segunda-feira, 13 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 01

Estudo do “Credo Apostólico” 01

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
1º Encontro: 13/3/2006, 2ª feira (16h07 às 18h05)
O Prof. Paulo Ueti iniciou o curso com a leitura e algumas
reflexões sobre o Salmo 130 (129), “De profundis”:
Salmo 130(129)
“Das profundezas clamo a ti, Javé:
Senhor, ouve o meu grito!
Que teus ouvidos estejam atentos
ao meu pedido por graça!
Se fazes conta das culpas, Javé,
Senhor, quem poderá se manter?
Mas contigo está o perdão,
para que sejas temido.
Eu espero, Javé, eu espero com toda a minha alma,
esperando tua palavra;
minha alma aguarda o Senhor
mais que os guardas pela aurora.
Mais que os guardas pela aurora
aguarde Israel a Javé,
pois com Javé está o amor,
e redenção em abundância:
ele resgatará Israel
de suas iniqüidades todas.”
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O Salmo lembra o Deus verdadeiro, que não é mágico,
poderoso no sentido humano, mas libertador e bondoso.O Salmo procura recuperar a imagem perdida de Deus, o Deus de Amor. É o salmo por excelência da quaresma: Salmo penitente, mas não de sofrimento e fortemente afirmativo. Mostra quem é Deus: é nele que está o perdão, o amor, a redenção em abundância. O sofrimento não é grande coisa , é só o sofrimento; cometer erros é só cometer erros; as nossas bobagens são apenas as nossas bobagens.
A conversa prevista no curso sobre o “Credo Apostólico”-
os dois credos, o credo símbolo dos apóstolos e o credo símbolo niceno-constantinopolitano – terá por base a pergunta essencial: “Quem é Deus?”
Há quem imagine que o sofrimento é obra de Deus, vem
de Deus. É preciso desfazer essa idéia equivocada e, pela nossa profissão de fé, por meio do Credo, identificar pelo menos quem não é Deus.
O Prof. Paulo Ueti relembrou o retiro de que participou
com jovens, em que um deles, indagado sobre quem é Deus, procurou explicar que Deus seria como um velhinho que tinha dois cachorros bravos e ameaçava soltá-los sobre as pessoas.O tempo da conversão seria aquele disponível até que um dos cachorros chegasse até nós. Para alguns, pois, Deus é distante, rancoroso, faz acepção de pessoas, acena com ameaças.
Quanto ao sofrimento, é bom ter em conta que ele faz parte
da vida, da humanidade: não existe o ser humano sem sofrimento. Além disso, para cada um de nós, Deus é o centro da nossa fé: Ele não nos faz sofrer. Muitas das nossas mazelas nada têm a ver com Deus. A pobreza existente no mundo, por exemplo, não vem de Deus: nós não sabemos repartir! Deus nos faz perceber que as escolhas que fazemos muitas vezes não estão de acordo com a vontade do Pai. Deus está entre nós, mas depende de nós saber percebê-lo.
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Uma questão essencial é saber se a graça de Deus muda a
minha vida, ou não. Foi relembrada a história do evangelho, envolvendo Maria e Marta: quando Jesus ia à casa delas, observa-se que Maria largava tudo o que fazia para ouvir Jesus e ficar com ele. A presença de Jesus não mudou, porém, a rotina de Marta, que continuava assoberbada com os afazeres domésticos e reclamava a falta de ajuda de Maria. Esta, ao contrário, escolheu a melhor parte: a presença de Jesus mudou a sua rotina.
A afirmação de fé tem a ver com isso: a presença de Jesus
em minha vida modifica a minha rotina? A minha profissão de fé muda minha vida?
A imagem de Deus, portanto, está em jogo. Quem é Deus?
Qual a imagem de Deus que tenho segundo a minha fé?
10. O nosso encontro com Deus deve ser marcante. É só lembrar a história do samaritano misericordioso e perceber que o amor de Deus é pleno e não impõe condições. Deus é amor primeiro. Eu amo porque Deus me ama. Eu tenho que experimentar o amor de Deus. A nossa religião, a religião católica, não é a religião do mérito individual. Deus nos ama primeiro. O critério de Deus é a sua necessidade. A graça de Deus é pública, amorosa e incondicional. Um bom exemplo é o do patrão que foi em busca de operários durante o dia, em horários diferentes, e, no final, realizou o pagamento da diária a partir do último contratado, atribuindo-lhe o mesmo valor que havia acertado com o primeiro.
11. É preciso estarmos atentos e não cair na armadilha de cumprir o rito da missa, sem atender à essência religiosa; cumprir a lei e esquecer a graça de Deus, que justifica o Credo. É preciso relativizar a norma, estabelecer prioridades. Rezar por rezar não resolve: urge viver a religião, cumprindo naturalmente as normas.
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12. As obras são conseqüência da fé. Os milagres dependem da fé. Cabe viver na fé a profissão do Credo.
13. Deus é todo-poderoso. Só que o poder de Deus não é o imaginado pelos discípulos. Deus é o Messias que vai morrer na cruz!
14. Não se trata simplesmente de cumprir o rito da fé. É preciso ter conteúdo na fé. É preciso aprofundar a nossa fé. Temos que conviver e encarar o mistério, mesmo sem definí-lo, sem saber explicá-lo. Mistério não segredo. É preciso mergulhar no mistério.
15. São Tomás de Aquino: a respeito de Deus, só podemos dizer o que Ele não é.
16. Nós podemos dizer uma palavra sobre Deus, mas não a palavra sobre Deus. Deus é amor, é misericórdia. Deus não é mentiroso, não é carrasco, não é sofrimento.
17. O Credo Apostólico é uma afirmação de fé, mas não pretende dizer quem é Deus. Crer é viver. Crer na Bíblia é fazer. Mudar de vida de acordo com Jesus. Procurar parecer com Jesus.
18. Com base no Credo, a pergunta é: a minha fé me fez parecer com Jesus e acreditar nele? É preciso, através do Credo Apostólico, me transformar e ficar parecido com Jesus. Eu leio a Bíblia para parecer com Jesus.
19. A revelação de Deus para nós cristãos, não está na Tradição, nem na Patrística, nem na Bíblia, mas sim na pessoa de Jesus Cristo – um ser humano que é para nós, cristãos, a revelação de Deus. As outras religiões monoteístas, como o Islamismo e o Judaísmo têm, como revelação de Deus, o Corão e a Torá.
20. O Credo nos ajuda a rever a nossa imagem do Deus da Bíblia.
O Credo nasceu no IV século. Até então, não havia o Credo, pois não havia necessidade, uma vez que tudo era tranqüilo e fora de dúvida. As transformações havidas levaram à necessidade de retomar a origem das coisas, considerando que os quatro primeiros séculos mudaram muito a Igreja, requerendo a necessidade do Credo.
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21. O texto de Jó é ilustrativo, na medida em que mostra que os seus amigos religiosos vão dizer que conhecem Deus e que Jó está sofrendo porque pecou. O mesmo que se vê quando uma moça é violentada e se diz que a culpa é dela, porque anda com pouca roupa, se expondo. Para os amigos de Jó, a razão é que Deus castiga os pecadores e a culpa é dele, pecador. Jó, destemidamente, nega tudo isso.
22. Deus é maior que a minha capacidade de compreendê-lo.
Intervalo: 17h15 às 17h32
23. Após o intervalo, o Prof. Paulo Ueti indicou a leitura e a reflexão sobre o texto da Epístola aos Filipenses, a partir do capítulo 2, versículo 5 e seguintes:
“Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus;
Ele, estando na forma de Deus,
não usou de seu direito de ser tratado como um deus,
mas se despojou, tomando a forma de escravo.
Tornando-se semelhante aos homens e
reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se,
tornando-se obediente até a morte,
à morte sobre uma cruz.”
24. É requerido que se tenha o mesmo sentimento que havia em Jesus. Parecer com Jesus. Não esquecer quem é Jesus.
25. Jesus tinha a condição divina e não se vangloriou disso. Foi gente como nós, plenamente. Jesus esvaziou-se de si mesmo, desapegou-se, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. Humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, a morte de cruz. Obediente significa diálogo, significa escutar (de dentro, do fundo do coração) e praticar a vontade de Deus.
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26. Temos medo da cruz. Escutar é ir para o sacrifício da cruz. Termina na cruz, mas não significa ficar na cruz.
27. Jesus foi para a cruz. Parecer com Ele é também seguir o caminho da cruz. Não vamos esquecer que o “kit Jesus” é completo: vida, sofrimento, morte, ressurreição. Tudo acaba na cruz, que vira ressurreição.
28. Jesus não pede o sofrimento, que é resultado do seu amor pela humanidade. Fazer o mundo melhor causa sofrimento. A cruz faz parte da nossa fé.
29. Cabe a cada um de nós perceber a graça de Deus misturada com o sofrimento da humanidade. Tudo está junto e misturado.
30. A vida tem que ter método. Aprende-se isso no cotidiano do exercício da vida. Praticar o sofrimento. A religião é um caminho.
Caminhar com Jesus. A cruz está no caminho.
31. O Credo é fundamental para entender que a felicidade e a tristeza podem conviver na mesma mesa. A rigor, percebe-se que elas são a mesa: vivem juntas, fazem parte da vida!
32. Onde é o lugar de Deus? Qualquer lugar. Deus está em todos os lugares.
33. Nos próximos encontros, serão vistos e detalhados os 3 artigos essenciais dos dois Credos, o Credo Apostólico e o Credo Niceno-Constantinapolitano.
Brasília, 14/3/2006

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