segunda-feira, 3 de abril de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 04

Estudo do “Credo Apostólico” 04

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
4º Encontro: 03/04/2006, 2ª feira (16h10 às 18h02)
1. A partir do século IV é que começa o movimento de rever a vida de Jesus e estabelecer o rito dos dogmas: o dogma de Maria, mãe de Deus, e do nascimento e vida de Jesus, com o mistério da encarnação. A tradição da Igreja já reconhecia na vida de Jesus as verdades depois estabelecidas como dogmas, através dos Concílios, com a preocupação de não deixar prevalecer falsas definições. (senso da Igreja e senso da fé).
2. Até pouco tempo, por exemplo, o “coroinha’ não podia ser mulher: só recentemente foi determinada pelo Vaticano essa prática. A norma vem depois, como fruto do costume. A necessidade real cria a norma, como se vê pelas Ministras da Eucaristia, hoje existentes na prática de diversas paróquias.
3. Retomando o curso, foi colocada a segunda parte do 2º capítulo do Credo, de acordo com o texto do símbolo niceno-constantinapolitano:
“ E por nós, homens, e para nossa salvação, ...” Ou seja, Deus se encarnou por causa da humanidade e para nos salvar. E vê-se que Jesus veio para a salvação de todos, de toda humanidade, e não somente dos católicos.
4. Prosseguindo: “...desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem...” Não somos, pois, autorizados a desumanizar Jesus. Ele é humanamente divino e divinamente homem. Plenamente homem e plenamente Deus. Não podemos perder a humanidade de Deus. Ele precisou de mulher para nascer. Deus precisa da gente. Na nossa religião, Deus não se basta: Deus precisou de uma mulher para o seu filho nascer. Ele quis precisar da humanidade. Ele virou gente como nós – precisou de uma humanização (encarnação).
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5. Antes de Jesus, com base na cultura greco-romana, o corpo não valia nada. Só tinha valor estético, ligado à beleza. O corpo era tido como pecaminoso. A alma é que valia. Fazia-se a separação de corpo e alma.
6. Diferentemente, toda a nossa fé tem a ver com o corpo (ressurreição). O corpo é fundamental para a nossa religião. Não existe a separação entre corpo e alma. Não adianta só cuidar da alma e abandonar o corpo. Não faz sentido só rezar para o pobre que está morrendo de fome. São Paulo: o nosso corpo é templo de Deus. São João: temos que amar o irmão para amar a Deus.
7. Vemos, na celebração da missa, que Deus se encarnou. A ressurreição é da carne, é do corpo. É tudo junto: corpo e alma!
8. Temos que ver a essência, aprender o critério. Deus desceu dos céus, desceu e se encarnou, quis precisar do nosso corpo.
9. Vivemos pela fé e acreditamos na ressurreição, promessa de Jesus.
10. Foi mencionada a questão do estudo da escatologia, tendo sido indicados dois livros de especulação sobre o fim (“Escatologia da pessoa” e “Escatologia sobre o mundo”). São diferentes considerações sobre o tema: já estamos vivendo a vida eterna; o que é a vida eterna? Quando se tem vida eterna no mundo? Todos continuam morrendo e continuam vivendo. Se se tem fé, a vida continuará. Tudo continua.
11. Jesus é o exemplo para nós: ele vive, morre e ressuscita. Não se sabe como ocorrerá a ressurreição, mas não devemos sofrer por isso. A questão fundamental é: eu vivo pela fé! A ressurreição é dada por Deus. Eu preciso alimentar a minha fé, ter solidez e firmeza. Deus me ama. Ele me ama sempre, em qualquer circunstância. Deus me ama!
12. É preciso “mastigar” a encarnação de Deus.
13. Em prosseguimento: “Também por nós foi crucificado, sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai.”
Aqui está o centro da nossa fé: nós somos cristãos por causa da cruz de Cristo. Eu creio na vida, no sofrimento, na morte e na ressurreição de Cristo. Não existe cristianismo sem cruz, sem sofrimento, sem conflito.
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A cruz é o símbolo da morte, mas é também o símbolo da ressurreição.
A cruz é fundamental e não pode ser esquecida ou jogada fora. Jesus, por causa da sua vida, foi perseguido e agiu conflituosamente.
14. Mas não se pode esquecer: Deus é amor e misericórdia. Diferentemente do que diz a letra da música (“Deus enviou o seu filho amado para morrer no meu lugar”), Deus amou tanto o mundo que enviou o seu filho para nos salvar, para nos redimir. No processo da salvação, Jesus enfrentou dificuldade, sofreu, foi crucificado e morreu na cruz. E ressuscitou!
15. A vida cristã não é um discurso. É uma prática. Os conflitos e o sofrimento fazem parte da vida. O conflito aparece quando ocorre a decisão.
16. Foi lembrado o fato marcante do encontro de Jesus com João Batista, que era profeta e perturbador da ordem. Foi o momento de decisão, particularmente quando João Batista é preso. Verdadeira perturbação da ordem política constituída. Deu-se o processo conflitivo, causando sofrimento. Kerygma (pronuncia-se kérygma): anúncio primordial (é a cruz de Jesus). São Paulo: Jesus é o crucificado ressuscitado.
17. A nossa religião não é analgésica, ou terapia de grupo. Ela é religião completa de cruz. Só que, com Jesus, ela muda e é cruz que não é só sofrimento, mas caminho da ressurreição.
18. Com base na relação, o efeito em nós muda e passamos a olhar o mundo de forma diferente. Muitas das nossas crises de depressão decorrem do fato de que não conseguimos olhar o mundo a partir da fé, a partir do Cristo. A cruz não é mais sofrimento, que para muitos é a ausência de Deus. No sofrimento, eu encontro Deus.
Intervalo : 17h10 às 17h22
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19. Após o intervalo, a Luzimar Augusto informou sobre o próximo curso com o Prof. Paulo Ueti, sobre a oração do Pai-Nosso, também em cinco encontros, a partir de 8/5/2006 (às 2ª feiras).
20. Kerygma: Cristo viveu, foi crucificado e ressuscitou. O símbolo é a cruz (sem Jesus): não é o crucifixo. Isso significa que cada um de nós tem sua cruz e, para nossa felicidade, ela deve ser assumida conforme Jesus assumiu a dele. A cruz de Jesus é o símbolo da nossa salvação porque Jesus, ao enfrentar seu sofrimento com dignidade e confiança no Pai, nos ensinou a fazer o mesmo. É aí que está a nossa salvação! Ao imitarmos Jesus, na administração do nosso sofrimento (a nossa cruz) e da nossa morte, com dignidade e confiança no Pai, estamos salvos, isto é, daremos sentido ao nosso sofrer e morrer – passagem para a vida eterna feliz. A nossa religião é marcada pelo conflito, mas também assinalada pela graça, dom de Deus.
21. Como foi anunciado, o próximo curso será sobre o Pai-Nosso, em que se vêem 7 petições, na versão de Mateus, e 5 petições segundo o texto de Lucas. O importante é não centralizar a relação com Deus na petição, no pedido. É preciso fugir do processo de negociação, de barganha com Deus. Cabe mudar a relação com o divino, fugindo da barganha, pois isso é ruim, revelando um tipo de espiritualidade longe do contexto adequado, que é o ambiente da graça, do dom de Deus. Pedir, na Bíblia, não significa só fazer lista de requerimentos, sem querer botar força. Pedir é ir atrás.
22. Finalmente, o último trecho do 2º capítulo do Credo:
“Desceu aos infernos e ressuscitou ao terceiro dia”.
Na tradição espiritual, a expressão “desceu aos infernos” é ir ao lugar onde vivem os mortos, casa de quem morre. É a afirmação de que Jesus viveu sua experiência de morte, como qualquer ser humano vive a sua. A morte é inexorável e existe para todos – até para o Filho de Deus. A diferença é que ele venceu a morte. Ressuscitou, abrindo caminho para cada um de nós. A humanidade inteira, por causa da cruz de Jesus, ganhou acesso à ressurreição.
23. Uma novidade importante da nossa religião consiste em saber que nós não ficamos lá, nos infernos. Nós ressuscitaremos ao terceiro dia (número simbólico, que aparece muitas vezes na Bíblia).
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24. Para São João, no seu evangelho, tudo se dá na mesma hora, no mesmo momento. A salvação de Deus é imediata: não existem mediações para a salvação. Fomos salvos quando Deus se encarnou no mundo.
25. Não se diz mais que o inferno é o destino do mal. Deus é misericórdia. Foi indicada a leitura do capítulo 8 da epístola de São Paulo aos Romanos: “nada pode impedir o amor de Deus”.
26. O Prof. Paulo Ueti recomendou vários livros sobre a questão do mal:
a) “Convivendo com o mal”: Anselm Grün;
b) “Proteção do Sagrado”: Anselm Grün (Ed. Vozes);
c) “A Sombra do Mal” (Ed. Paulus).
d) Textos do seminário sobre o mal, coordenado pelo Prof. Paulo Ueti
(e-mail: pauloueti@uol.com.br)
27. A seu ver, diz o Prof. Paulo Ueti, não cabe dar muita trela ao demônio. Sobre o inferno, não se trata de lugar para ter medo. A nossa religião não é do medo. João, no seu evangelho, diz seguidas vezes:
“Não tenham medo”. A casa dos mortos é o lugar para onde todos irão: todos vão morrer! Não adianta ter medo da morte. É melhor preocupar-se com outras coisas. Jesus: “a cada dia basta o seu problema”. Teologia: a morte nos iguala a todos . Morrer é igual para todos. Para São Francisco e os místicos: “ a morte não pode ser minha inimiga.”
28. É preciso desapegar-se, sentir menos falta das coisas. Eucaristia: celebração da presença e da ausência de Jesus. É preciso sentir falta para não perder o senso da vida e entender o valor fundamental das ausências nas relações. Perceber dois pontos essenciais nas relações: a) eu amo as pessoas ; b) eu não vou poder estar com elas o tempo todo.
29. Foi lembrado o problema de Pedro no Monte Tabor, qual seja o de querer prender Jesus. É preciso descer do monte e desapegar-se. Eu preciso aprender a não ter Jesus fisicamente do meu lado. As mulheres entenderam isso na Bíblia. Os homens vão ter que aprender isso com as mulheres. Jesus vive, sofre, morre, vai ao inferno e ao terceiro dia ressuscita. Os protestantes dizem que o sangue de Jesus tem poder (venceu a morte). A morte tem outro significado com a ressurreição.
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30. Não podemos negar ou impedir a morte. A novidade para nós é que, após Jesus, a morte não é mais o fim.
31. A morte é traumatizante porque perdemos o senso da Igreja, que é o senso do consolo comunitário, do consolo dos irmãos. Sozinhos, não damos conta do evento da morte. É necessário restabelecer o sentido da comunidade física. Recompor a aliança, dizer que somos de Jesus. Compartilhar. A comunidade precisa ser o bálsamo! Morrer é que nem a páscoa: passagem, para não ter medo do inferno ou do céu.
32. A Igreja é pastora: não tem ninguém perdido na Igreja. Perdidos são aqueles que estão fora da Igreja e precisam ser recolhidos.
Brasília, 3/4/2006

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