terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Amor, o Gênio e a Poesia

Brasilia, 28 de fevereiro de 2012.

Caros amigos do Clube do Livro (Abace),
Antecipo-lhes alguns comentários sobre o livro indicado para avaliação no próximo encontro do Clube do Livro, em 26 de março próximo.Abraços. Antonio A.Veloso.

TEXTO:  “O Amor, o Gênio e a Poesia”, de Dilson Ribeiro, Projecto Editorial, 2008, 251 páginas.


O autor, nascido em Barreiras, no Estado da Bahia, é escritor experiente, jornalista, com vários livros publicados, inclusive sobre temas jurídicos.  Poeta, cronista, editorialista, contista, foi diretor de importantes jornais, com ampla experiência jornalística na Bahia, no Rio de Janeiro, em Brasília;

O títulodo livro dá a dimensão da tarefa a que se propôs, desenvolvida em 18 agradáveis capítulos, que remontam à criação do universo, com a beleza e a poesia do Gênese; ao falar do milagre da criação, o autor associa poesia e amor:  vemos nomes relevantes como o de Luiz de Camões, fazemos a releitura do episódio de Inês de Castro;  mergulhamos, no decorrer de 13 capítulos, na vida romântica de Castro Alves, segundo uma biografia nada convencional, que examina a sua obra e os seus amores, “em consonância com o agitar-se de um jovem revolucionário e um intenso amor, ou a paixão de corações que arrebentaram preconceitos“
São muitas as curiosidades e as boas novidades em torno da cuidadosa biografia do jovem Castro Alves, prematuramente sonegado do nosso convívio:  a força das poesias, os textos teatrais de sucesso (O Gonzaga), a descrição minuciosa do tiro que obrigou Castro Alves a abandonar os estudos de Direito,com a necessidade da amputação do pé, sem anestesia;  o périplo do jovem poeta por Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, e a volta melancólica à Bahia e do sofrimento insuportável que enfrentou;
-   merece referência especial o cuidado em enriquecer a biografia de Castro Alves com a transcrição da troca de correspondência entre José de Alencar e Machado de Assis e com o documento ímpar da conferência de Euclides da Cunha sobre o biografado;
-   no capítulo XVII, o autor faz uma análise do gênio e dos mistérios que se escondem no cérebro humano, responsável pelo avanço das grandes conquistas em todas as áreas do saber.  Fala dos variados gênios da humanidade e enaltece o gênio especial e particular de William Shakespeare;
-   no capítulo XVIII o autor analisa a poesia moderna, a partir da Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo;
-   finalmente, em conclusão,  o autor oferece ao leitor poemas selecionados de Fernando Pessoa,  de Vinicius de Morais, Mário Quintana, Zilneide Ribeiro de Mendonça, Carlos Drumond de Andrade, e um conjunto de sete poemas de sua própria autoria.  

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Livro - Paris é uma festa


Brasilia, 25 de fevereiro de 2012.


         Estou concluindo a leitura de “Paris é uma festa”, de Ernest Hemingway: Editora Bertrand Brasil, 15ª.edição, 1964-1999/2011, 236 páginas. Hemingway começou a escrever o livro em Cuba, em outubro de 1957, e terminou de escrevê-lo em 1960, novamente em Cuba, cobrindo o período de 1921 a 1926, em Paris.  Trata-se de livro póstumo (publicado em 1964), cujas provas Hemingway estava revendo quando se suicidou em 2 de junho de 196l.  São as evocações de Paris dos anos 20, considerado à época o centro do mundo, “ que levava celebridades e aqueles que viriam a ser célebres a povoar intensamente as ruas, os cafés e os restaurantes de Paris.”  Era, de fato, o cenário efervescente das grandes celebridades: Picasso, Ezra Pound, Joyce, Scott Fitzgerald, Gertrude Stein e muitos outros.  “E. por isso, Paris era uma festa ininterrupta, monumental, disseminada ... imperdível... “ È o próprio Hemingway quem diz: “Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê. Mas, neste livro, quis retratar a Paris dos meus primeiros tempos, quando éramos muito pobres e muito felizes.”  O texto chega a ser surpreendente -  uma prosa amena e suave, escrita com amor e ironia  -  ,  diferente do estilo habitual do autor, com contos normalmente secos, duros, econômicos, sempre em busca daquele “momento da verdade que não admite trapaça nem acomodações”.  Hemingway nos mostra muita coisa interessante e pessoal, numa paisagem humana rica de contrastes: participamos da sua convivência com a tumultuada e agitada Gertrude Stein (e sua companheira Alice);Stein nunca se dirige à mulher de Hemingway, Hadley: “nunca me dirige a palavra, disse Hadley. Sou apenas uma esposa. Quem conversa comigo é  a companheira dela”;    participamos da intimidade de Stein , inclusive de parte da cena do desenlace amoroso dela

com a  amante, em que Hemingway discretamente se afasta para não participar do constrangimento;  conhecemos a origem da referência à geração perdida: “É isso o que vocês são  -  disse miss Stein. Todos vocês, essa rapaziada que serviu na guerra. Vocês são uma geração perdida”; presenciamos a delicadeza do tratamento de Hemingway com o grande poeta Ezra Pound, para ele o “cândido e compreensivo anjo”; vemos a interessante e sentimental amizade com Scott Fitzgerald, inclusive o curioso relato da viagem a Lyon, a fim de trazer de volta a Paris o automóvel Renault abandonado por ele e sua mulher Zelda, devido ao mau tempo.  São, enfim, histórias contadas com muita ternura e ironia, com momentos de suave melancolia, alternados com alguns raros instantes de irritação e crrueldade. Nem sempre a revelação é completa, deixando-nos na expectativa do mistério final...  Para mim, pessoalmente, foi surpresa agradável  o tom de encanto e cumplicidade em torno de sua mulher Hadley, e o carinho amoroso com o filho Bumpy.  Em resumo, texto muito gostoso.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Livros ("A visita cruel do tempo").

Brasilia, 19 de fevereiro de 2012.

Acabei de ler romance premiado que me foi gentilmente presenteado pelo nosso amigo comum Juraci, aqui de Brasília:  “A visita cruel do tempo”, de Jennifer Egan, Editora Intrínseca, 2010/2012, 335 páginas.  È estimulante ver, com esse lançamento, que a agenda editorial brasileira está atualizada e ativa, publicando, já no inicio de 2012, o Prêmio Pulitzer de Ficção de 2011.  A autora, 49 anos, ganhadora também de outras premiações importantes, nasceu em Chicago, cresceu em São Francisco e vive no Brooklin com o marido e os filhos.  A narrativa, de muitas e variadas histórias, entre 1970 e os dias atuais, reúne mais de vinte personagens: começa com Sasha, mulher de cerca de 30 anos, cleptomaníaca, relatando ao seu terapeuta o roubo de uma carteira de couro no banheiro do Hotel Lassimo, ao tempo em que fala do encontro com um sujeito mais jovem, Alex (que conheceu pela internet), sem parar de referir-se ao seu ex-patrão Bernie Salazar, um produtor musical de Nova York, ex-integrante de uma banda punk rock, responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits.  Bernie, agitado e com manias, recuperando-se do divórcio,  salpicava flocos de ouro no café, como afrodisíaco, e passava repelente no sovaco, como desodorante.  Tornou-se amigo de Lou, outro produtor musical idoso que se cercava de namoradas e esposas muito jovens, como forma de se proteger da velhice.  Sacha, quando mais jovem, era desregrada e viveu experiência conturbada na Itália, no submundo de Nápoles. São muitos os personagens que desfilam do texto: Stephanie, a ex-esposa de Bernnie;Jules, o seu irmão, jornalista especializado em celebridades, preso por tentar estuprar atriz de Hollyood durante uma entrevista;  a assessora de Imprensa Dolly, que se envolve em dificuldades e acaba trabalhando a imagem de um general ditador e genocida. Há a descrição de um safári na África em 1973 e, por fim, o relato apoteótico de um concerto de rock num lugar ao ar livre em Nova York, sob clima futurista e sob o barulho de helicópteros,  com  o atormentado guitarrista Scotty Hausmann.  A escritora é ousada e dotada de recursos técnicos apurados:  constrói uma narrativa fragmentada, descontinuada, entrelaçando e alternando passado e futuro, com capítulos em primeira pessoa, em terceira e em segunda pessoa. O leitor terá que se manter atento e concentrado, raramente sabendo em que ano está ou de quem é aquela experiência que está sendo narrada. Um dos capítulos, de 76 páginas, é todo ele apresentado em Power Point, sob a concepção de Ally, de 12 anos, filha de Sasha.  No final de tudo,  vê-se que o elemento central é o tempo, inexorável e cruel, como fica sublinhado na conversa de pressão entre Bennie e Scotty: “O tempo é cruel, não é? Vai deixar ele intimidar você?   Segundo The New York Review of Books:  “Um romance esplêndido e inesquecível sobre decadência e resignação, sobre indvíduos em um mundo em constante mudança.  Egan é uma das escritoras mais talentosas da atualidade.”

Abraços.

Antonio A. Veloso.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Livro "Como governar o mundo"

Brasilia, 8 de fevereiro de 2012.




Amigos,


Apresento-lhes resenha rápida sobre “Como  governar o mundo”, de Parag Khanna (Editora Intrínseca, 2011, 271 páginas):


-  Trata-se de narrativa ambiciosa sobre o estado atual e o futuro das relações internacionais no mundo. È um levantamento amplo e envolvente, cobrindo os países, os continentes, as diferentes regiões e colocando no meio de tudo a ação da megadiplomacia hoje exercida por nações, estados, ONGs, empresas, impérios, uma mídia poderosa: enfim, todos os agentes que atuam nos diferentes níveis de atividade. È, em síntese, um panorama dinâmico do mundo e de seus problemas  -  os grandes conflitos, as diversidades étnicas, o terrorismo, as desigualdades, as desigualdades, as iniqüidades.  O autor procura realçar o papel da megadiplomacia, com a sua força e talento ,para administrar os conflitos e tendo  a capacidade de arrecadar os recursos indispensáveis para tornar mais justa a vida das pessoas, melhorar a   economia global, realizar a reconstrução de estados desorganizados e falidos, enfrentar e combater o terrorismo, alimentar os países pobres e necessitados, fornecer água, segurança, educação, evitar o desastre ambiental, propiciar a boa governança.   O autor já publicou outro livrro (“O segundo mundo”), é renomado, tendo sido eleito como uma das “Pessoas mais influentes do século XXI” pela revista Esquire; escreve para o New York Times e Financial Times e é comentarista da CNN e BBC; graduado e pós-graduado pela Universidade de Georgetown, PHD pela London School of Economics.  Como disse, o texto ora oferecido é um decidido manifesto em favor da megadiplomacia e das suas virtudes como instrumento relevante para melhor governar um mundo sem fronteiras.  O autor é corajoso e polêmico em algumas de suas posições, formulando propostas concretas para solução de problemas cruciais do mundo.  Exemplos:  a noção de “bom governo” suplanta com rapidez a democracia como mantra global;  o Irã deveria ser inundado por contratos comerciais, midiáticos e diplomáticos que o obrigariam a ser mais transparente em suas atividades;  a solução defensável para a Coréia do Norte é dar garantias de que os Estados Unidos não a invadirão;  a “guerra contra o terror” não apresentou resultados melhores do que a “guerra contra as drogas”;  a política externa americana tem favorecido a “guerra longa“, em detrimento da guerra local, mais importante (apesar de suas conexões globais, o terrorismo é principalmente local);  a Doutrina, Responsabilidade de Proteger é natimorta; ela deveria exigir da comunidade internacional que interviesse quando os governos se revelassem incapazes de proteger seu povo ...”  “Uma estratégia inteligente seria insistir em afastar os chefes de estado que muitas vezes são a fonte de todos os problemas. Afastar os maus líderes  -   sim, depô-los violentamente  -  sem punir o povo...”  Segundo, o autor, “uma das principais tarefas dos novos colonialistas é, portanto, derrubar os líderes medievais, no pior sentido da palavra”.  O texto revela grande esforço de pesquisa e de busca de informações.  Para o autor, como já assinalado, “Diplomacia é a resposta em uma só palavra para governar o mundo – e melhorar nosso desenho diplomático global é a chave para melhor governarmos o mundo”.   A globalização, “ao conferir poder e autoridade às redes terroristas transnacionais, ao crime organizado e aos traficantes de drogas, tornou alguns países fracos ainda mais fracos, enquanto empresas multinacionais e ONGs cresceram em poder e estatura”. Por isso, no seu entendimento, “a megadiplomacia é a grande esperança de confrontarmos um mundo de caos neomedieval de altos riscos.