Brasilia, 27 de agosto de 2012.
Caros amigos.
O autor, Julian Barnes, é um dos mais elogiados escritores
ingleses da atualidade, despontando com o seu 11º. Livro, ganhador do Man
Booker Prize de 2011: “O sentido de um fim”, Editora Rocco,
2011/2012, 159 páginas. Trata-se de uma revisita aos anos 60, na década e
no país dos Rolling Stones, e mesmo assim falando de um sexo tímido,
acanhado: “Mas não eram os anos 60 ? Sim, mas só para algumas
pessoas, só em certas partes do país.” O texto é genuinamente inglês,
sutil, repleto de ironia, delicado, às vezes cínico e mordaz: “o
casamento é uma refeição comprida e sem graça onde servem o pudim
primeiro.” A narrativa é uma revisita ao passado, reproduzindo as coisas
segundo “algumas lembranças aproximadas que o tempo deformou em certezas.” Tony
Webster, “aos sessenta e poucos anos, careca e aposentado,” apresenta o
resultado das suas investigações sobre “a fragilidade dos alicerces da
memória,” recorrendo às “lacunas de suas lembranças: se eu não
posso mais ter certeza dos acontecimentos reais, posso ao menos ser fiel às
impressões que aqueles fatos deixaram.” Tony Webster vai abrindo o baú
das suas reminiscências, desde o tempo de colégio, inicialmente com os amigos
Colin e Alex e posteriormente incluindo o tímido e brilhante Adrian Finn,
que terminou cometendo suicídio ainda jovem. Do grupo, Adrian
era o único que vinha de lar desfeito, mas nem porisso se queixava de ter um
estoque de raiva existencial, dizendo-se amoroso com a mãe e respeitoso com o
pai. Era fã e admirador do autor Camus, que afirmava ser o suicídio a
única questão filosófica verdadeira. Tony Webster refletia: “naquela
época nos imaginávamos numa espécie de gaiola, esperando para sermos soltos na
vida. Enquanto isso, tínhamos fome de livros, fome de sexo, éramos
meritocratas, anarquistas.” Na Universidade de Bristol, discutiam com o
professor de História, Joe Hunt: “o que é a história, Webster? História é
a mentira dos vitoriosos. Colin: história é um sanduíche de cebola
crua, senhor. Ela só se repete, ela arrota. Adrian Finn:
“história é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da
memória se encontram com as falhas da documentação.“ Tony teve uma namorada
complicada, Veronica Mary Elizabeth Ford, que ele imaginava ser virgem porque
se recusava a dormir com ele. Foi marcante a visita de Tony à família de
Veronica no final de semana, em que se sentiu fortemente humilhado pelo
pai e pelo irmão. A segunda parte do texto é sobre o período da
maturidade, quando se vai descobrindo , por exemplo, que `a medida em que as
testemunhas de sua vida vão diminuindo existe menos confirmação, e portanto
menos certeza, a respeito do que você é ou foi.” A narrrativa ganha força
e sutilezas, a partir de uma herança inesperada da mãe de Veronica que
faz Tony retomar contato com a ex-namorada e ter revelações sobre Adrian Finn,
o amigo brilhante que se suicidou. O texto é enigmático, atraente,
cheio de inquietude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário