Brasilia, 27 de abril de 2012.
Encantei-me com a leitura de ótimo texto de autor brasileiro:
“Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, de
Marçal Aquino (Cia. das Letras, 2005/2012, 229 páginas).
O autor é paulista de Amparo, nascido em 1958, com diversos títulos publicados desde 1999; foi roteirista de diversos filmes e o romance ora comentado serviu de base para filme que acaba de ser lançado no circuito comercial, sob a direção de Beto Brant e Renato Ciasca, com Camila Pitanga no papel principal. O texto me surpreendeu agradavelmente: é inteligente, bem elaborado e dinâmico, ótima concepção, atraindo vivamente o leitor. Trata-se de romance cheio de sensações e surpresas, no contexto de uma “cidade de garimpo do interior do Pará, conflagrada pelas tensões de uma corrida de ouro ...” Os personagens centrais vivem um tumultuado triângulo amoroso - um fotógrafo vindo de São Paulo, Cauby, uma ex-prostituta , Lavínia, mulher sedutora, instável e misteriosa, e um pastor, o pacífico Ernani. Circulando pelo texto, curiosamente, as “tiradas” e os “ensinamentos” do estranho e pouco hortodoxo filósofo do amor, professor Benjamim Schiamberg, autor, entre outros, do livro “O que vemos no mundo”. Também paralelamente aos acontecimentos principais, vai sendo desvendada a paixão platônica entre o Careca e Marinês, com desfecho surpreendente. Tudo isso num cenário de conflitos e turbulências - ambiente hostil, submundo, disputas entre garimpeiros e uma mineradora - com os personagens movidos por razões e forças que não conseguem controlar, ricas de surpresas. A região, em meio às tensões e disputas, é quase terra de ninguém, permitindo um pouco de tudo: prostituição aberta, amores clandestinos, delitos, apedrejamentos e chacinas. A qualidade e habilidade do autor amenizam e diluem os excessos, de tal modo que a leitura flui naturalmente e com gosto. O estilo é enxuto, direto, bem articulado, às vezes beirando o cinismo, aberto nas cenas mais íntimas e sensuais. Para mim, foi uma descoberta de autor refinado, talentoso, consistente, e que consegue conduzir com êxito a difícil travessia de uma “ vertiginosa e acidentada história de amor ... “
Abraços,
Antonio A. Veloso.
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