segunda-feira, 29 de maio de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
3º Encontro: 29/05/2006, 2.ª feira (16h10 às 18h)
1. O encontro foi iniciado com a leitura do Salmo 131 (130):
“Javé, meu coração não se eleva,
nem meus olhos se alteiam;
não ando atrás de grandezas,
nem de maravilhas que me ultrapassam.
Não! Fiz calar e repousar meus desejos,
como criança desmamada no colo de sua mãe,
como criança desmamada estão em mim meus desejos.
Israel, põe tua esperança em Javé,
desde agora e para sempre.”
2. O Salmo 131 é o salmo da peregrinação, rezado nas romarias, na subida a Jerusalém. Mostra a necessidade de que cada um de nós seja como uma criança. É preciso assumir o espírito de criança que clama pelo Pai, à semelhança do que se faz na oração do Pai Nosso, oração comunitária, em que toda a humanidade se dirige ao Deus Pai.
3. O primeiro passo no nosso caminho espiritual é saber a quem se dirige o pedido. Quem é o Deus a quem estou me dirigindo? “Eu sou o Deus que te tirou do deserto, da escravidão do Egito”.
4. A oração do Pai Nosso mostra que não cabe privatizar Deus, aprisioná-lo, determinar as coisas em relação a Deus. É fundamental descobrir quem é Deus e saber que Deus é Pai, é de todos, mesmo daquele que não quer.
5. “Pai Nosso que estás nos céus”. Deus não está só aqui na terra, mas em todo lugar. Ninguém é capaz de dizer o que são realmente os céus. Quando se está zangado, bravo com o filho, por exemplo, a reação é chamá-lo pelo nome, de tal modo que a pessoa fica controlada, presta atenção em você. O judeu não chama o nome de Deus em vão: “Eu sou”. Jesus: “Eu sou salva”. Quando a gente é “eu sou salva”, está integrado, está controlado. Não se pode, pois, dizer o nome de Deus em vão, pois seria mentir para si mesmo.
6. Temos, assim, uma pergunta que é eterna para nós: “quem sou eu?” Jesus chama Deus de Pai, paizinho. Quer dizer: ternura, amor, proteção. Em aramaico, melhor seria dizer que Deus é mãe. Na nossa sociedade, pai é normalmente uma figura opressora. De qualquer forma, é preciso ter em conta que Deus é o Pai. O nosso Pai, o Pai de todos nós.
7. O primeiro pedido explicitado na oração do Pai Nosso é: “santificado seja o teu nome”. Deus é santo. A súplica é para que Ele seja glorificado (manifestado). Para que o nome de Deus seja manifesto, presente no mundo.
8. Como foi dito antes, o Pai Nosso é oração comunitária, não privada. O primeiro pedido tem a ver com “não dizer o santo nome de Deus em vão”. Ou seja: não colocar o nome de Deus naquilo que Ele não gosta. Não usar Deus, por exemplo, como instrumento de castigo. Por outras palavras, é não fazer de Deus o que Ele não é. Devemos ser mais fiéis à essência do que Deus é.
9. O pedido do Pai Nosso, pois, é para que o nome de Deus seja manifesto. O sentimento que caracteriza Deus é a misericórdia, o amor. Glorificá-lo é reconhecer essa condição. É preciso que a misericórdia de Deus seja manifestada.
10. Quem é responsável pela misericórdia de Deus? Nós, através do nosso testemunho. Temos que testemunhar o amor de Deus. Onde as pessoas encontram Deus? Onde são bem acolhidas. A questão central é, pois, a hospitalidade. Isso depende de nós, do nosso corpo, do nosso movimento, da nossa atitude.
11. O segundo pedido do Pai Nosso é: “venha a nós o teu Reino”. Pedido destinado a todos, para o mundo. Trata-se de novo mundo, nova ordem. Outro ponto fundamental: o teu Reino, o Reino de Deus – o Reino que é novo, que precisa ser ajudado a construir por nós. Isso tem a ver com o jeito de viver a sua vida: o Reino de Deus acontece quando a minha vida se parece com a vida de Jesus. Para isso, eu preciso conhecer Jesus. Fazer o encontro pessoal com Jesus, o que pode ser feito através da Bíblia, da Igreja, da comunidade. É preciso fazer o pedido para que o Reino venha todos os dias. E ele vem quando me disponho a fazer as coisas acontecerem. Deus quis assim: depender de nós para a construção do Reino.
12. É preciso não confundir o Reino com a salvação final. A nossa salvação começa aqui com o Reino, que precisa da nossa ação, precisa ser construído por nós. Recorde-se que no capítulo das bem-aventuranças é dito que o Reino está no meio de nós. No fim, vamos ter a plenitude da salvação, que depende de Deus.
13. O terceiro pedido do Pai Nosso diz: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Quanto à primeira parte, é difícil saber qual é a vontade de Deus. Eu preciso me comprometer com ela. Toda a oração do Pai Nosso desenvolve um compromisso comunitário.
14. Quem me ajuda a saber o que é certo, o que é a vontade de Deus? É a comunidade! Fazer tudo junto, em comunhão: esse é o caminho do discernimento. É preciso discernir.
15. O desejo de Deus sempre nos leva para o equilíbrio, que não é pacífico, é conflituoso. O equilíbrio dói, é difícil, não é tranqüilo. O deserto nos ajuda a manter o equilíbrio.
16. Foi lembrada a passagem da angústia de Jesus: “Pai, afasta de mim esse cálice, mas não seja feita a minha vontade e sim a tua vontade”. Escutar e fazer (obediência), mesmo que isso signifique perdas para nós. Foi também recordado o episódio do deserto com o diálogo entre Deus e Moisés: Deus manda Moisés falar com o Faraó e Moisés resiste, querendo a garantia de saber que tudo vai ser cumprido. E Deus responde a Moisés: “quando todos tiverem saído do Egito e estiverem fora, bem longe do Egito, vocês vão saber que eu estava do lado de vocês”. É preciso fazer para saber. O caminho é contruído no dia-a-dia, nas ações e atitudes:
“Caminheiro, você sabe: não existe caminho; passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz”.
17. A tarefa é árdua. É cansativo. É preciso refletir, avaliar. É conflitivo. Isso se chama método, caminho. É preciso aprender com o método.
18. Fazer a vontade de Deus exige de nós perguntar, ouvir, saber qual é a vontade de Deus. É preciso viver a crise e discernir.
19. O Prof. Paulo Ueti assinalou, para os fins de evangelização, que falta na Igreja a prática do Ministério da Escuta. Escutar com fé, com liberdade, o que as pessoas têm a dizer para nós.
Intervalo: 17h15 às 17h35
20. Continuando a reflexão sobre o terceiro pedido do Pai Nosso, foram desenvolvidos alguns comentários sobre a parte final: “assim na terra, como no céu.” Está por trás o fato de que o Reino de Deus, que está no céu, precisa acontecer aqui na terra. O jeito que a gente vive aqui na terra precisa ser cada vez mais parecido com o jeito do céu. A terra tem que ser igual ao céu: o céu se incorpora à terra.
21. O céu começa aqui, entre nós, conforme diz Anselm Grün. A glória de Deus começa no céu e se espalha na terra. As coisas se misturam. Na descrição do Apocalipse, o céu e a terra se juntaram. Está tudo junto. A terra tem que ser espelho do céu. Quando acontecer a plenitude em tudo, a fé não será mais necessária. Até lá, a fé é essencial. Por enquanto, precisamos da fé e da militância.
22. O céu é o lugar onde Deus habita. Deus se encarnou. A imagem que eu tenho é que Deus quer a minha participação para viver na terra um pedaço do céu, tornando o céu uma realidade.
23. Diferentemente de generosidade, que é um gesto isolado, a caridade exige que a pessoa se envolva, se comprometa. Precisamos ser cada vez mais caridade, que exige comprometimento e conversão. Nós fazemos muitas vezes coisas erradas. É preciso encontrar caminhos coletivos.
24. Na vida eclesial, a busca dos caminhos é mais difícil, mais tormentosa do que em nossa casa. São vividas crises e mais crises, difíceis de administrar. Nós não conseguimos ser irmãos, fraternos.
25. A vontade de Deus precisa encher a terra, ser objetiva, voltada para o dia-a-dia. Tudo isso exige freqüentar o deserto e encontrar Deus, ver os nossos limites, as nossas fraquezas. É preciso chegar até o deserto, lugar onde nos dispomos a silenciar e encontrar Deus. É preciso fazer o encontro e ouvir. Chegar ao discernimento.
26. O Prof. Paulo Ueti referiu-se à passagem em que Elias foge para o deserto para pedir ajuda a Deus e se esconde em uma gruta. A cada tormenta – furacão, terremoto, fogo – Elias aparecia e procurava Deus e Ele não estava ali. Passou uma leve brisa e Elias não percebeu que ali estava Deus. (1 Reis, 19).
27. O ponto focal de tudo é que temos um problema com a imagem que se tem de Deus. Onde encontramos Deus ou onde não o encontramos? É só lembrar a parábola das virgens para perceber que não se pode dormir. Lerdeza no Reino de Deus não funciona. O Reino de Deus é daqueles que estão antenados, ligados, vigilantes. É preciso velar, vigiar, estar sempre atento. Não deixar as oportunidades passarem. Em síntese: estar atentos para as oportunidades e fazer o nome de Deus estar presente.
Brasília, 29/05/2006.

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