Brasilia, 23 de março de 2014.
Caros amigos do Clube do Livro.
Terminei hoje a leitura do texto para a nossa próxima reunião, dia 24. Como se vê, em cima da hora (junto os meus comentários). Abraços,
Antonio A. Veloso
TEXTO: “A cozinha venenosa”, de Silvia Bittencourt, Editora Três Estrelas, 2013, 330 páginas.
O texto é o resultado de cuidadosa pesquisa desenvolvida pela autora, a jornalista Silvia Bittencourt, radicada desde 1991 na Alemanha, sobre a importante e práticamente inédita história do jornal Munchener Post, de Munique, que descobriu em 1920 “um senhor chamado Hitler”. A obra é a biografia do corajoso jornal, que assumiu a postura destemida contra o louco ditador nazista, desde o início de sua desvairada trajetória nas cervejarias da cidade. O Post, assumindo uma postura de “enfrentamento suicida e visionário”, tentou abater Hitler desde o nascedouro e por todos os lados, mostrando o monstro que ele era: criticou-o aberta e impiedosamente, ridicularizou o seu estilo, investigou e denunciou o seu jeito de viver, acompanhou o seu motorista e guarda-costas, criticou as suas roupas, denunciou as agressões, os crimes e a matança dos adversários. Os repórteres do Post foram os primeiros a “explicar” o líder nazista: “Eles foram os primeiros a sentir as dimensões do potencial de Hitler para o mal”. Para tanto, o Post enfrentou uma maratona de ataques físicos, tentativas de assassinatos de seus redatores e jornalistas, inúmeras demandas jurídicas, destruição das instalações, censura, empastelamentos, invasões. A denominação de “A cozinha venenosa” era uma das formas maledicentes de Hitler dirigidas ao jornal, chamado também de “Munchener Pest”, “judeu e marxista”. Diferentemente do que pensava a maioria, seduzida pelo estilo e pela verbosidade do líder nazista, para o Munchener Post “Hitler era tangível e vulnerável”. Corajosamente, já em 1932, antecipou a publicação das diretrizes sobre a monstruosa “solução final” que era reservada aos judeus. O livro é, pois, a história dessa corajosa guerra de um pequeno jornal de Munique contra Hitler: durante mais de dez anos, de 1920 a 1933, o Munchener Post enfrentou sem tréguas a batalha diária contra o líder nazista e seus parceiros fanáticos, mostrando claramente quem era Hitler e o que se poderia esperar dele. A exaustiva e bem cuidada pesquisa da jornalista Silvia Bittencourt mostra em detalhes a história heróica e surpreendente dessa resistência ao nazismo e à ascensão de Hitler ao poder. Oitenta anos depois, o livro da jornalista brasileira é o primeiro a contar esse fato singular, que teve por cenário o clima de deterioração econômica do mundo e em particular da Alemanha, as disputas dos partidos de direita e esquerda, a organização de milícias, a violência política e a sua escalada, diante de um poder público grandemente debilitado. Calcula-se que, com a ascensão de Hitler, mais de 45 mil pessoas tenham sido presas na Alemanha em março e abril de 1933, sendo que, segundo a historiadora Bárbara Distel, muitas dessas prisões eram arbitrárias e frequentemente motivadas por vingança pessoal. Observe-e que, com essa perseguição em massa, os presídios das grandes cidades alemãs ficaram abarrotadas , surgindo daí os campos de concentração. Trata-se, portanto, de um texto valioso.
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