetra, descritos com minúcias, foram amplamente documentados no processo movido contra o Hospital .  A doutora responsável pelo parto resolveu acerelá-lo de maneira desastrada,  rompendo o saco amniótico no útero de Anna, a esposa de Diogo Mainard:  era um sábado e  “ela queria encerrar o quanto antes seu turno de trabalho.”  A iniciativa inadequada da obstetra, definida pelos peritos como “totalmente imprópria, inoportuna e perigosa”, gerou o esmagamento do cordão umbilical de Tito e ele sofreu uma asfixia e esta lhe causou um dano cerebral, que o impede de falar, andar e pegar objetos com as mãos.  A cesariana emergencial que se seguiu veio também com atraso: Tito nasceu quarenta e cinco minutos depois da primeira queda de seus batimentos cardíacos, quando teria que ocorrer em menos de vinte minutos.  “Tito nasceu verde”.  Diogo viu-o pela primeira vez em um dos claustros do hospital de Veneza, com o “nome escrito em um esparadrapo colado na tampa da incubadora: “Mingardi”.  Ou seja: até no nome o hospital de Veneza errou.  O relato de Mainard, passo a passo desde o nascimento de Tito, é comovente e lúcido, percorrendo a emocionante trajetória até alcançar os 424 passos de Tito, sem ajuda ou queda: “Eu aceitei a paralisia cerebral de Tito. Aceitei-a com naturalidade. Aceitei-a com deslumbramento. Aceitei-a com entusiasmo. Aceitei-a com amor.”  O autor, vibrante e abrangente, envolve a sua pungente história familiar -  Diogo,  Anna, Tito (hoje com 12 anos) e Nico (7 anos)  -  com a história mais ampla da literatura,  da arte,  do cinema, das idéias.    Nesse percurso denso  e substancial, seleciona episódios marcantes da Segunda Guerra Mundial e de suas atrocidades, em particular no tocante às brutais medidas para legitimar o extermínio em massa dos recém-nascidos inválidos e daqueles estranhamente  designados por uma “vida sem valor” e uma “vida inútil de ser vivida.”

Abraços,
Antonio A. Veloso.

O sentido de um fim

Brasilia, 27 de agosto de 2012.

Caros amigos.


O autor, Julian Barnes, é um dos mais elogiados escritores ingleses da atualidade, despontando com o seu 11º. Livro, ganhador do Man Booker Prize de 2011:   “O sentido de um fim”,  Editora Rocco, 2011/2012, 159 páginas.  Trata-se de uma revisita aos anos 60, na década e no país dos Rolling Stones, e mesmo assim falando de um sexo tímido, acanhado:  “Mas não eram os anos 60 ?  Sim, mas só para algumas pessoas, só em certas partes do país.”  O texto é genuinamente inglês, sutil, repleto de ironia, delicado, às vezes cínico e mordaz:  “o casamento é uma refeição comprida e sem graça onde servem o pudim primeiro.”  A narrativa é uma revisita ao passado, reproduzindo as coisas segundo “algumas lembranças aproximadas que o tempo deformou em certezas.” Tony Webster, “aos sessenta e poucos anos, careca e aposentado,” apresenta o resultado das suas investigações sobre “a fragilidade dos alicerces da memória,”  recorrendo às “lacunas de suas lembranças:  se eu não posso mais ter certeza dos acontecimentos reais, posso ao menos ser fiel às impressões que aqueles fatos deixaram.”  Tony Webster vai abrindo o baú das suas reminiscências, desde o tempo de colégio, inicialmente com os amigos Colin  e Alex e posteriormente incluindo o tímido e brilhante Adrian Finn, que terminou cometendo suicídio ainda jovem.   Do grupo,  Adrian era o único que vinha de lar desfeito, mas nem porisso se queixava de ter um estoque de raiva existencial, dizendo-se amoroso com a mãe e respeitoso com o pai.  Era fã e admirador do autor Camus, que afirmava ser o suicídio a única questão filosófica verdadeira.  Tony Webster refletia: “naquela época nos imaginávamos numa espécie de gaiola, esperando para sermos soltos na vida.  Enquanto isso, tínhamos fome de livros, fome de sexo, éramos meritocratas, anarquistas.”  Na Universidade de Bristol, discutiam com o professor de História, Joe Hunt: “o que é a história, Webster?  História é a mentira dos vitoriosos.  Colin:  história é um sanduíche de cebola crua, senhor.  Ela só se repete, ela arrota.  Adrian Finn:  “história é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas da documentação.“ Tony teve uma namorada complicada, Veronica Mary Elizabeth Ford, que ele imaginava ser virgem porque se recusava a dormir com ele. Foi marcante a visita de Tony à família de Veronica no final de semana,  em que se sentiu fortemente humilhado pelo pai e pelo irmão.  A segunda parte do texto é sobre o período da maturidade, quando se vai descobrindo , por exemplo, que `a medida em que as testemunhas de sua vida vão diminuindo existe menos confirmação, e portanto menos certeza, a respeito do que você é ou foi.”  A narrrativa ganha força e sutilezas, a partir de uma herança inesperada da mãe de Veronica  que faz Tony retomar contato com a ex-namorada e ter revelações sobre Adrian Finn, o amigo brilhante que se suicidou.   O texto é enigmático, atraente, cheio de inquietude.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Livro Nêmesis

Brasilia, 6 de abril de 2012.



“Nêmesis” é o título do elegante  e pungente  texto que acabei de ler do impecável Philip Roth, um dos mais brilhantes escritores americanos (Cia. das Letras 2010/2011, 194 páginas).  O autor, Philip Roth,  hoje com 78 anos e mais de vinte romances publicados, é escritor renomado, com vários e importantes prêmios, sendo o único escritor vivo a ter sua obra publicada em edição completa pela Library of America.  A narrativa de “Nêmesis” é cativante e dolorosa. No ambiente do final da Segunda Guerra Mundial, na comunidade de Nova Jersey, “ao calor asfixiante de Newark”,  descreve, com aflição e sofrimento, a terrível epidemia de poliomelite no verão de 1944, envolvendo jovens e adultos.  È todo o clima da crescente angústia da comunidade chamada Weequahic, em que os pais são alertados pelo Conselho de Saúde para “observarem de perto seus filhos e contatarem um médico se qualquer criança apresentasse sintomas tais como dor de cabeça, garganta inflamada, enjôo, pescoço enrijecido, dor nas articulações ou febre.”  A personagem central de “Nêmesis” é um jovem de 23 anos, professor de educação física, Eugene,  chamado pelo avô de Bucky Cantor  --   atleta dedicado, forte e vigoroso, fiscal do pátio de recreio e responsável pelo grupo de rapazes e moças que ali freqüentavam.  Bucky era dedicado e nutria uma intensa devoção pelos meninos do pátio:  era míope, usava óculos grossos e não tivera acesso ao recrutamento para a guerra, diferentemente de seus dois maiores amigos que haviam sido convocados para combate na Europa.  No pátio, a prova de fogo de Bucky foi quando, numa tarde,  diversos rapazes italianos do ginásio East Side,  entre quinze e dezoito anos, estacionaram nos fundos do pátio e anunciaram: “estamos espachando pólio”.  Bucky enfrentou-os com coragem e decisão: “após o incidente com os italianos ele se tornou um verdadeiro herói, idolatrado como um irmão mais velho e protetor, sobretudo para aqueles cujos próprios irmãos lutavam na guerra”.  É cativante e emblemática toda a atuação de Bucky na evolução dramática dos acontecimentos: “à medida que a poliomelite começa a devastar o grupo de crianças que freqüenta o pátio, não resta a Cantor senão absorver a realidade chocante que o cerca, com toda a sua carga de terror, raiva, pânico, sofrimento e dor.”  A narrativa cresce de impacto e ganha contornos novos e mais emocionantes na ida de Bucky Cantor para assumir cargo de instrutor na colônia de férias para crianças onde trabalhava sua noiva, Márcia, em compahia das duas irmãs gêmeas, no alto das montanhas Pocono (com ar fresco “purificado de todos os germes nocivos”).  “Nêmesis  é texto sólido e perturbante, mostra em Bucky um jovem decente, correto, com boas intenções e firme engajamento.  È doce e tocante o seu amor por Márcia e o relacionamento com as irmãs gêmeas;  são dramáticas as escolhas a serem feitas, diante das penosas e duras circunstâncias.

Abraços.

Antonio A. Veloso.

Livro: Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Brasilia, 27 de abril de 2012.

Encantei-me com a leitura de ótimo texto de autor brasileiro:  “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”,  de Marçal Aquino (Cia. das Letras, 2005/2012, 229 páginas).  

 O autor é paulista de Amparo, nascido em 1958, com diversos títulos publicados desde 1999;  foi roteirista de diversos filmes e o romance ora comentado serviu de base para filme que acaba de ser lançado no circuito comercial, sob a direção de Beto Brant e Renato Ciasca, com Camila Pitanga no papel principal.  O texto me surpreendeu agradavelmente:  é inteligente, bem elaborado e dinâmico, ótima concepção, atraindo vivamente o leitor.  Trata-se de romance cheio de sensações e surpresas, no contexto de uma “cidade de garimpo do interior do Pará, conflagrada pelas tensões de uma corrida de ouro ...”  Os personagens centrais vivem um tumultuado triângulo amoroso -  um fotógrafo vindo de São Paulo, Cauby, uma ex-prostituta , Lavínia,  mulher sedutora, instável e misteriosa,  e um pastor, o pacífico Ernani.  Circulando pelo texto, curiosamente, as “tiradas” e os “ensinamentos” do estranho e pouco hortodoxo filósofo do amor, professor Benjamim Schiamberg,  autor, entre outros, do livro “O que vemos no mundo”.  Também paralelamente aos acontecimentos principais, vai sendo desvendada a paixão platônica entre o Careca  e Marinês, com desfecho surpreendente.  Tudo isso num cenário de conflitos e turbulências  -  ambiente hostil, submundo, disputas entre garimpeiros e uma mineradora  -   com os personagens movidos por razões e forças que não conseguem controlar, ricas de surpresas.  A região,  em meio às tensões e disputas, é quase terra de ninguém, permitindo um pouco de tudo:  prostituição aberta, amores clandestinos, delitos, apedrejamentos e chacinas.  A qualidade e habilidade do autor amenizam e diluem os excessos, de tal modo que a leitura flui naturalmente e com gosto.  O estilo é enxuto, direto, bem articulado, às vezes beirando o cinismo, aberto nas cenas mais íntimas e sensuais.  Para mim, foi uma descoberta de autor refinado, talentoso, consistente, e que consegue conduzir com êxito a difícil travessia de uma “  vertiginosa e acidentada história de amor ... “
Abraços,
Antonio A. Veloso.

Livro O Tempo Voa – 50 anos de uma vida Pe Rafael Vieira

Brasilia, 9 de maio de 2012.


 A sensação é muito boa, a propósto da leitura do delicioso 15º. Livro do Pe. Rafael Vieira, Pároco da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul, aqui em Brasília: “O Tempo Voa – 50 anos de uma vida” (Scala Editora, Goiânia/2012, 120 páginas).  


O texto tem prefácio primoroso e revisão da paroquiana Márcia Lyra Nascimento Egg, que assinala:  “É um belo, autêntico e corajoso livro de vivíssimas memórias, um verdadeiro ato de bravura de alguém que cresceu o suficiente para não precisar mais mentir sobre coisa alguma”.  Com disciplina ,  o livro foi desenhado de 1963 a 2013, contendo temas específicos e reflexões para cada ano (alegria, sofrimento, liberdade ...), abrangendo os cinqüenta anos de idade do autor, acrescidos dos sete meses prematuros vividos no ventre materno.  Diferentemente do que  o autor procura minimizar, o texto é valioso e rico, embora muitas vezes despojado, revelando coisas íntimas, essenciais e perenes.  Nesse contexto, o autor revela: “Meu humor é terrível. Os amigos que vivem próximos de mim são altamente penalizados pelo meu costumeiro azedume. Divertir é uma das atividades que eu menos realizo na vida, ainda assim compreendo e aceito que se trata de uma benção.  Sorrir faz bem para a alma.  Uma vez eu li que o Espírito Santo é o bom humor da Santíssima Trindade”.  “Um sorriso ensina muito”.   Com humildade e zelo, o Pe. Rafael,  devagarinho, vai colocando as coisas no seu devido  lugar.” Jamais gostei de apanhar de ninguém, mas jamais tive prazer em bater nos outros. A força que busco tem outro poder:  é a força da fé. A força de Deus.”  Com sabedoria, fala em seguida das amizade que construiu desde a sua infância: “Conheço e amo pessoas esplêndidas”... “A amizade é uma experiência completa ... Acho que se pode dizer que ser cristão é ser amigo”.  Reflete, também com força, sobre o discernimento: “Discernir é o verbo que se conjuga para tomar consciência mais profunda do que somos e queremos, do que somos capazes de falar e de fazer... E estou certo de que discernir seja algo muito próximo da oração”.  O Pe. Rafael viveu amplas e variadas experiências, no Brasil e no mundo, que são indicadas com riqueza de informaçõese avaliações, inclusive aquelas que representaram a tentativa de “redescobrir a si mesmo e andar em outra direção.  No capítulo de 1983, por exemplo,  saiu de novo do seminário, dessa vez “com tudo bem planejado e comum propósito bem definido:  eu me sentia vocacionado, era verdade, mas precisava fazer uma experiência concreta de trabalho e de namoro”.  Em 1987, sob o título de vocação,  é relatado o início da sua habilitação para o ofício de jornalista e o tocante episódio de relacionamento com ator da TV Globo, com o grande envolvimento de amizade e o trágico desenlace após o ano em que se encontraram em Roma, sem nenhum comentário da doença que o estava vitimando.  Nos  anos
 de 1990 a 1993, fala com intensidade das viagens a Roma e outros países, fato que mudou a rota da sua vida.  Em seguida, volta ao Brasil e retoma suas atividades e os desafios interiores: “Hipertenso, obeso, compulsivo, sedentário, estressado, eu só conseguia ver problemas na minha frente” .  Em 1998 ,  enfrentou séria depressão: “Não me lembro de ter ido tão fundo no sentimento de vazio existencial“ .  O ano de 1999 é marcante de emoções, especialmente em torno do Papa João Paulo II, a quem foi entregue, na praça de São Pedro, um volume com um milhão de assinatura do povo brasileiro de apoio ao gesto de celebração do ano jubilar de 2000. Define o Pe.Rafael: “Emoção é o nome que a gente dá a todas as vezes em que o nosso ser transborda”.   A análise feita no ano 2000, sobe o amor, é importante e densa:  aos 37 anos, confessa       que ainda o “transtornava um pouco avaliar o namoro e o casamento como possibilidades concretas”.  Não se tratava de insegurança vocacional, pois estava pacificado em suas escolhas: “o que me trazia inquietude era considerar a vida em suas surpresas.”  De passo em passo, enfim.tudo vai se mostrando em crescimento e os prenúncios para 2013, segundo o autor, são de vislumbrar um ano cheio de vigor para a Igreja inteira e de animação
pessoal: “A fé é o meu alimento de todos os dias... O vigor que sinto vem da minha fé...  Minha vida é a expressão absoluta do quanto Deus é bom com os pequenos e os pobres.”  Mergulhei no livro e me encantei!
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Abraços.
Antonio A. Veloso.

Livros : Tia Júlia e o escrevinhador

Acaba de ser reeditado no Brasil, no contexto da Coleção Folha – Literatura Ibero-Americana, um dos textos mais originais e preferidos do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura:  “Tia Júlia e o escrevinhador”, Editora Objetiva, 1977/2012, 397 páginas.  


Trata-se, na verdade, de romance que foi iniciado em Lima em 1972, continuado em Barcelona, na República Dominicana, em Nova York,  e , após múltiplas interrupções, concluído quatro anos depois e finalmente publicado em 1977.  A narrativa, cheia de humor , descreve um amor proibido, entre Varguitas, de 18 anos, e a tia de 32 anos.  Tem como segundo eixo a história de um boliviano estranho e excêntrico, autor de radionovelas populares,  Pedro Camacho.  As novelas, transmitidas diariamente, alcançaram grande sucesso na Lima dos anos 1950,  até o momento em que o autor, sobrecarregado e desorientado, começa a perder o rumo das coisas, misturando personagens e confundindo enredos, sendo internado em um manicômio sob forte descontrole emocional.  O estado de perturbação é de tal ordem que o autor das radionovelas passa a arquitetar catástrofes e terromotos que matam  os personagens principais, permitindo o recomeço das histórias.  No romance, Varguitas é um jovem jornalista com aspirações literárias, vivendo em torno das duas experiências marcantes -  a convivência com o surpreendente Pedro Camacho, sucesso absoluto na criação das rádionovelas,  e o envolvimento amoroso com a fascinante tia Júlia, quase três vezes mais velha e divorciada.  O texto é altamente criativo, uma caudal  de histórias extravagantes, melodramáticas, truculentas, algumas vezes próximas da caricatura – tudo debaixo de extrema genialidade, antecipando o renomado escritor.  Um mundo exuberante e cativante, que se revela no narrador do livro como “um sentimental propenso aos boleros, às paixões declaradas e às intrigas de folhetim”. Uma referência especial é devida no tocante  às peripécias do inusitado casamento de Varguitas com a chamada tia Júlia, enfrentando a forte objeção da família:  a trabalhosa peregrinação do casal por diversos municípios do interior do país, em busca do Prefeito que se dispusesse a realizar a difícil união, com impedimentos legais.  È como diz Paulo Werneck na precisa apresentação do texto: “A educação sentimental e o aprendizado  da escrita do futuro Prêmio Nobel de Literatura estão entrelaçados neste romance autobiográfico de 1977, um dos mais bem construídos (e cômicos) das letras hispano-americanas”.

Abraços,
Antonio A. Veloso.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Livros ("Os filhos da viuva")



È sempre um prazer renovado poder  retomar o contato com a escritora Paula Fox, hoje com 89 anos, que considero uma das mais brilhantes do cenário americano.  Acabei de ler o quarto livro dela publicado no Brasil:  “Os filhos da viúva”, escrito em 1976 e disponível pela Cia. das Letras, 1976-1986/2011, 233 páginas.  Li, anteriormente:  “Pobre George” (1967), “Desesperados” (1970)  e “A Costa Oeste” (1972).  “Desesperados” é, sem dúvida, o melhor de todos.  Paula Fox já escreveu mais de vinte livros “infanto-juvenis”, muitos deles premiados, e seis “para adultos”.  “Os filhos da viúva” é um texto complexo, de intensos e instigantes diálogos, envolvendo uma estranha família hispano-americana.  Laura Maldonado,  autoritária e voluntariosa,  e seu “frouxo marido”, Desmond Clapper, na véspera da partida de navio para a África, convidam um pequeno grupo para a despedida  -  inicialmente para drinques num hotel de luxo de Manhattan e em seguida para jantar em refinado restaurante de Nova York.  Os convidados são:  Clara, filha do primeiro casamento de Laura, insegura, tímida e submissa;  Carlos, um dos dois irmãos de Laura, assumidamente homossexual;  e Peter Rice, editor de livros, amigo da família, discreto admirador de Laura.  A mãe de Laura, Alma,doente, vivia num abrigo para idosos há cerca de dois anos e, justamente na tarde dos eventos de despedida, havia falecido  -  fato apenas conhecido por Laura, mas não revelado a mais ninguém.  O livro tem apenas sete capítulos, de tamanhos desiguais, sendo o primeiro o mais longo (80 páginas), sob o título “Bebidas”, relatando o demorado e conturbado encontro com drinques no hotel, em que se inicia intenso e forte diálogo do grupo, refletindo mágoas, desencontros e asperezas das diferentes personalidades.  A linguagem é frequentemente áspera e amarga:  “Os filhos homens da minha mãe são uns incapazes  -  sovinas demais até para casar. Imagine só, tornar-se um homossexual para não ter que sustentar uma mulher”.  Os conflitos perduram  durante o jantar e culminam com a cena inesperada de retirada de Laura, que sai pela noite chuvosa de Nova York, sem guarda-chuva ou casaco.  A narrativa ganha força e novos contornos:  o amigo e discreto Peter é incumbido de, ainda na madrugada, notificar pessoalmente os dois irmãos sobre a morte de Alma, a viúva do título do livro, com a restrição categórica de que Clara não poderia receber a notícia, “pois não se interessaria por ela”, segundo a mãe Laura.  Trata-se, em síntese,  e uma espécie de tragédia grega moderna, numa linguagem seca, dura, direta, enxuta e impiedosa ...
Abraços.
Antonio A. Veloso.

domingo, 18 de março de 2012

Livro - Por favor, cuide da Mamãe

Brasilia, 18 de março de 2012.



Acaba de ser publicado no Brasil livro de autora sul-coreana que é uma boa novidade:  “Por favor, cuide da Mamãe”, de Kyung-Sook Shin, Editora Intrínseca, 2008/2012, 236 páginas.  Autora  de vários romances, recebeu diversos prêmios e vive hoje entre Seul e Nova York, onde é professora na Colúmbia University. “Por favor, cuide de Mamãe”, primeiro livro de Shin publicado no Brasil, alcançou sucesso mundial, tendo sido publicado em 23 países: somente na Coréia do Sul, vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares.  A narrativa é delicada, terna, encantadora. A personagem central, a Mamãe Park So-nyo, de 69 anos (ou são 71 anos?), é moradora de uma aldeia pobre no interior da Coréia do Sul: tem quatro filhos já crescidos e o marido, com quem está casada há mais de cinqüenta anos.  A família está reunida em Seul, na casa do irmão mais velho, Hyong-chol, trocando idéias a respeito do desaparecimento da Mamãe,  há cerca de uma semana. O marido, como sempre fazia, caminhava à frente da mulher, na certeza de que ela o seguia, embora recentemente ela tenha reclamado para que ele andasse mais devagar.  Park So-nyo havia sofrido um derrame há alguns anos, o que passou praticamente despercebido pela família, mas que a deixou desorientada, confusa, vulnerável.  Levava uma vida de dificuldades e sacrifícios, trabalhando duramente.  Na visita aos filhos em Seul, perdeu-se do marido e ficou sozinha, à entrada do metrô, não conseguindo voltar a manter contato com qualquer um deles.  Os filhos e o pai se desdobraram numa busca incessante, dia e noite, ponto a ponto.  Enquanto isso, pela visão de três deles são narrados e revelados aspectos pouco conhecidos da vida atribulada e sacrificada da Mamãe, gerando relexões, profundas emoções, lembranças do passado e até mesmo remorsos. O relato é delicado e envolvente, mostrando uma mulher que poucos conheciam de verdade, batalhadora e repleta de emoções.  Para mim, foi particularmente surpreendente o intenso clima religioso  descrito no epílogo, com vivas cores cristãs, durante a viagem de Chi-on, a filha escritora,  à Itália,  acompanhando o namorado Yu-bin,  na bela descrição da visita à Basílica de São Pedro,  diante da visão emocionante da Pietá, a mãe de Jesus: “Tão logo vê a graciosa imagem da Mãe de Jesus amparando o corpo do filho que acabara de exalar o último suspiro, você se sente paralisada. Será o mármore? Parece que o filho morto ainda conserva algum calor no corpo.  Os olhos da Mãe de Jesus estão cheios de dor, enquanto sua cabeça se inclina na direção do corpo do filho caído no colo... “  E aí se dá o clímax:   “Mas agora que vê a estátua do outro lado do vidro, sobre um pedestal, envolvendo com seus braços frágeis toda a dor da humanidade desde o Gênesis, você não consegue dizer nada...  E só então as palavras que você não conseguiu dizer diante da estátua escapam de seus lábios.  Por favor, por favor, cuide da Mamãe”.   Sobre o livro, o escritor Abraham Verghese, autor de Cutting for Stone, afirmou:  “Um romance maravilhoso, que permaneceu em minha mente muito tempo depois de eu ter terminado de ler suas últimas e perturbadoras páginas”.
Abraços.

Antonio A. Veloso.

sábado, 10 de março de 2012

Livro - A ausência que seremos


 

Sou grato ao Padre Carlos Sanchez, da Igreja de São Pio, do Sudoeste, aqui de Brasília, pela gentileza com que me brindou recentemente, propiciando-me acesso ao que ele chamou “uma pequena amostra da literatura colombiana contemporânea”:  trata-se do texto de memórias autobiográficas intitulado “A ausência que seremos”, de Hector Abad, Cia. das Letras, 2006/2011, 317 páginas. È um texto impressionante, forte e duro, corajoso, revelador de toda a imensidão de um amor de filho em relação ao pai, médico sanitarista; reconstrói, ao mesmo tempo, a luta insana contra as injustiças sociais, num clima de intensa turbulência e de violência na Colômbia. O depoimento é vigoroso, denso e rico, evoluindo de uma imensa ternura familiar para acontecimentos dramáticos de fortes conflitos sociais e políticos, cruéis e devastadores.  O autor vai desde o início de sua infância e descreve com força a belíssima convivência com o pai, no ambiente de uma família curiosa: são dez mulheres (Tatá, de cem anos, quase cega, que fora babá da avó;  duas empregadas, Emma e Teresa;  as cinco irmãs, Maryluz, Clara, Eva, Marta, Sol;  a mãe Cecília e a freira Josefa, encarregada de cuidar do Abad e da Sol); um menino, Hector Abad, e o pai, Hector Abad Gómez.  Desde cedo, o menino devotava ao pai um amor acima de todas as coisas:”amava-o mais que a Deus.  Um dia teve que escolher entre Deus e o pai”.  A freira Josefa sentenciou que o pai não ia à missa e, porisso, iria para o inferno. A criança logo retrucou: “não quero mais ir para o céu. Não gosto do céu sem meu pai. Prefro ir com ele para o inferno.”  O pai, médico, professor e lider na defesa dos direitos humanos, era na verdade um cidadão especial,  amoroso, amigo e afetuoso:  sempre que chegava em casa, “me abraçava, me beijava, dizia um monte de frases carinhosas e, para terminar, soltava uma sonora gargalhada.”  Esse tratamento do pai destoava do padrão da sociedade de Antioquia (era tido como “cumprimento de mariquinha e de menino mimado”), pois a tradição local ensinava que o cumprimento entre os homens, pai e filho, deveria ser “distante, seco e sem demonstrações de afeto”.  Sobre o pai, era dito ainda que: “Conforme o dia, meu pai se declarava agnóstico, ou crente nos ensinamentos de Jesus, ou ateu de terra firme (pois nos aviões se convertia momentaneamente, fazendo o sinal da cruz na hora da decolagem)”.  Em outras palavras, o pai se declarava”cristão em religião,marxista em economia e liberal em política”.  A narrativa ganha força na reconstrução da trajetória do sanitarista Hector Abad Gómez, devotado na defesa dos direitos humanos, a despeito de todos os riscos no ambiente de guerras da Colômbia.  O título do livro decorre dos versos iniciais do soneto de autoria de Jorge Luis Borges (“Já somos a ausência    que seremos, o pó elementar que nos ignora ...”) e que o autor leu pela primeira vez ao encontrá-lo num papel manchado de sangue ainda fresco, no bolso do pai vitimado numa calçada, instantes depois de ser fulminado por matadores de aluguel.  O autor “mergulhou fundo na alma do seu povo e compôs um livro sensível sem sentimentalismo, cru sem truculência, carregado de dor e surpreendente humor ... “  A perda dramática do pai, em 25 de agosto de 1987,  foi guardada com zelo e maturidade durante cerca de vinte anos, período em que se manteve em maturação e decantação, de modo que só em 2006 foi objeto de publicação em livro.  Valeu a pena !  Segundo a avaliação de Pierre Assouline, “A ausência que seremos tem todos os ingredientes para nos devastar de tristeza. Diante de nossos olhos, o romance se desenrola com carinho, afeto e ternura”.


Antonio A. Veloso.

sábado, 3 de março de 2012

Livros - A invenção de Hugo Cabret

Brasilia, 03 de março de 2012.

 
No clima de divulgação das premiações do Oscar de cinema (o filme, na direção de Martin Scorcese, ganhou cinco prêmios), acabei de ler, com genuíno encanto, o curioso”A invenção de Hugo Cabret”, texto e ilustrações de Brian Selznick, Edições SM, 2007/2012, 533 páginas. Trata-se de livro juvenil, próprio para jovens e adolescentes, que dá para ler de um só fôlego.  A história é quase ingênua ( e criativa ), revelando um mundo de mistérios, incertezas, perigos e suspense.  O ambiente físico é a central de trem  de Paris, dos anos 1930, onde Hugo Cabret, menino órfão de 12 anos, vive escondido e circulando por passagens secretas e  estreitos caminhos.  O cronometrista da estação era tio de Hugo Cabret, bebia muito e num dado momento desapareceu, deixando o garoto, seu aprendiz, incumbido de cuidar diariamente de todos os relógios da estação.  Hugo Cabret era muito habilidoso e sabia cuidar de todas as engrenagens:  acertava as horas, escutava os compassos, observava os enormes ponteiros e ficava responsável pelo bom funcionamento das máquinas.  Hugo Cabret guarda um importante segredo e procura se manter escondido, invisível de todos.  A sua aventura toma forma e enfrenta embaraços na medida em que se envolve com o dono da loja de brinquedos da estação e com a sua afilhada, Isabelle.  O atraente relato das coisas nos leva à origem do cinema, à convivência com o homem mecânico -  a figura central do autômato, salvo de incêndio no museu - ,  aos mistérios do caderno de Hugo, da chave de Isabelle e de outros enigmas.  Com rara beleza, a história é narrada com a mistura de texto e sugestivas gravuras,  empreendendo a experiência da agradável leitura.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Amor, o Gênio e a Poesia

Brasilia, 28 de fevereiro de 2012.

Caros amigos do Clube do Livro (Abace),
Antecipo-lhes alguns comentários sobre o livro indicado para avaliação no próximo encontro do Clube do Livro, em 26 de março próximo.Abraços. Antonio A.Veloso.

TEXTO:  “O Amor, o Gênio e a Poesia”, de Dilson Ribeiro, Projecto Editorial, 2008, 251 páginas.


O autor, nascido em Barreiras, no Estado da Bahia, é escritor experiente, jornalista, com vários livros publicados, inclusive sobre temas jurídicos.  Poeta, cronista, editorialista, contista, foi diretor de importantes jornais, com ampla experiência jornalística na Bahia, no Rio de Janeiro, em Brasília;

O títulodo livro dá a dimensão da tarefa a que se propôs, desenvolvida em 18 agradáveis capítulos, que remontam à criação do universo, com a beleza e a poesia do Gênese; ao falar do milagre da criação, o autor associa poesia e amor:  vemos nomes relevantes como o de Luiz de Camões, fazemos a releitura do episódio de Inês de Castro;  mergulhamos, no decorrer de 13 capítulos, na vida romântica de Castro Alves, segundo uma biografia nada convencional, que examina a sua obra e os seus amores, “em consonância com o agitar-se de um jovem revolucionário e um intenso amor, ou a paixão de corações que arrebentaram preconceitos“
São muitas as curiosidades e as boas novidades em torno da cuidadosa biografia do jovem Castro Alves, prematuramente sonegado do nosso convívio:  a força das poesias, os textos teatrais de sucesso (O Gonzaga), a descrição minuciosa do tiro que obrigou Castro Alves a abandonar os estudos de Direito,com a necessidade da amputação do pé, sem anestesia;  o périplo do jovem poeta por Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, e a volta melancólica à Bahia e do sofrimento insuportável que enfrentou;
-   merece referência especial o cuidado em enriquecer a biografia de Castro Alves com a transcrição da troca de correspondência entre José de Alencar e Machado de Assis e com o documento ímpar da conferência de Euclides da Cunha sobre o biografado;
-   no capítulo XVII, o autor faz uma análise do gênio e dos mistérios que se escondem no cérebro humano, responsável pelo avanço das grandes conquistas em todas as áreas do saber.  Fala dos variados gênios da humanidade e enaltece o gênio especial e particular de William Shakespeare;
-   no capítulo XVIII o autor analisa a poesia moderna, a partir da Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo;
-   finalmente, em conclusão,  o autor oferece ao leitor poemas selecionados de Fernando Pessoa,  de Vinicius de Morais, Mário Quintana, Zilneide Ribeiro de Mendonça, Carlos Drumond de Andrade, e um conjunto de sete poemas de sua própria autoria.  

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Livro - Paris é uma festa


Brasilia, 25 de fevereiro de 2012.


         Estou concluindo a leitura de “Paris é uma festa”, de Ernest Hemingway: Editora Bertrand Brasil, 15ª.edição, 1964-1999/2011, 236 páginas. Hemingway começou a escrever o livro em Cuba, em outubro de 1957, e terminou de escrevê-lo em 1960, novamente em Cuba, cobrindo o período de 1921 a 1926, em Paris.  Trata-se de livro póstumo (publicado em 1964), cujas provas Hemingway estava revendo quando se suicidou em 2 de junho de 196l.  São as evocações de Paris dos anos 20, considerado à época o centro do mundo, “ que levava celebridades e aqueles que viriam a ser célebres a povoar intensamente as ruas, os cafés e os restaurantes de Paris.”  Era, de fato, o cenário efervescente das grandes celebridades: Picasso, Ezra Pound, Joyce, Scott Fitzgerald, Gertrude Stein e muitos outros.  “E. por isso, Paris era uma festa ininterrupta, monumental, disseminada ... imperdível... “ È o próprio Hemingway quem diz: “Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê. Mas, neste livro, quis retratar a Paris dos meus primeiros tempos, quando éramos muito pobres e muito felizes.”  O texto chega a ser surpreendente -  uma prosa amena e suave, escrita com amor e ironia  -  ,  diferente do estilo habitual do autor, com contos normalmente secos, duros, econômicos, sempre em busca daquele “momento da verdade que não admite trapaça nem acomodações”.  Hemingway nos mostra muita coisa interessante e pessoal, numa paisagem humana rica de contrastes: participamos da sua convivência com a tumultuada e agitada Gertrude Stein (e sua companheira Alice);Stein nunca se dirige à mulher de Hemingway, Hadley: “nunca me dirige a palavra, disse Hadley. Sou apenas uma esposa. Quem conversa comigo é  a companheira dela”;    participamos da intimidade de Stein , inclusive de parte da cena do desenlace amoroso dela

com a  amante, em que Hemingway discretamente se afasta para não participar do constrangimento;  conhecemos a origem da referência à geração perdida: “É isso o que vocês são  -  disse miss Stein. Todos vocês, essa rapaziada que serviu na guerra. Vocês são uma geração perdida”; presenciamos a delicadeza do tratamento de Hemingway com o grande poeta Ezra Pound, para ele o “cândido e compreensivo anjo”; vemos a interessante e sentimental amizade com Scott Fitzgerald, inclusive o curioso relato da viagem a Lyon, a fim de trazer de volta a Paris o automóvel Renault abandonado por ele e sua mulher Zelda, devido ao mau tempo.  São, enfim, histórias contadas com muita ternura e ironia, com momentos de suave melancolia, alternados com alguns raros instantes de irritação e crrueldade. Nem sempre a revelação é completa, deixando-nos na expectativa do mistério final...  Para mim, pessoalmente, foi surpresa agradável  o tom de encanto e cumplicidade em torno de sua mulher Hadley, e o carinho amoroso com o filho Bumpy.  Em resumo, texto muito gostoso.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Livros ("A visita cruel do tempo").

Brasilia, 19 de fevereiro de 2012.

Acabei de ler romance premiado que me foi gentilmente presenteado pelo nosso amigo comum Juraci, aqui de Brasília:  “A visita cruel do tempo”, de Jennifer Egan, Editora Intrínseca, 2010/2012, 335 páginas.  È estimulante ver, com esse lançamento, que a agenda editorial brasileira está atualizada e ativa, publicando, já no inicio de 2012, o Prêmio Pulitzer de Ficção de 2011.  A autora, 49 anos, ganhadora também de outras premiações importantes, nasceu em Chicago, cresceu em São Francisco e vive no Brooklin com o marido e os filhos.  A narrativa, de muitas e variadas histórias, entre 1970 e os dias atuais, reúne mais de vinte personagens: começa com Sasha, mulher de cerca de 30 anos, cleptomaníaca, relatando ao seu terapeuta o roubo de uma carteira de couro no banheiro do Hotel Lassimo, ao tempo em que fala do encontro com um sujeito mais jovem, Alex (que conheceu pela internet), sem parar de referir-se ao seu ex-patrão Bernie Salazar, um produtor musical de Nova York, ex-integrante de uma banda punk rock, responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits.  Bernie, agitado e com manias, recuperando-se do divórcio,  salpicava flocos de ouro no café, como afrodisíaco, e passava repelente no sovaco, como desodorante.  Tornou-se amigo de Lou, outro produtor musical idoso que se cercava de namoradas e esposas muito jovens, como forma de se proteger da velhice.  Sacha, quando mais jovem, era desregrada e viveu experiência conturbada na Itália, no submundo de Nápoles. São muitos os personagens que desfilam do texto: Stephanie, a ex-esposa de Bernnie;Jules, o seu irmão, jornalista especializado em celebridades, preso por tentar estuprar atriz de Hollyood durante uma entrevista;  a assessora de Imprensa Dolly, que se envolve em dificuldades e acaba trabalhando a imagem de um general ditador e genocida. Há a descrição de um safári na África em 1973 e, por fim, o relato apoteótico de um concerto de rock num lugar ao ar livre em Nova York, sob clima futurista e sob o barulho de helicópteros,  com  o atormentado guitarrista Scotty Hausmann.  A escritora é ousada e dotada de recursos técnicos apurados:  constrói uma narrativa fragmentada, descontinuada, entrelaçando e alternando passado e futuro, com capítulos em primeira pessoa, em terceira e em segunda pessoa. O leitor terá que se manter atento e concentrado, raramente sabendo em que ano está ou de quem é aquela experiência que está sendo narrada. Um dos capítulos, de 76 páginas, é todo ele apresentado em Power Point, sob a concepção de Ally, de 12 anos, filha de Sasha.  No final de tudo,  vê-se que o elemento central é o tempo, inexorável e cruel, como fica sublinhado na conversa de pressão entre Bennie e Scotty: “O tempo é cruel, não é? Vai deixar ele intimidar você?   Segundo The New York Review of Books:  “Um romance esplêndido e inesquecível sobre decadência e resignação, sobre indvíduos em um mundo em constante mudança.  Egan é uma das escritoras mais talentosas da atualidade.”

Abraços.

Antonio A. Veloso.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Livro "Como governar o mundo"

Brasilia, 8 de fevereiro de 2012.




Amigos,


Apresento-lhes resenha rápida sobre “Como  governar o mundo”, de Parag Khanna (Editora Intrínseca, 2011, 271 páginas):


-  Trata-se de narrativa ambiciosa sobre o estado atual e o futuro das relações internacionais no mundo. È um levantamento amplo e envolvente, cobrindo os países, os continentes, as diferentes regiões e colocando no meio de tudo a ação da megadiplomacia hoje exercida por nações, estados, ONGs, empresas, impérios, uma mídia poderosa: enfim, todos os agentes que atuam nos diferentes níveis de atividade. È, em síntese, um panorama dinâmico do mundo e de seus problemas  -  os grandes conflitos, as diversidades étnicas, o terrorismo, as desigualdades, as desigualdades, as iniqüidades.  O autor procura realçar o papel da megadiplomacia, com a sua força e talento ,para administrar os conflitos e tendo  a capacidade de arrecadar os recursos indispensáveis para tornar mais justa a vida das pessoas, melhorar a   economia global, realizar a reconstrução de estados desorganizados e falidos, enfrentar e combater o terrorismo, alimentar os países pobres e necessitados, fornecer água, segurança, educação, evitar o desastre ambiental, propiciar a boa governança.   O autor já publicou outro livrro (“O segundo mundo”), é renomado, tendo sido eleito como uma das “Pessoas mais influentes do século XXI” pela revista Esquire; escreve para o New York Times e Financial Times e é comentarista da CNN e BBC; graduado e pós-graduado pela Universidade de Georgetown, PHD pela London School of Economics.  Como disse, o texto ora oferecido é um decidido manifesto em favor da megadiplomacia e das suas virtudes como instrumento relevante para melhor governar um mundo sem fronteiras.  O autor é corajoso e polêmico em algumas de suas posições, formulando propostas concretas para solução de problemas cruciais do mundo.  Exemplos:  a noção de “bom governo” suplanta com rapidez a democracia como mantra global;  o Irã deveria ser inundado por contratos comerciais, midiáticos e diplomáticos que o obrigariam a ser mais transparente em suas atividades;  a solução defensável para a Coréia do Norte é dar garantias de que os Estados Unidos não a invadirão;  a “guerra contra o terror” não apresentou resultados melhores do que a “guerra contra as drogas”;  a política externa americana tem favorecido a “guerra longa“, em detrimento da guerra local, mais importante (apesar de suas conexões globais, o terrorismo é principalmente local);  a Doutrina, Responsabilidade de Proteger é natimorta; ela deveria exigir da comunidade internacional que interviesse quando os governos se revelassem incapazes de proteger seu povo ...”  “Uma estratégia inteligente seria insistir em afastar os chefes de estado que muitas vezes são a fonte de todos os problemas. Afastar os maus líderes  -   sim, depô-los violentamente  -  sem punir o povo...”  Segundo, o autor, “uma das principais tarefas dos novos colonialistas é, portanto, derrubar os líderes medievais, no pior sentido da palavra”.  O texto revela grande esforço de pesquisa e de busca de informações.  Para o autor, como já assinalado, “Diplomacia é a resposta em uma só palavra para governar o mundo – e melhorar nosso desenho diplomático global é a chave para melhor governarmos o mundo”.   A globalização, “ao conferir poder e autoridade às redes terroristas transnacionais, ao crime organizado e aos traficantes de drogas, tornou alguns países fracos ainda mais fracos, enquanto empresas multinacionais e ONGs cresceram em poder e estatura”. Por isso, no seu entendimento, “a megadiplomacia é a grande esperança de confrontarmos um mundo de caos neomedieval de altos riscos.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Livros ("O grande Gatsby")

Brasilia, 25 de janeiro de 2012.



Gostaria de registrar o meu quase deslumbramento com a leitura,  embora só agora tardiamente feita por mim, do famoso romance do F. Scott Fitzgerald: “O grande Gatsby”, Penguim/Cia. das Letras, 1926/2011, 249 páginas.  A apresentação, por sinal excelente, é de autoria do crítico literário inglês Paul Antony Tanner (1935-1998), que assinala, logo de início, a insistência do autor em manter para título do livro a denominação Trimalchio em West Egg, lembrando que “ Trimalchio é o novo-rico vulgar e de imensa fortuna de Satyricon, de Petrônio, um mestre das alegrias gastronômicas e sexuais que oferece um banquete de luxo inimaginável, do qual indiscutivelmente participa  -  ao contrário de Gatsby, que é um espectador sóbrio e isolado das próprias festas.” O romance, escrito durante a permanência de Fitzgerald em Paris, simultaneamente com a mudança de Hemingway e Gertrude Stein (“a geração perdida” da literatura americana), é um primor de texto, finamente elaborado, sofisticado e glamoroso.  Retrata com fidelidade o espírito dos anos 20, a extravagante Era do Jazz, com a sensação do frustrante sonho americano.  As principais personagens do relato são marcantes:  o narrador, o velho-pobre Nick Carraway, morador de West Egg, no estreito de Long Island,  vizinho da mansão de Gatsby;  o enigmático e carismático Jay Gatsby, o novo-rico autor das festas bombásticas, assistente privilegiado e personagem solitária, apaixonado por Daisy, esposa de Tom;  a Srta. Jordan Baker, jogadora de golfe, companheira de Nick, amiga de Daisy;  o casal Tom Buchanan e Daisy, endinheirados e descuidados, ele um brutamontes mal educado e violento.  No texto, pareceu-me patética e emblemática a figura de Gatsby e de particular relevância a força da presença do narrador Nick.   A narrativa é fortemente envolvente.  Destaque-se, ao final, o trecho do encontro de Nick e Tom Buchanan, caminhando na Quinta Avenida, em Nova York, em que o narrador diz sobre o Tom:  “Eu nunca seria capaz de perdoá-lo ou de gostar dele, mas vi que seus atos eram, a seus olhos, inteiramente justificáveis. Tudo decorrera de forma descuidada e confusa.  Eles eram todos descuidados e confusos.  Eram descuidados, Tom e Daisy  -  esmagavam coisas e criaturas e depois se protegiam CPOR trás da riqueza ou de sua vasta falta de consideração, ou o que quer que os mantivesse juntos, e deixavam os outros limparem a bagunça que eles haviam feito...  Apertei a mão do Tom; me pareceu tolo não fazê-lo, pois tive a súbita impressão de que estava lidando com uma criança.”  Trata-se, a meu ver, de excelente texto, que recomendo a todos.  Nas palavras do crítico britânico Tony Tanner: “Na minha opinião, O grande Gatsby é a obra de ficção mais perfeitamente construída da literatura americana”.  Abraço caloroso para todos.

Antonio A. Veloso.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Livros ("A assombrosa viagem de Pompônio Flato")

Brasilia, 15 de janeiro de 2012.





Por indicação do nosso Araken, de São Paulo-SP, que foi Diretor do Banco Central e que é nosso amigo, acabei de ler o gostosíssimo e curioso “A assombrosa viagem de Pompônio Flato”, de Eduardo Mendoza (Editora Planeta, 2008/2010, 207 páginas).  O autor, nascido em Barcelona em 1943,  é renomado e publicou vários romances, muitos deles premiados, inclusive o ótimo “A cidade dos prodígios”, de 1986, homenagem especial a Barcelona, sede tradicional de Convenções Internacionais.  O texto de “A assombrosa viagem de Pompônio Flato” é um requinte de criatividade e ironia:  a história se passa no século I da nossa era, no ambiente de Nazaré, alcançando a vida de São José e Maria e a infância de Jesus.  Pompônio Flato é um cidadão romano, tribuno, de grande curiosidade pelo conhecimento e as aventuras: “Que os Deuses o poupem, Fàbio, desta praga, pois de todas as maneiras de purificar o corpo que o destino nos envia, a diarréia é a mais pertinaz e diligente.”  Na sua intensa lida de “busca do saber e da certeza”, ele vinha sofrendo com freqüência de diarréia:  “Pois acontece que tendo chegado às minhas mãos um papiro supostamente encontrado em um túmulo etrusco”, tive “notícia de um arroio cujas águas proporcionam sabedoria a quem as bebe”.  Desse modo, Pompônio Flato viaja pelos confins do Império Romano em busca dessas águas de efeitos miraculosos e toma conhecimento de que, ao sul da Silícia, existe um lugar onde uma estranha corrente de água escura e profunda, ao ser bebida pelo gado, torna as vacas brancas e as ovelhas negras.  Nesse seu périplo, Pompônio acaba chegando à cidade de Nazaré, onde está para ser crucificado um carpinteiro de nome José, condenado pelo brutal assassinato do rico cidadão Epulão.  Contratado pelo filho do carpinteiro, o menino Jesus,  Pompônio Flato termina por se envolver, a contragosto, na tentativa de solução do mistério e na identificação do verdadeiro assassino.  O estilo do autor é original e irônico, na verdade irreverente e malicioso:  explica, antes de tudo, que a execução do criminoso não poderia, para estabelecer o exemplo, ser
por decapitação, “que é um método decente, rápido e discreto, sendo preferível a crucifixão. O problema  estriba em que a cidade não dispõe de nenhuma cruz, e por isso tivemos que encomendá-la a um carpinteiro, e dá-se a incômoda circunstância de que o carpinteiro é justamente o réu que temos de executar”.  Fala com delicadeza da cortesã Zara a Samaritana e tece elogios às suas “virtudes”: “Zara a Samaritana mandou as crianças irem dar forragem ao cordeiro e, mal haviam saído, fechou a porta  a chave, conduziu-me ao leito e num instante, com grande perícia, aliviou o meu desassossego e consolou meus tormentos”.  Coloca na boca de Jesus-criança a seguinte avaliação: “Andei pensando e decidi que quando for grande vou casar com Lalita (a filha de Zara). Sei que a mãe dela é uma pecadora , mas como agora sou filho de um criminoso, não acho que haja impedimento. Também pensei em mudar de nome e me chamar Tomás. O que você acha, raboni?”  O enredo do livro vai crescendo numa “trama detetivesca original e irônica, que desemboca em uma sátira literária e em uma criação de inesgotável vitalidade.”   Vale a pena deliciar-se.
O abração do
Antonio A. Veloso.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Livros lidos em 2011.

Brasília, 5 de janeiro de 2012.

Amigos queridos,

Repasso-lhes, a seguir, a relação dos livros  lidos no recém encerrado ano de 2011:

l)        “O Planeta do Sr. Sammler”, de Saul Bellow, Editora Artenova, 1969/1975, 209 páginas;
2)        “Despedida em Veneza”,  Louis Begley, Cia. das Letras, 1998/2000,  222 páginas;
3)         “Passageiro do fim do dia”,  Rubens Figueiredo, Cia. das Letras, 2010, 197 páginas;
4)          “Caçando Eichmann”,  Neal Bascomb, Editora Objetiva, 2009/2010, 383 páginas;
5)          “Bravura Indômita”,  Charles Portis,  Alfaguara, 1968/2011, 187 páginas;
6)          “Mauá”,  Jorge Caldeira, Cia. das Letras, 1995,  557 páginas;
7)          “Ligeiramente fora de foco”,  Robert Capa, Editora CosacNaif,  1947/2010, 296 páginas;
8)        “Churchill”,  Paul Johnson, Editora Nova Fronteira, 2009/2010,  159 páginas;
9)          “Percorrendo Memórias”,  Aloysio Campos da Paz Junior, gráfica Rede Sarah, 2010,  l90 páginas;
10)     “Meu tipo de garota”,  Buddhadeva Bose, Cia. das Letras, 1951-2009/2011, 146 páginas;
11)      “A República dos Bugres”,  Ruy Tapioca, Editora Rocco, 1999/2000,  530 páginas (Abace, Clube do Livro);
12)   “Ressurreição”,  Liev Tolstoi, Editora CosacNaif,1964/2010,  431 páginas;
13)      “Desesperados”,  Paula Fox,  Cia. das Letras, 1970/2007, 186 páginas (Abace, Clube do Livro);  



14)     “A Restauração das Horas “ ,  Paul Harding, Editora Nova Fronteira, 2009/2010,  150 páginas;      


15)   “Cristãos que se beijam e o Crepúsculo dos Deuses”, João Paulo dos Reis Velloso, Editora Civilização Brasileira, 2011, 430 páginas;
16)  “Saga Brasileira – a longa luta de um povo por sua moeda”, Miriam Leitão, Editora Record, 2011, 475 páginas;
17)   “Imortal”,  Traci L. Slatton, Editora Bertrand Brasil, 2008/20ll, 532 páginas (Abace, Clube do Livro);

18)“Um dia”,  David Nicholls, Editora Intrínseca, 2009/2011,  411 páginas;
19)   “O retrato de Dorian Gray”,  Oscar Wilde, Editora Nova Cultural, 2002/2003, 238 páginas (Abace, Clube do Livro);
20)   “Através do espelho”,   Jostein Gaarder, Cia. das Letras, 1995 -1998/2010,  141 páginas (Abace, Clube do Livro);
     21)     “Deus está cansado” ,  Everardo Moreira Veras, Edições Sarev, Recife-PE, 2011, 143 páginas;
22)   “Liberdade”,  Jonathan Franzen, Editora Cia. das Letras, 2010/2011, 605 páginas;
23)   “A última façanha do major Pettigrew”,  Helen Solomon, Editora Rocco, 2010/2011,  431 páginas;
24)   “Uma providência especial”,  Richard Yates, Editora Alfaguara, 1965, 1969/2010, 30l páginas;
25)   “Um homem perfeito” ,  Naeem Murr,  Editora Benvirá, 2007/2010, 478 páginas.

Abraço afetuoso.

Antonio A. Veloso.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Livros ("O desfile de Páscoa")

Brasilia, 4 de janeiro de 2012.




Estou iniciando o ano de 2012 com um texto de alta qualidade, fruto da descoberta pessoal de um escritor americano requintado, Richard Yates.  Romance admirável, emocionante, a despeito da “dureza” da história: “O desfile de Páscoa”, de Richard Yates, Editora Alfaguara, 1976/2010,  22l páginas. Autor falecido em 1992, é hoje reconhecido como um dos maiores escritores americanos do século XX e que vem sendo redescoberto pelos leitores e pela crítica: publicou sete romances e duas coletâneas de contos, sendo três já publicados no Brasil: “Foi apenas um sonho (Rua da Revolução)”, 1961-1989/2009, filmado e adaptado sob a direção de Sam Mendes, com Leonardo Di Caprio e Kate Winslet;   “Desfile de Páscoa” ,  1976/2010; e “Uma providência especial”, 1965-1969/2011.  O texto de “O desfile de Páscoa” é vibrante, delicado, envolvente, melancólico: é a história de Sarah e Emily, duas irmãs muito ligadas e diferentes.  “Nenhuma das duas irmãs Grimes teria uma vida feliz e, olhando em retrospecto, sempre  pareceu que o problema começou com o divórcio dos pais. Isso aconteceu em 1930, quando Sarah estava com nove anos e Emily, cinco.”  A irmã mais nova, Emily, quer ser como a mais velha, Sarah, “bonita e extrovertida, e tem ciúmes da relação da irmã com o pai”.  Sarah se casa logo cedo com um jovem arrojado, que parece o marido ideal.  Emily segue uma vida mais solta e prefere a vida mais independente, interessada no sucesso profissional.  Os seus relacionamentos são mais instáveis e acidentados, nunca a satisfazem inteiramente.  No fundo de tudo, a vida de ambas esconde grandes conflitos de família e de relacionamentos, descrevendo trajetórias tumultuadas e tempestuosas.  Para o leitor, é um grande e vibrante envolvimento, às vezes dolorido e melancólico.  Como assinalou o escritor Kurt Vonnegut: “Poucos homens, desde Flaubert, mostraram tanta simpatia por mulheres cujas vidas são um inferno”. Em síntese,   trata-se de “um livro corajoso, brilhante” (Sunday Herald).
Abraços.
Antonio A. Veloso.