domingo, 15 de janeiro de 2012

Livros ("A assombrosa viagem de Pompônio Flato")

Brasilia, 15 de janeiro de 2012.





Por indicação do nosso Araken, de São Paulo-SP, que foi Diretor do Banco Central e que é nosso amigo, acabei de ler o gostosíssimo e curioso “A assombrosa viagem de Pompônio Flato”, de Eduardo Mendoza (Editora Planeta, 2008/2010, 207 páginas).  O autor, nascido em Barcelona em 1943,  é renomado e publicou vários romances, muitos deles premiados, inclusive o ótimo “A cidade dos prodígios”, de 1986, homenagem especial a Barcelona, sede tradicional de Convenções Internacionais.  O texto de “A assombrosa viagem de Pompônio Flato” é um requinte de criatividade e ironia:  a história se passa no século I da nossa era, no ambiente de Nazaré, alcançando a vida de São José e Maria e a infância de Jesus.  Pompônio Flato é um cidadão romano, tribuno, de grande curiosidade pelo conhecimento e as aventuras: “Que os Deuses o poupem, Fàbio, desta praga, pois de todas as maneiras de purificar o corpo que o destino nos envia, a diarréia é a mais pertinaz e diligente.”  Na sua intensa lida de “busca do saber e da certeza”, ele vinha sofrendo com freqüência de diarréia:  “Pois acontece que tendo chegado às minhas mãos um papiro supostamente encontrado em um túmulo etrusco”, tive “notícia de um arroio cujas águas proporcionam sabedoria a quem as bebe”.  Desse modo, Pompônio Flato viaja pelos confins do Império Romano em busca dessas águas de efeitos miraculosos e toma conhecimento de que, ao sul da Silícia, existe um lugar onde uma estranha corrente de água escura e profunda, ao ser bebida pelo gado, torna as vacas brancas e as ovelhas negras.  Nesse seu périplo, Pompônio acaba chegando à cidade de Nazaré, onde está para ser crucificado um carpinteiro de nome José, condenado pelo brutal assassinato do rico cidadão Epulão.  Contratado pelo filho do carpinteiro, o menino Jesus,  Pompônio Flato termina por se envolver, a contragosto, na tentativa de solução do mistério e na identificação do verdadeiro assassino.  O estilo do autor é original e irônico, na verdade irreverente e malicioso:  explica, antes de tudo, que a execução do criminoso não poderia, para estabelecer o exemplo, ser
por decapitação, “que é um método decente, rápido e discreto, sendo preferível a crucifixão. O problema  estriba em que a cidade não dispõe de nenhuma cruz, e por isso tivemos que encomendá-la a um carpinteiro, e dá-se a incômoda circunstância de que o carpinteiro é justamente o réu que temos de executar”.  Fala com delicadeza da cortesã Zara a Samaritana e tece elogios às suas “virtudes”: “Zara a Samaritana mandou as crianças irem dar forragem ao cordeiro e, mal haviam saído, fechou a porta  a chave, conduziu-me ao leito e num instante, com grande perícia, aliviou o meu desassossego e consolou meus tormentos”.  Coloca na boca de Jesus-criança a seguinte avaliação: “Andei pensando e decidi que quando for grande vou casar com Lalita (a filha de Zara). Sei que a mãe dela é uma pecadora , mas como agora sou filho de um criminoso, não acho que haja impedimento. Também pensei em mudar de nome e me chamar Tomás. O que você acha, raboni?”  O enredo do livro vai crescendo numa “trama detetivesca original e irônica, que desemboca em uma sátira literária e em uma criação de inesgotável vitalidade.”   Vale a pena deliciar-se.
O abração do
Antonio A. Veloso.

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