sábado, 30 de julho de 2011

Livro - Desesperados

Brasilia, 30 de julho de 2011.

Envio-lhe a minha resenha do “Desesperados” e peço-lhe a gentileza de fazer distribuir entre todos do Clube do Livro (reunião do próximo dia 08.08.2011. Abraços.

Antonio A. Veloso

Texto: “Desesperados”, de Paula Fox, Cia. das Letras, l970/2007,  186 páginas.

-  Trata-se de uma leitura primorosa, sutil, prosa enxuta e impecável, rigorosa, envolvida num humor ácido e sem concessões. È um romance de múltiplos suspenses, descritos com delicadeza e força, rigor e densidade.
-   A autora, Paula Fox, nasceu em Nova York em 1923 e começou a escrever aos 43 anos.  Foi colocada por sua mãe numa instituição de caridade e criada, em parte, pela avó espanhola e em parte  por um pastor protestante. Publicou  mais de uma dezena de livros infantis, aclamados e premiados, e cerca de seis livros para adultos, sendo três publicados no Brasil:  “Pobre George”, “Desesperados” e “Costa Oeste”.  Fez grande sucesso na época dos lançamentos, nos anos 60, mas foi praticamente esquecida e só agora redescoberta com grande força, tendo sido objeto de amplo reconhecimento pelo escritor americano Jonathan Franzen (autor do recém lançado “Liberdade”), que faz a cuidadosa apresentação de reedição brasileira do “Desesperados”.
-   O texto parte de um final de semana do casal de meia-idade Sophie e Otto Bentwood, recém instalados  no Brooklin, em área de população pobre. Tudo parecia normal e pacífico, até que um gato de rua, a quem Sophie oferece um pouco de leite, lança-se sobre ela e morde a sua mão.Sophie passa a cultivar o medo de ter contraído raiva, ao mesmo tempo em que, ambiguamente, recusa ajuda, sob a desculpa de que não é nada, “o gato não estava doente”, 
-   A partir desse acontecimento aparentemente banal, desencadeia-se um processo de múltiplas tensões, gerando um clima de pessoas aflitas e desesperadas:  em particular, para Sophie e Otto, é a dúvida imediata e constante sobre a gravidade ou não do incidente com o gato (sensação de coisa à toa, mas se for raiva?);  a insegurança sobre as inquietações do casamento, nitidamente em baixa;  o rompimento traumático da sociedade entre Otto e Charlie, este sendo praticamente o amigo de toda a vida do Otto; o desenlace tortuoso entre Sophie e o amante Francis, casado e que volta de repente para a esposa, sem maiores explicações; o estranho comportamento de Haynes e sua família, incumbidos de fiscalizar a propriedade de campo do casal Otto e Sophie, na aldeia de Flynders, mas mesmo assim deixando-a ser assaltada e depredada;  o suspense da intrusão do estranho negro na residência do casal, sob a alegação premente de que precisava telefonar urgente para a rodoviária; a tensão da pedra atirada na janela do apartamento do amigo Mike Holsteir numa noite de recepção para jantar.
-   O estilo narrativo da autora é refinado e atraente.  È particularmente tocante a descrição do episódio que envolve Sophie na despedida do amante Francis, com destaque para o desenlace sem barulho ou confusões.
-   Finalmente, recomendo a leitura atenta do ótimo texto de introdução do Jonathan Franzen , que leu o livro, em l99l, por seis vezes e, vivamente interessado, revela a disposição de relê-lo.

Brasília, 30/07/2011.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Livro - Um Dia, de David Nicholls

Brasilia, 20 de setembro de 2011.

Repasso-lhes resenha de romance que acabei de ler e que é uma boa novidade, em termos de texto criativo, inteligente, leve e solto: “Um Dia”, de David Nicholls, Editora Intrínseca, 2009/2011, 411 páginas.  O autor, nascido em 1966, em Hampshire, Inglaterra, é formado em literatura, trabalhou em espetáculos teatrais, foi vendedor de uma rede de livrarias, leitor de peças e pesquisador da BBC  Rádio Drama e editor de roteiros, tendo publicado dois outros romances (“Startes for Ten” e “The Understudy”).  Para ilustrar, reproduzo algumas impressões sobre “Um Dia”:
-   The Times: “Um livro sensacional. Sensacional”. “Inteligente, engraçado, sagaz e, por vezes, insuportavelmente triste”;
-   The Guardian: “Provavelmente o melhor livro do ano”;
-   Nick Hornby, escritor: “Cativante, inteligente, espirituoso”;
-   Herald: “Nicholls captura o tédio dos recém-formados. Um texto sem falhas”;
-   Álvaro Pereira Júnior, Folha de S.Paulo: “Eu não seria capaz de descrever quanto é excelente e quanto adorei Um Dia”;
-   The Independent: “Difícil encontrar uma comédia romântica tão afiada e doce como a história de Dex e Em.”

O romance é uma narrativa instigante sobre duas pessoas visceralmente ligadas, diferentes entre si, que desenvolvem uma bonita trama de amor: com inicio em l5 de julho de 1988, na formatura de Emma Morley e Dexter Mayhew,  Em e Dex, estende-se por vinte anos, contada a cada dia l5 de julho. Os dois personagens são apresentados a cada ano nessa data, segundo suas circunstâncias, às vezes como amigos, outras como apaixonados, em outras ocasiões apenas se falando, cada um vivendo os seus relacionamentos e amores.  Temperamentos diferentes – ela, mais recatada e tímida, mais amadurecida, tentando realizar os seus projetos de vida, ele completamente desligado e solto, bonitão, curtindo a vida e as aventuras, frequentemente bêbado e “chapado” -  vão tocando independentemente as suas trajetórias, mobilizando o leitor na expectativa de poder ver o casal, finalmente,  ajustado e vivendo junto. È emblemática a descrição completa do primeiro dia (15 de julho de l988), em que Em e Dex celebram a formatura da Universidade no apartamento alugado de Emma e de sua amiga Tilly Killick.  O romance, publicado em 2009 sem maior estardalhaço, acabou tendo enorme sucesso pelas indicações boca a boca, com mais de um milhão de cópias vendidas, traduzido para 31 idiomas e com permanência de três meses na lista dos mais vendidos do “New York Times”. Adaptado pelo próprio autor, deverá ser lançado no cinema proximamente, em novembro deste ano. Divirtam-se!   Abraços.

Antonio A. Veloso.