segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O sentido de um fim

Brasilia, 27 de agosto de 2012.

Caros amigos.


O autor, Julian Barnes, é um dos mais elogiados escritores ingleses da atualidade, despontando com o seu 11º. Livro, ganhador do Man Booker Prize de 2011:   “O sentido de um fim”,  Editora Rocco, 2011/2012, 159 páginas.  Trata-se de uma revisita aos anos 60, na década e no país dos Rolling Stones, e mesmo assim falando de um sexo tímido, acanhado:  “Mas não eram os anos 60 ?  Sim, mas só para algumas pessoas, só em certas partes do país.”  O texto é genuinamente inglês, sutil, repleto de ironia, delicado, às vezes cínico e mordaz:  “o casamento é uma refeição comprida e sem graça onde servem o pudim primeiro.”  A narrativa é uma revisita ao passado, reproduzindo as coisas segundo “algumas lembranças aproximadas que o tempo deformou em certezas.” Tony Webster, “aos sessenta e poucos anos, careca e aposentado,” apresenta o resultado das suas investigações sobre “a fragilidade dos alicerces da memória,”  recorrendo às “lacunas de suas lembranças:  se eu não posso mais ter certeza dos acontecimentos reais, posso ao menos ser fiel às impressões que aqueles fatos deixaram.”  Tony Webster vai abrindo o baú das suas reminiscências, desde o tempo de colégio, inicialmente com os amigos Colin  e Alex e posteriormente incluindo o tímido e brilhante Adrian Finn, que terminou cometendo suicídio ainda jovem.   Do grupo,  Adrian era o único que vinha de lar desfeito, mas nem porisso se queixava de ter um estoque de raiva existencial, dizendo-se amoroso com a mãe e respeitoso com o pai.  Era fã e admirador do autor Camus, que afirmava ser o suicídio a única questão filosófica verdadeira.  Tony Webster refletia: “naquela época nos imaginávamos numa espécie de gaiola, esperando para sermos soltos na vida.  Enquanto isso, tínhamos fome de livros, fome de sexo, éramos meritocratas, anarquistas.”  Na Universidade de Bristol, discutiam com o professor de História, Joe Hunt: “o que é a história, Webster?  História é a mentira dos vitoriosos.  Colin:  história é um sanduíche de cebola crua, senhor.  Ela só se repete, ela arrota.  Adrian Finn:  “história é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas da documentação.“ Tony teve uma namorada complicada, Veronica Mary Elizabeth Ford, que ele imaginava ser virgem porque se recusava a dormir com ele. Foi marcante a visita de Tony à família de Veronica no final de semana,  em que se sentiu fortemente humilhado pelo pai e pelo irmão.  A segunda parte do texto é sobre o período da maturidade, quando se vai descobrindo , por exemplo, que `a medida em que as testemunhas de sua vida vão diminuindo existe menos confirmação, e portanto menos certeza, a respeito do que você é ou foi.”  A narrrativa ganha força e sutilezas, a partir de uma herança inesperada da mãe de Veronica  que faz Tony retomar contato com a ex-namorada e ter revelações sobre Adrian Finn, o amigo brilhante que se suicidou.   O texto é enigmático, atraente, cheio de inquietude.

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