terça-feira, 21 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 02

Estudo do “Credo Apostólico” 02

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
2º Encontro: 20/3/2006, 2ª feira (16h10 às 18h06)
O expositor, Prof. Paulo Ueti, mencionou que utilizaria inicialmente a Bíblia (Deuteronômio 6,4) e o Catecismo da Igreja Católica (pg. 70, nº 228):
Deuteronômio 6,4: “Ouve, ó Israel: Javé nosso Deus é o único Javé”;
Catecismo pg. 70, nº 228: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor...”
2. Foi entoado, suavemente, o canto:
Shmá Israel
Adonai Elohenu
Adonai ehad
Escuta Israel
O Senhor é nosso Deus
Um é o Senhor
3. Em seguida, houve menção ao primeiro artigo do credo apostólico: “Creio em Deus pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.” Vê-se que o texto do credo niceno-constantinapolitano é semelhante, apenas sublinhando “creio em um só Deus” e acrescentando “de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
1
4. O credo niceno é uma explicitação melhor do credo apostólico, e os dois credos – o símbolo apostólico e o símbolo niceno – são aceitos por todas as igrejas cristãs. O Credo e o Pai Nosso são comuns às igrejas cristãs.
5. A primeira questão que se coloca para nós é que o Credo é também uma oração. Assumimos uma atitude orante no sentido de escutar o Senhor Nosso Deus. Atendemos à bem-aventurança: “Bendito o que escuta a minha palavra e a põe em prática”.
6. O termo felicidade, em hebraico e em grego, quer dizer marcha, marchar. Pessoas felizes: estão em marcha. Infelizes: pessoas congeladas. Ou seja, felicidade tem a ver com movimento. Por outro lado, as regras monásticas têm a ver com escutar e prática. Prática: seguimento do Credo, profissão de fé. Não se diz: “nós cremos” e sim “eu creio”. É pessoal, individual.
7. A afirmação “creio” é resultado desse espírito: Deus falou e eu me disponho a escutar. Maria também escutou. O resultado de escutar é a gravidez: quem escuta, engravida. Mas não basta engravidar: tem que deixar nascer, parir. Essa associação é fundamental, pois é preciso não cair na armadilha de imaginar que crer é apenas um estado psicológico. O resultado sempre é crer. E crer é fazer: Deus fala, eu escuto, ocorre uma gravidez e uma parição (ato de parir). É um verdadeiro efeito-dominó e tudo requer opção. Eu escuto e opto por parir ou não. O encontro de Deus depende também de mim, através da opção (o amor de Deus permanece, mas eu preciso optar e querer).
8. Vê-se, pois, o efeito-dominó da primeira afirmação de Credo (“Creio”). A morte do Messias estava prevista e Jesus assumiu isso de bom coração, assumiu a cruz. É bom ter em conta que uma coisa é o Jesus de Nazaré; outra coisa é o Jesus da Fé (pobre, humilde, reformador, revolucionário, que morreu na cruz).
2
9. Observe-se que Jesus foi, a prestação, passo a passo, assumindo a vida, aprendendo. Como ser humano e bom judeu foi aprendendo a rever os seus conceitos sobre a religião. Ele teve que se dar conta de que o povo não era normalmente feliz.
10. Deus é tão Deus que se fez ser humano, vivendo o mistério da encarnação. Aceitou o limite humano sem perder a essência divina. Deus humilhou-se e virou gente. Ser gente não é ruim.
11. O credo apostólico foi difícil de sair como saiu. O problema sério foi justamente a humanidade de Jesus, envolvendo os primeiros séculos, o que foi objeto do Concílio de Trento e do Concílio Vaticano II. Anteriormente, foi considerado heresia o fato de não reconhecer a humanidade de Cristo. Está na Bíblia que Jesus não queria morrer. Precisamos crer nesse Deus humano e divino e não só naquele Deus distante, que está no céu.
12. Deus está no meio de nós. A nossa saudação habitual na missa é, mais do que isso, uma saudação litúrgica. Ele está realmente no meio de nós.
13. O que foi dito até aqui é o aspecto fundamental da primeira vertente (“Eu creio”). O Prof. Paulo Ueti referiu-se ao capítulo 10 de Lucas e, especificamente, à acolhida de Maria e Marta a Jesus e da saudação a Maria, “que escolheu a melhor parte”, escutando a palavra de Jesus. Foi também mencionado o capítulo 11 de Lucas, com a oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus. O centro do Pai-Nosso é “venha o teu Reino”, “seja feita a tua vontade”.
14. A mesma prática que Deus tem com você, cabe a você ter com o próximo, com a comunidade: bem-aventurança da misericórdia. Deus perdoou você primeiro.
15. O credo apostólico vem de que Deus acreditou em mim primeiro. Quanto mais eu creio, a minha crença junta-se com o credo do outro e daí nasce uma crença, o credo da Igreja.
Tem-se aí a crença pessoal e a crença eclesial (comunitária). Isso tudo se dá para que a comunidade seja melhor.
3
16. O verbete do Credo diz: “Creio em Deus Pai”. Ou seja: eu não creio em qualquer Deus, mas naquele que é Pai. Em hebraico, pai quer dizer casa, morada. Abbá: paizinho. Duas vezes casa, morada. Deus (paizinho) não é uma casa qualquer, mas uma morada por excelência. Deus não precisa de exército, de imposto, de um séqüito: Ele é a figura da casa, da morada. O acesso a Ele é livre, público, cotidiano. Não há necessidade de pedir audiência.
17. Na espiritualidade e na fé, é preciso prestar atenção em que Deus eu acredito. O credo niceno diz: “Creio em um só Deus”, que é Pai. Ele é responsável por você, pelo seu provimento.
18. É bom que se tenha consciência da imagem bonita desse pai, desse paizinho: Deus não é homem, do sexo masculino (não confundir a nossa natureza com a natureza de Deus). Ele é mãe, Deus é misericórdia. Tem entranhas de mulher, útero materno. Foram lembrados trechos de Isaías (capítulo 49) e de Oséias:
“Ó céus, dai gritos de alegria, ó terra, regozija-te,
os montes, rompam em alegres cantos,
pois Javé consolou o seu povo,
ele se compadece dos seus aflitos.
Sião dizia: Javé me abandonou;
o Senhor se esqueceu de mim.
Por acaso uma mulher se esquecerá de sua criancinha de peito?
Não se compadecerá ela do filho do seu ventre?
Ainda que as mulheres se esquecessem
eu não me esqueceria de ti.”
“Até a ingratidão inflama o amor de Deus. O amor de nosso Deus.”
19. Deus cuida de nós. Ele escuta, pega no colo, amamenta. Deus que é esse tipo de pai e mãe (misericórdia). Deus não é macho ou fêmea.
4
20. Muitas pessoas nas nossas igrejas têm medo de Deus. Precisamos aproximar Deus de nós, insistindo nessas imagens de Deus mais próximo, misericordioso, paizinho. Deus: o pai!
21. Foi lembrado o ano 586, em que o templo foi destruído. Deus vivia aprisionado no templo, que virou instrumento de separação de Deus de nós, numa autêntica segregação.
22. É preciso ver que o Espírito está em todos os lugares. O sacrário, a Igreja, a capela do Santíssimo, são todos locais especiais aos quais nos dedicamos especialmente (e não exclusivamente) a louvar a Deus. São lugares e ritos destinados especialmente a louvar a Deus.
23. Indagado sobre como deveriam se vistos os milagres, o Prof. Paulo Ueti afirmou que milagres são milagres. Teologia romana: experiência da hóstia consagrada (experiência especialíssima). Presença física e real? A eucaristia é presença real do Cristo, mas não presença física. O importante é ter por base que Deus, que se revela pelo Espírito Santo em Jesus, não é localizado mais num único e específico lugar. Com a encarnação e a ressurreição não é possível mais encontrar Deus num único local.
24. Para nós, cristãos, não é necessário ter Deus isolado num determinado lugar. Eu posso encontrar Deus em todos os lugares, especialmente na eucaristia.
25. São Paulo: eu não posso aprisionar Jesus. O jeito como ele está entre nós não é mais o mesmo depois da encarnação e da ressurreição.
Intervalo: 17h15 às 17h30
5
26. Outras palavras do início do credo: “todo-poderoso”. Convém ter uma idéia precisa do que significa esse poder de Deus. A Bíblia sempre vai dizer, por exemplo, que os milagres são um sinal do amor de Deus por nós, por toda a humanidade. Os milagres e as atitudes de Jesus acarretaram problemas para ele, inclusive no sentido de que planejaram matá-lo. Isaías: “O Senhor é todo-poderoso em amor”. Ele é um “pastelão derretido” e essa é a contradição que Deus quis revelar para nós. O poder de Deus aparece pelo que me envolvo nesse espírito de amor de Deus: é preciso emergir, experimentar ânimo, desfazer as nuvens que nos impedem de amar.
27. Qual a imagem de Deus que temos em nossa cabeça?
28. Deus é Rei ?! A coroa de Jesus foi de espinhos. Súditos: Jesus não teve súditos ou servos. A sua missão foi a do sacrifício de cruz.
29. Precisamos retomar a leitura dos primeiros padres da Igreja. No século VIII esqueceu-se da Bíblia. É preciso recuperar a leitura da Patrística e da Bíblia.
30. A fé católica está baseada em três pilares:
a. Bíblia;
b. Patrística; tradição;
c. Magistério (da Igreja).
31. A base são os três pilares e não um só. A Patrística corresponde aos quatro primeiros séculos, com toda a contribuição dos padres do deserto e dos primeiros padres (Santo Antão, São Jerônimo, Evagrio Pôntico, São Crisóstomo e tantos outros). Foram lembrados também, entre outras referências do acervo da fé católica: Santa Hildegarda, Santa Catarina de Sena, Santo Inácio de Loyola, São Francisco, Santa Clara.
32. Temos que recompor a expressão “todo-poderoso” para poder entender o sacrifício da cruz. Quando eu entrego, eu recebo de novo; quando eu dou, eu recebo; é preciso desapegar-se. Isso é ser todo-poderoso.
6
33. Paulo: Filipenses 2: “Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, a morte sobre uma cruz”. Poder de Deus: é você não achar que pode tudo. Quando se tem vida, quando se é capaz de morrer pelo irmão.
34. Jesus não é mágico de plantão e nem está a meu serviço. Eu é que estou a serviço do Reino de Deus, que Jesus veio revelar.
35. Outros pontos do Credo: “criador do céu e da terra”, ou seja, de todas as coisas. Deus não é engenheiro. Ele é artista: sensível, aberto, apaixonado, amoroso. Ele é criador. Cria-se para as pessoas e o mundo serem melhores. Ele é também excêntrico, isto é, para fora, para os outros. Deus faz não para Ele. Deus faz para o mundo.
36. Muitas vezes, falta para nós os olhos da espiritualidade, olhos de contemplação. O espírito de Deus é vento, é língua de fogo. Quando inspira, tudo morre; quando expira, tudo volta a florir (primavera).
Salmo 104 (103):
... “Escondes tua face e eles se apavoram;
retiras sua respiração e eles expiram,
voltando ao seu pó.
Envias teu sopro e eles são criados,
e assim renovas a face da terra.” ...
37. Deus não é criador só do Céu. Ele é criador de tudo, do céu e da terra, “das coisas visíveis e invisíveis”, como incluído no símbolo niceno. É preciso, pois, ter o olhar da contemplação (voltar para a arte).
7
38. A filosofia tem um método, tem uma lógica. Na música, a partitura tem uma teologia.
39. A misericórdia, para onde leva? Para a humilhação, para a humildade. Falta para nós o aprofundamento para entender que Deus não criou só algumas coisas: por exemplo, a natureza boa do ser humano. Deus é de fato o criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. Deus cria tudo! Mesmo que depois a gente estrague o que foi criado, Deus estará ali para ajudar a consertar.
40. Finalizando o encontro, o Prof. Paulo Ueti explicou que o resultado da tentação é cada um fazer uma opção. A fé é o resultado de opções. Em qualquer delas, Deus estará ali para ajudar.
Brasília, 21/3/2006

Nenhum comentário:

Postar um comentário