quarta-feira, 26 de março de 2014

A cozinha venenosa - Silvia Bittencourt

Brasilia, 23 de março de 2014.

Caros amigos do Clube do Livro.
Terminei hoje a leitura do texto para a nossa próxima reunião, dia 24.  Como se vê, em cima da hora (junto os meus comentários).  Abraços,
Antonio A. Veloso



TEXTO:  “A cozinha venenosa”, de Silvia Bittencourt, Editora Três Estrelas, 2013, 330 páginas.

O texto é o resultado de cuidadosa pesquisa desenvolvida pela autora, a jornalista Silvia Bittencourt, radicada desde 1991 na Alemanha,  sobre a importante e práticamente inédita história do jornal Munchener Post, de Munique, que descobriu em 1920 “um senhor chamado Hitler”.  A obra é a biografia do corajoso jornal, que assumiu a postura destemida contra o louco ditador nazista,  desde o início de sua desvairada trajetória nas cervejarias da cidade.  O Post, assumindo uma postura de “enfrentamento suicida e visionário”, tentou abater Hitler desde o nascedouro e por todos os lados, mostrando o monstro que ele era:  criticou-o aberta e impiedosamente, ridicularizou o seu estilo, investigou e denunciou o seu jeito de viver,  acompanhou o seu motorista e guarda-costas,  criticou as suas roupas, denunciou as agressões, os crimes e a matança dos adversários.  Os repórteres do Post foram os primeiros a “explicar” o líder nazista:  “Eles foram os primeiros a sentir as dimensões do potencial de Hitler para o mal”.   Para tanto,  o Post enfrentou uma maratona de ataques físicos, tentativas de assassinatos de seus redatores e jornalistas, inúmeras demandas jurídicas, destruição das instalações, censura, empastelamentos, invasões.  A denominação de “A cozinha venenosa” era uma das formas maledicentes de Hitler dirigidas ao jornal,  chamado também de “Munchener Pest”,   “judeu e marxista”.  Diferentemente do que pensava  a maioria,  seduzida pelo estilo e pela verbosidade do líder nazista,  para o Munchener Post “Hitler era tangível e vulnerável”.   Corajosamente,  já em 1932, antecipou a publicação das diretrizes sobre  a monstruosa “solução final” que era reservada  aos judeus.   O livro é, pois, a história dessa corajosa guerra de um pequeno jornal de Munique contra Hitler:  durante mais de dez anos,  de 1920 a 1933, o Munchener Post enfrentou sem tréguas a batalha diária contra o líder nazista e seus parceiros fanáticos, mostrando claramente quem era Hitler e o que se poderia esperar dele.  A exaustiva e bem cuidada pesquisa da jornalista Silvia Bittencourt mostra em detalhes a história heróica e surpreendente dessa resistência ao nazismo e à ascensão de Hitler ao poder.   Oitenta anos depois, o livro da jornalista brasileira é o primeiro a contar esse fato singular,  que teve por cenário o clima de deterioração econômica do mundo e em particular da Alemanha, as disputas dos partidos de direita e esquerda, a organização de milícias, a violência política e a sua escalada,  diante de um poder público grandemente debilitado.  Calcula-se  que, com a ascensão de Hitler, mais de 45 mil pessoas tenham sido presas na Alemanha em março e abril de 1933,  sendo  que, segundo a historiadora Bárbara Distel, muitas dessas prisões eram arbitrárias e frequentemente motivadas por vingança pessoal.  Observe-e que, com essa perseguição em massa,  os presídios  das grandes cidades alemãs ficaram abarrotadas , surgindo daí os campos de concentração.   Trata-se, portanto, de um texto valioso. 

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