quinta-feira, 31 de maio de 2012

Livros : Tia Júlia e o escrevinhador

Acaba de ser reeditado no Brasil, no contexto da Coleção Folha – Literatura Ibero-Americana, um dos textos mais originais e preferidos do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura:  “Tia Júlia e o escrevinhador”, Editora Objetiva, 1977/2012, 397 páginas.  


Trata-se, na verdade, de romance que foi iniciado em Lima em 1972, continuado em Barcelona, na República Dominicana, em Nova York,  e , após múltiplas interrupções, concluído quatro anos depois e finalmente publicado em 1977.  A narrativa, cheia de humor , descreve um amor proibido, entre Varguitas, de 18 anos, e a tia de 32 anos.  Tem como segundo eixo a história de um boliviano estranho e excêntrico, autor de radionovelas populares,  Pedro Camacho.  As novelas, transmitidas diariamente, alcançaram grande sucesso na Lima dos anos 1950,  até o momento em que o autor, sobrecarregado e desorientado, começa a perder o rumo das coisas, misturando personagens e confundindo enredos, sendo internado em um manicômio sob forte descontrole emocional.  O estado de perturbação é de tal ordem que o autor das radionovelas passa a arquitetar catástrofes e terromotos que matam  os personagens principais, permitindo o recomeço das histórias.  No romance, Varguitas é um jovem jornalista com aspirações literárias, vivendo em torno das duas experiências marcantes -  a convivência com o surpreendente Pedro Camacho, sucesso absoluto na criação das rádionovelas,  e o envolvimento amoroso com a fascinante tia Júlia, quase três vezes mais velha e divorciada.  O texto é altamente criativo, uma caudal  de histórias extravagantes, melodramáticas, truculentas, algumas vezes próximas da caricatura – tudo debaixo de extrema genialidade, antecipando o renomado escritor.  Um mundo exuberante e cativante, que se revela no narrador do livro como “um sentimental propenso aos boleros, às paixões declaradas e às intrigas de folhetim”. Uma referência especial é devida no tocante  às peripécias do inusitado casamento de Varguitas com a chamada tia Júlia, enfrentando a forte objeção da família:  a trabalhosa peregrinação do casal por diversos municípios do interior do país, em busca do Prefeito que se dispusesse a realizar a difícil união, com impedimentos legais.  È como diz Paulo Werneck na precisa apresentação do texto: “A educação sentimental e o aprendizado  da escrita do futuro Prêmio Nobel de Literatura estão entrelaçados neste romance autobiográfico de 1977, um dos mais bem construídos (e cômicos) das letras hispano-americanas”.

Abraços,
Antonio A. Veloso.

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