sábado, 25 de fevereiro de 2012

Livro - Paris é uma festa


Brasilia, 25 de fevereiro de 2012.


         Estou concluindo a leitura de “Paris é uma festa”, de Ernest Hemingway: Editora Bertrand Brasil, 15ª.edição, 1964-1999/2011, 236 páginas. Hemingway começou a escrever o livro em Cuba, em outubro de 1957, e terminou de escrevê-lo em 1960, novamente em Cuba, cobrindo o período de 1921 a 1926, em Paris.  Trata-se de livro póstumo (publicado em 1964), cujas provas Hemingway estava revendo quando se suicidou em 2 de junho de 196l.  São as evocações de Paris dos anos 20, considerado à época o centro do mundo, “ que levava celebridades e aqueles que viriam a ser célebres a povoar intensamente as ruas, os cafés e os restaurantes de Paris.”  Era, de fato, o cenário efervescente das grandes celebridades: Picasso, Ezra Pound, Joyce, Scott Fitzgerald, Gertrude Stein e muitos outros.  “E. por isso, Paris era uma festa ininterrupta, monumental, disseminada ... imperdível... “ È o próprio Hemingway quem diz: “Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê. Mas, neste livro, quis retratar a Paris dos meus primeiros tempos, quando éramos muito pobres e muito felizes.”  O texto chega a ser surpreendente -  uma prosa amena e suave, escrita com amor e ironia  -  ,  diferente do estilo habitual do autor, com contos normalmente secos, duros, econômicos, sempre em busca daquele “momento da verdade que não admite trapaça nem acomodações”.  Hemingway nos mostra muita coisa interessante e pessoal, numa paisagem humana rica de contrastes: participamos da sua convivência com a tumultuada e agitada Gertrude Stein (e sua companheira Alice);Stein nunca se dirige à mulher de Hemingway, Hadley: “nunca me dirige a palavra, disse Hadley. Sou apenas uma esposa. Quem conversa comigo é  a companheira dela”;    participamos da intimidade de Stein , inclusive de parte da cena do desenlace amoroso dela

com a  amante, em que Hemingway discretamente se afasta para não participar do constrangimento;  conhecemos a origem da referência à geração perdida: “É isso o que vocês são  -  disse miss Stein. Todos vocês, essa rapaziada que serviu na guerra. Vocês são uma geração perdida”; presenciamos a delicadeza do tratamento de Hemingway com o grande poeta Ezra Pound, para ele o “cândido e compreensivo anjo”; vemos a interessante e sentimental amizade com Scott Fitzgerald, inclusive o curioso relato da viagem a Lyon, a fim de trazer de volta a Paris o automóvel Renault abandonado por ele e sua mulher Zelda, devido ao mau tempo.  São, enfim, histórias contadas com muita ternura e ironia, com momentos de suave melancolia, alternados com alguns raros instantes de irritação e crrueldade. Nem sempre a revelação é completa, deixando-nos na expectativa do mistério final...  Para mim, pessoalmente, foi surpresa agradável  o tom de encanto e cumplicidade em torno de sua mulher Hadley, e o carinho amoroso com o filho Bumpy.  Em resumo, texto muito gostoso.

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