segunda-feira, 8 de maio de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso” 1º Encontro

Curso: Estudo do “Pai-Nosso” 1º Encontro

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)

Notas Avulsas


1º Encontro: 08/05/2006, 2ª feira (16h17 às 18h)

1. O Prof. Paulo Ueti manifestou o desejo de começar o curso rezando, o que foi feito com a participação de todos na leitura do Salmo 27 (26):

“Javé é minha luz e minha salvação: de quem terei medo?
Javé é a fortaleza de minha vida: frente a quem tremerei?
Quando os malfeitores avançam contra mim para devorar minha carne, são eles, meus adversários e meus inimigos, que tropeçam e caem.
Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não temerá;
Ainda que uma guerra estoure contra mim, mesmo assim estarei confiante.
Uma coisa peço a Javé, a coisa que procuro: é habitar na casa de Javé todos os dias de minha vida, para gozar a doçura de Javé e meditar no seu templo. Pois ele me oculta na sua cabana no dia da infelicidade; ele me esconde no segredo de sua tenda, e me eleva sobre uma rocha.
Agora minha cabeça se ergue sobre os inimigos que me cercam; sacrificarei em sua tenda sacrifícios de aclamação.
Cantarei, tocarei em honra de Javé!
Ouve, Javé, meu grito de apelo, e tem piedade de mim, e responde-me!
Meu coração diz a teu respeito: “Procura sua face!”
É tua face, Javé, que eu procuro, não me escondas a tua face.
Não afastes teu servo com ira, tu és o meu socorro!
Não me deixes, não me abandones, meu Deus salvador!
Meu pai e minha mãe me abandonaram, mas Javé me acolhe!
Ensina-me o teu caminho, Javé!
Guia-me por vereda plana por causa daqueles que me espreitam;
Não me entregues à vontade dos meus adversários, pois contra mim se levantaram falsas testemunhas, respirando violência.
Eu creio que verei a bondade de Javé na terra dos vivos.
Espera em Javé, sê firme!
Fortalece teu coração e espera em Javé!”


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2. O Salmo 27 é texto tipicamente pascal e nos transmite o ensinamento de que Deus é a nossa luz, a nossa salvação. Não devemos ter medo de ninguém e de nada. “Não tenhais medo!” Não é para ter medo e nem colocar medo em ninguém: o Senhor é a rocha, o Senhor é a salvação, o Senhor é o abrigo, o Senhor é a fortaleza, o Senhor é a luz. São Paulo: “Nada pode nos separar do amor de Cristo.” É importante, também, não separarmos ninguém do amor de Cristo. Não devemos cometer o erro de imaginar que o Cristo é só nosso, nos pertence. Foi lembrado o episódio de Maria Madalena com o Cristo ressuscitado, em que Jesus disse: “Não me retenha, não me agarre.”

3. Não é possível apropriar-nos de Deus. Ele não é minha propriedade. No máximo, estará a nosso alcance fazer alguém reconhecer Jesus.

4. Lucas (11,1): “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”. Há dois textos do Pai Nosso, um de S. Lucas, mais breve e com cinco pedidos, e outro de S. Mateus, em versão mais ampla, com sete pedidos. A idéia do curso é examinar os dois textos, refletir sobre eles e avaliar as diferenças.

5. O Prof. Paulo Ueti indicou, a propósito, as seguintes leituras:

a) “Pai-Nosso - Oração da Utopia”, de Evaristo Martin Nieto (Ed. Paulinas);
b) “Bem-Aventuranças e Pai Nosso”, de Jean Ives Leloup (Ed. Vozes).

6. Durante o curso, haverá um retorno ao ambiente de oração, no caso uma oração específica, o Pai Nosso, ensinada pelo próprio Jesus.

7. O ponto central é o de examinar como olhar para a vida, para a nossa história, de uma maneira toda especial, de uma maneira orante. É preciso ter em conta que a oração pode ser muita coisa. É preciso saber distinguir, por exemplo, entre cristão e crístico. Nós somos cristãos, vivemos uma realidade cristã. Em nossa caminhada, queremos ser cada vez mais crísticos: parecer mais e mais com Cristo. Diferentemente, Ghandi não era cristão, não quis ser cristão, mas tinha a vivência de uma realidade crística.

8. A nossa vida precisa ser orante. Oração: tem a ver com falar, verbalizar. Na nossa tradição religiosa, porém, é mais do que isso, é mais que a palavra, que já é algo poderoso (a palavra cria a realidade). A oração vai além e tem a ver com diálogo (dia: diversos sentidos, querendo dizer através; logos: palavra). Diálogo: através da palavra, por meio dela e para além dela.

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9. Diálogo não é, pois, apenas troca de códigos. Precisa do silêncio, para também escutar e deixar falar. Oração é, necessariamente, um encontro, em que se vai além da nossa palavra. Trata-se de encontro na relação: é possível gerar conversão, mudança. O diálogo é vivificador, transforma, muda, é conversão. O diálogo pressupõe disposição e desapego, para que haja a transformação.

10. Oração não é, assim, uma simples lista de pedidos. O diálogo representa um encontro, sempre vai ser uma educação, um processo de discernimento, que tira de você para fora. Através das palavras, a pessoa precisa botar para fora, abrir-se, dizer, expor-se.

11. Todo encontro é uma experiência de meditação, de contemplação. A sua realização muda a nossa teoria. Dialogar (até o fim) é uma tarefa muito difícil. A oração nunca é a mesma palavra, no mesmo lugar, no mesmo ritmo.

12. Num dado momento, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar. O Pai Nosso não é repetição daquelas mesmas palavras: é um encontro com Deus. Como se faz esse encontro? Como se faz o meu acesso a Deus?

13. Isso só ocorre quando a gente realiza o encontro consigo mesmo, com os irmãos e com Deus. É preciso entrar no processo do mistério: é comunhão. A oração é sempre comunicativa, relação comunitária, comunhão. Através da palavra, encontro Deus.

14. Muita gente acha que a Igreja é o mesmo que supermercado, local de negócios, balcão de consumo. Somos bons negociadores, mas nem sempre conseguimos fazer encontros verdadeiros, em que nos apresentamos tal como realmente somos, com as faltas e virtudes, retiradas as nossas máscaras.

15. A oração é fundamental: tem que ser algo que seja estruturante da nossa vida. É mais do que apenas fazer ritos. O rito é importante, mas é preciso ir além para realizar o verdadeiro encontro, atendendo a requisitos essenciais:

a) realizando o encontro comigo mesmo, descobrindo e revelando quem eu sou, com os meus limites e qualidades;

b) fazendo esse encontro também com o outro, que vai me ajudar a me descobrir, a me conhecer melhor.


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16. É preciso saber distinguir claramente: quem são os amantes e entes queridos; os amigos; os cúmplices. Na Igreja, precisamos viver relações de conspiração, respirar o mesmo ar e ter os mesmos objetivos. É questão de cumplicidade: ter a mesma disposição de caminhar juntos, mesmo que não haja relação de amizade, de amor, de paixão.


Intervalo: 17h15 às 17h33.


17. Foi dito, no retorno, que na convivência de uma comunidade nem todas as pessoas são amigas. É preciso, nesse contexto, estabelecer certo nível de cumplicidade, de conspiração, a fim de dar curso e, juntos, seguir o caminho.

18. Respondendo a indagação feita, o Prof. Paulo Ueti enfatizou que encontro não é só fala, louvor. Referiu-se ao livro do monge beneditino Beda Griffits, intitulado “Retorno ao Centro”, para dizer que viemos de Deus e para Deus somos vocacionados. É indispensável que eu me dê conta disso: a partir daí, ninguém me separa de Deus.

19. De fato, são vários os estágios que devo percorrer, na economia da salvação. Entre eles, há o processo da catarse (dizer, dizer, dizer), mas até aí não se trata de encontro completo e verdadeiro. É preciso ir adiante, saber escutar, dar-se conta de si mesmo. Voltar ao centro: movimento de escutar a si mesmo. Silenciar e escutar. Tomar pé da situação. É no silêncio que me encontro comigo mesmo, por isso não posso ter medo do silêncio, da escuridão, da noite. No "retorno ao centro", por meio do encontro comigo mesmo, encontro a Deus.

20. Deus não interfere diretamente na vida das pessoas. Ele quis que nós nos envolvêssemos. Quando nos envolvemos, escutamos Deus.

21. Precisamos de tempo especial, precisamos de atender à liturgia. Exemplos: celebrar aniversário, cuidar de alguém doente. Ou seja, precisamos desse momento especial a ser observado.

22. Encerrando o encontro, foi mencionado que da próxima vez serão vistos os textos do Pai Nosso.


Brasília, 09/05/2006.

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