sábado, 12 de março de 2011

Livro - “Mauá”, de autoria de Jorge Caldeira

Brasília, 12 de março de 2011.


Li, somente agora mas com grande envolvimento e interesse, o excelente “Mauá”, de autoria de Jorge Caldeira:  Cia das Letras, 1995, 557 páginas. O autor, nascido em São Paulo (1955), foi editor da Folha de São Paulo e das revistas Isto É e Exame, tendo desenvolvido cuidadosa e ampla pesquisa para elaborar o texto do “Mauá”, importante referência para economistas, executivos e historiadores. A narrativa é forte e sedutora, mostrando com objetividade o caminho percorrido por um pioneiro do Império, o maior e mais curioso empresário da época: Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), barão e visconde de Mauá. As muitas biografias disponíveis sobre Mauá, fortemente inspiradas na sua preciosa “Exposição aos credores”, adotam a estrutura desse documento para explicar a trajetória do empresário, ou seja: a história de Mauá é apresentada como uma sequência natural das histórias de suas empresas. Jorge Caldeira, diferentemente, com grande determinação e esforço de pesquisa e organização, procura fugir desse arranjo e compor uma “visão cronológica global”. Com sucesso, apresenta uma visão além de tudo dinâmica e prazerosa. A cena inicial do texto, com Mauá aos 47 anos de idade, chegando na residência do Rio de Janeiro às quatro horas da tarde e submetendo-se ao assédio rotineiro dos filhos em busca de balas e guloseimas, é emblemática e reveladora do estilo do pai de família e líder. São muitas as revelações do texto, com fortes implicações sobre a história do país, sobretudo no II Império, com D. Pedro II, as armações políticas, as inúmeras guerras no Rio da Prata (Uruguai, Paraguai, Argentina), o tráfico de escravos, o crescimento do comércio, inclusive com o exterior, o florescimento das operações financeiras e cambiais, o nascimento da indústria. Liderando tudo, as iniciativas pioneiras de Mauá, estudioso, autodidata, equilibrado e correto, preocupado com o desenvolvimento e crescimento do Brasil. É mostrada toda a evolução de suas atividades e riqueza: de oficce boy a empresário destacado, com 17 empresas instaladas em seis países (Brasil, Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Inglaterra, França), incluindo bancos, três estradas de ferro, uma grande companhia de navegação, a maior fábrica do país (fundição com 700 operários), empresas de comércio exterior, mineradoras, usinas de gás, fazendas de criação de gado e outras. Em 1867, dispunha de 115 mil contos de réis de ativos (cerca de US$ 60 milhões), em comparação com 97 mil contos de réis do orçamento do Império. Casado aos 27 anos com sobrinha de 15 anos, Maria Joaquina, tiveram 18 filhos. Nas crises e dificuldades empresariais, a grande preocupação de Mauá era preservar o seu nome, assegurando todos os pagamentos aos credores, meta que conduziu até o desenlace da falência, quando recebeu a decisão final de não ser falência criminosa, mas fortuita. “Com 65 anos de idade, cumpria até o fim a promessa de empenhar até a camisa, as botas e o chapéu velho para pagar os credores.” Leitura obrigatória, de qualidade.
O abraço amigo do
Antonio A. Veloso

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