segunda-feira, 10 de abril de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 05

Estudo do “Credo Apostólico” 05

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO

Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti (5 encontros)
Notas Avulsas

5º Encontro(final): 10/04/2006, 2ª feira (16h10 às 18h)
1. Estamos num momento propício, no início da semana santa, para fazer a reflexão sobre o último capítulo do Credo. Segundo o texto do símbolo niceno-constantinopolitano, temos:
“Creio no Espírito Santo,
Senhor que dá a vida
e procede do Pai e do Filho,
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele que falou pelos profetas.”
2. Crer em Deus significa crer e lutar pela vida das pessoas, que muitas vezes estão em situação pior do que nós, em mais graves dificuldades.
3. Somos santos? É bom ver o exemplo de Santo Agostinho, que teve vida desregrada e desarrumada. Mesmo assim, seguiu o caminho da santidade. O que nos torna santo é o batismo. Santo quer dizer consagrado. Com o batismo, todos nós entramos no caminho da santidade. É seguir a recomendação do Levítico: “sede santo, como só Deus é santo.” O batismo, pela ação do Espírito Santo, nos coloca nesse caminho, nessa rota da santidade. Todos nós, pois, podemos nos considerar santos, percorrendo o caminho da santidade.
4. Isso não quer dizer que fiquemos parados, estáticos. Devemos estar em movimento, em aperfeiçoamento. O Espírito Santo habita nos santos. O nosso corpo é templo do Espírito Santo, como diz São Paulo. É preciso acreditar na comunhão dos santos, não só dos santos que já foram e que estão na glória, mas também dos que estão aqui na comunidade, membros da Igreja.
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5. São João: fala-se com Deus através dos irmãos, na comunidade. É a confirmação de que o amor a Deus passa pela comunhão dos irmãos.
6. Retomar a história do bom samaritano: o próximo foi aquele que tocou no necessitado, cuidou dele, assistiu-o na sua carência e dificuldade, atendeu-o inclusive com dinheiro, nos gastos indispensáveis.
7. A semana santa é, pois, momento apropriado para repensar como estamos no curso da nossa espiritualidade.
8. Foi colocada a pergunta: quem fundou a Igreja? O Espírito Santo fundou a Igreja, por ocasião do Pentecostes. Ele continua na Igreja, atuando, agindo. Ele é o mantenedor da comunhão: reza-se ao Pai, reza-se ao Filho, na comunhão do Espírito Santo. Ele fala através da nossa materialidade, na convivência das pessoas e com o ambiente, com a natureza.
9. Foi lembrado que, mesmo depois que se morre, temos que ter corpo. Jesus Cristo, depois que ressuscitou, aparece com o corpo.
10. Prosseguindo:
“Creio na Igreja,
una, santa, católica e apostólica.”
* Una: unida nas diferenças, nos projetos, nos sentimentos. O Espírito Santo suscita diferentes carismas. A Igreja deve ser unida nas coisas que são essenciais. Em relação aos protestantes, essa união aparece na crença em Jesus, na Trindade, na comunhão dos santos, na Bíblia. As diferenças são relativamente poucas e ocorrem nitidamente quanto aos sacramentos e no que se refere aos santos. O importante é ter em conta o fundamental: a Igreja, a comunhão, a missão, a liturgia, a diversidade nos sacramentos. O batismo nos insere na comunhão da Igreja;
* Santa: a Igreja é santa. Permanecer na comunhão ajuda no caminho da santidade. Leonardo Boff: “é melhor errar com a Igreja do que errar sozinho”;
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* Católica: a Igreja é universal. Presente para o mundo e está presente em todo o mundo. As sementes do Verbo, do Espírito. Não se leva Deus para lugar nenhum: Ele já está! Nós aceitamos Jesus, mas não o levamos. A Igreja é católica, universal, para todos. Ela é holística: é para todo o mundo, todos têm espaço. Por tradição, somos muito abertos na religião católica;
* Apostólica: a Igreja é missionária. A missão não é a de encher os bancos e as cadeiras, nem a de construir mais templos. A missão é aquela ensinada e mostrada por Jesus: curar os doentes, incluir os excluídos, exercer a misericórdia no mundo. Quem estiver fora, excluído, deve ser ajudado a se integrar.
* A unidade e a santidade são qualidades internas, para dentro da Igreja. Todos nós devemos procurar ter ações internas e também para fora da Igreja. Não é preciso saber falar, se expressar bem: mesmo de boca fechada, a gente pode ajudar. De modo geral, os católicos têm pouca presença nos hospitais e nas cadeias. É preciso desenvolver o apostolado.
11. Dando continuidade ao Credo:
“Professo um só batismo
para a remissão dos pecados.”
12. O pecado não tem poder sobre a graça. A graça é maior que o pecado, é mais forte. O batismo redime os pecados, que perdem poder sobre o nosso corpo, sobre o nosso espírito.
13. Indagado sobre o batismo de Jesus, explicou o Prof. Paulo Ueti que se tratava de um rito de passagem, uma iniciação. Jesus precisava participar do grupo de João Batista, que pertencia ao grupo dos profetas. Já o batismo do Espírito Santo é a própria cruz de Jesus. É mais fundamental.
14. Quanto à questão relacionada com a obrigação de pagar pelas faltas, pelos pecados, e que é frequentemente colocada pelas pessoas, disse o Prof. Paulo Ueti que não faz sentido pautar a nossa religião por negociações e manipulações. O fato essencial é que ganhamos a graça de Deus como presente. Na verdade, nós temos responsabilidade pela graça que recebemos e que temos de distribuir com os outros. Cabe a nós passar adiante o amor que nos é dado de graça por Deus.
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15. Quanto às indulgências, é questão que vem pela tradição, pela Patrística. Trata-se de assunto complexo, que tem a ver com a história da Igreja e que deve ser aprofundado por cada um de nós.
16. A tradição religiosa da nossa Igreja compreende, pois, a unidade, a santidade, a catolicidade, o apostolado. Nós somos responsáveis por esse conjunto, mas isso não deve ser condicionamento. Não dá para ficar de braços cruzados, sendo necessário distribuir o amor, a graça que recebemos de presente. É preciso acreditar que efetivamente os pecados vão ser redimidos.
17. Final do Credo:
“E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.”
18. São, de fato, dois momentos que se juntam. Ninguém fica lá: Jesus foi ressuscitado e subiu para junto de Deus, na comunhão plena, na vida eterna.
19. Eu já experimento, aqui, a vida eterna, através dos sacramentos, que são “sinais sensíveis e eficazes da graça de Deus.” Essa é a vida eterna que começa agora.
20. Na comunidade, fazemos a experiência da partilha. Podemos viver o ambiente da alegria de todos, pela comunhão. Precisamos nos descontaminar, com apoio na oração; fazer as coisas juntos; conviver; suportar-nos uns aos outros. Isso é o sacramento do Reino, assumindo a preocupação pelos outros.
Intervalo: 17h05 às 17h25
21. Retomando o curso e, para encerrá-lo, o Prof. Paulo Ueti colocou-se à disposição para perguntas e esclarecimentos.
22. Entre outras questões, esclareceu e informou:
a) quanto ao batismo do Espírito Santo de Jesus, afirmou que existe apenas um batismo – único e de uma vez por todas. O batismo unifica a gente. Quando se é batizado, a gente se prega na cruz com Jesus;
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b) sobre o sofrimento, disse que nascer já é um evento traumatizante: trauma da separação umbilical, separação da proteção do útero. A primeira grande separação é, pois, a decorrente do corte umbilical. A segunda separação traumática é o desmamar. Os homens, em particular, vão sofrer mais, na medida em que, na adolescência, perdem o contato com o pai. Os homens são mais brutalizados, mais introspectivos. Uma questão relevante é examinar como ajudar homens e mulheres a serem menos traumatizados e mais humanizados;
c) nesse contexto, um problema sério da religião é o da separação. Só que ela não precisa ser traumática. A Igreja precisa ser uma família para poder integrar e para que não se perca essa integração;
d) a comunidade religiosa é, às vezes, um peso. As pessoas precisam ser ajudadas a entender, e até mesmo a sair, de modo a encontrar o seu caminho;
e) no tocante à indagação sobre como entender “ter vida e vida em abundância” num contexto de cruz, o Prof. Paulo Ueti iniciou explicando que o correto, quando se fala do crucifixo, é ter em conta que o símbolo é a cruz (sem o corpo de Jesus). A expressão “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” mostra que Jesus se sentiu abandonado. A cruz é o lugar do abandono, do cúmulo do sofrimento. A cruz é também o lugar da ressurreição: ela se dá na cruz e através da cruz. Jesus disse: nós viemos para ter vida e vida em abundância. É preciso que haja o atrito, o choque. Não podemos ficar à deriva da morte, como ocorre com os pobres da favela, que não têm direito à vida (a eles é negado esse direito). Precisamos nos dar conta de que muitas pessoas na sociedade têm mais vida e oportunidades do que outras. O sofrimento existe para todos. Na plenitude dos tempos, ou seja, na glória, no final dos tempos, tudo será mais perfeito. Mas não podemos fugir da realidade do mundo, pois é aqui que Deus se revela. A cruz de Jesus está no centro da nossa vida. Na ressurreição, Jesus está fora da cruz.
Brasília, 10/04/2006
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