Acaba de ser reeditado no Brasil, no contexto da Coleção Folha –
Literatura Ibero-Americana, um dos textos mais originais e preferidos do
escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura:
“Tia Júlia e o escrevinhador”, Editora Objetiva, 1977/2012, 397
páginas.
Trata-se, na verdade, de romance que foi iniciado em Lima em
1972, continuado em Barcelona, na República Dominicana, em Nova York, e , após
múltiplas interrupções, concluído quatro anos depois e finalmente publicado em
1977. A narrativa, cheia de humor , descreve um amor proibido, entre
Varguitas, de 18 anos, e a tia de 32 anos. Tem como segundo eixo a
história de um boliviano estranho e excêntrico, autor de radionovelas
populares, Pedro Camacho. As novelas, transmitidas diariamente,
alcançaram grande sucesso na Lima dos anos 1950, até o momento em que o
autor, sobrecarregado e desorientado, começa a perder o rumo das coisas,
misturando personagens e confundindo enredos, sendo internado em um manicômio
sob forte descontrole emocional. O estado de perturbação é de tal ordem
que o autor das radionovelas passa a arquitetar catástrofes e terromotos que
matam os personagens principais, permitindo o recomeço das histórias.
No romance, Varguitas é um jovem jornalista com aspirações literárias,
vivendo em torno das duas experiências marcantes - a convivência com o
surpreendente Pedro Camacho, sucesso absoluto na criação das rádionovelas,
e o envolvimento amoroso com a fascinante tia Júlia, quase três vezes mais
velha e divorciada. O texto é altamente criativo, uma caudal de
histórias extravagantes, melodramáticas, truculentas, algumas vezes próximas da
caricatura – tudo debaixo de extrema genialidade, antecipando o renomado
escritor. Um mundo exuberante e cativante, que se revela no narrador do
livro como “um sentimental propenso aos boleros, às paixões declaradas e
às intrigas de folhetim”. Uma referência especial é devida no tocante
às peripécias do inusitado casamento de Varguitas com a chamada tia
Júlia, enfrentando a forte objeção da família: a trabalhosa peregrinação
do casal por diversos municípios do interior do país, em busca do Prefeito que
se dispusesse a realizar a difícil união, com impedimentos legais. È como
diz Paulo Werneck na precisa apresentação do texto: “A educação
sentimental e o aprendizado da escrita do futuro Prêmio Nobel de
Literatura estão entrelaçados neste romance autobiográfico de 1977, um dos mais
bem construídos (e cômicos) das letras hispano-americanas”.
Abraços,
Antonio A. Veloso.
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