domingo, 19 de fevereiro de 2012

Livros ("A visita cruel do tempo").

Brasilia, 19 de fevereiro de 2012.

Acabei de ler romance premiado que me foi gentilmente presenteado pelo nosso amigo comum Juraci, aqui de Brasília:  “A visita cruel do tempo”, de Jennifer Egan, Editora Intrínseca, 2010/2012, 335 páginas.  È estimulante ver, com esse lançamento, que a agenda editorial brasileira está atualizada e ativa, publicando, já no inicio de 2012, o Prêmio Pulitzer de Ficção de 2011.  A autora, 49 anos, ganhadora também de outras premiações importantes, nasceu em Chicago, cresceu em São Francisco e vive no Brooklin com o marido e os filhos.  A narrativa, de muitas e variadas histórias, entre 1970 e os dias atuais, reúne mais de vinte personagens: começa com Sasha, mulher de cerca de 30 anos, cleptomaníaca, relatando ao seu terapeuta o roubo de uma carteira de couro no banheiro do Hotel Lassimo, ao tempo em que fala do encontro com um sujeito mais jovem, Alex (que conheceu pela internet), sem parar de referir-se ao seu ex-patrão Bernie Salazar, um produtor musical de Nova York, ex-integrante de uma banda punk rock, responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits.  Bernie, agitado e com manias, recuperando-se do divórcio,  salpicava flocos de ouro no café, como afrodisíaco, e passava repelente no sovaco, como desodorante.  Tornou-se amigo de Lou, outro produtor musical idoso que se cercava de namoradas e esposas muito jovens, como forma de se proteger da velhice.  Sacha, quando mais jovem, era desregrada e viveu experiência conturbada na Itália, no submundo de Nápoles. São muitos os personagens que desfilam do texto: Stephanie, a ex-esposa de Bernnie;Jules, o seu irmão, jornalista especializado em celebridades, preso por tentar estuprar atriz de Hollyood durante uma entrevista;  a assessora de Imprensa Dolly, que se envolve em dificuldades e acaba trabalhando a imagem de um general ditador e genocida. Há a descrição de um safári na África em 1973 e, por fim, o relato apoteótico de um concerto de rock num lugar ao ar livre em Nova York, sob clima futurista e sob o barulho de helicópteros,  com  o atormentado guitarrista Scotty Hausmann.  A escritora é ousada e dotada de recursos técnicos apurados:  constrói uma narrativa fragmentada, descontinuada, entrelaçando e alternando passado e futuro, com capítulos em primeira pessoa, em terceira e em segunda pessoa. O leitor terá que se manter atento e concentrado, raramente sabendo em que ano está ou de quem é aquela experiência que está sendo narrada. Um dos capítulos, de 76 páginas, é todo ele apresentado em Power Point, sob a concepção de Ally, de 12 anos, filha de Sasha.  No final de tudo,  vê-se que o elemento central é o tempo, inexorável e cruel, como fica sublinhado na conversa de pressão entre Bennie e Scotty: “O tempo é cruel, não é? Vai deixar ele intimidar você?   Segundo The New York Review of Books:  “Um romance esplêndido e inesquecível sobre decadência e resignação, sobre indvíduos em um mundo em constante mudança.  Egan é uma das escritoras mais talentosas da atualidade.”

Abraços.

Antonio A. Veloso.

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